A Polícia Civil de São Paulo finalizou as investigações sobre o caso envolvendo duas estudantes de medicina que gravaram um vídeo zombando de uma jovem paciente transplantada que morreu em fevereiro. O inquérito foi encaminhado à Justiça e, por se tratar de crime de ação penal privada, a continuidade do processo depende de representação formal da família.
Entenda o caso
A investigação foi iniciada após a divulgação de um vídeo nas redes sociais em que as estudantes Thaís Caldeira Soares e Gabrielli Farias de Souza comentavam de forma irônica sobre o estado de saúde de Vitória Chaves da Silva, jovem que faleceu após passar por quatro transplantes ao longo da vida. A paciente estava internada no Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, e morreu em fevereiro deste ano por choque séptico e insuficiência renal crônica.
O conteúdo do vídeo gerou repercussão pública e indignação da família, que denunciou o caso à Polícia Civil. A corporação instaurou inquérito por injúria, e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a mãe da vítima foi orientada a apresentar queixa-crime diretamente à Justiça, como previsto nos casos de ação penal privada.
As estudantes se manifestaram publicamente após a repercussão, afirmando que não tinham intenção de expor ou ofender a paciente e que a gravação foi feita com base em informações divulgadas em ambiente acadêmico. No vídeo original, uma das estudantes comenta: “Essa menina tá achando que tem sete vidas?”, em referência à sequência de transplantes.
Thaís Caldeira Soares e Gabrielli Farias se pronunciaram após repercussão (Vídeo: reprodução/Instagram/@metropoles)
Segundo o advogado Henrique Cataldi, além da injúria, as estudantes podem responder por difamação e violência psicológica contra a mulher, com penas que variam de três meses a dois anos de detenção, além de multa. Cataldi também destaca que a veiculação do conteúdo em rede social amplia o dano e pode levar ao aumento da pena.
Na esfera civil, a família poderá buscar indenização por danos morais, e também há possibilidade de sanções institucionais. Thaís e Gabrielli estudam, respectivamente, na Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo) e na Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), em Minas Gerais. Ambas as instituições se manifestaram lamentando o episódio e informaram que apuram o caso conforme seus regimentos.
Histórico da paciente: doença rara e múltiplos transplantes
Vitória Chaves foi diagnosticada, ainda bebê, com anomalia de Ebstein, uma cardiopatia congênita rara que compromete a função da válvula tricúspide do coração. A condição levou a uma trajetória complexa de tratamentos e cirurgias ao longo da vida.
De acordo com publicações feitas pela própria paciente nas redes sociais, ela foi submetida ao primeiro transplante em 2005. Em 2016, um segundo transplante foi necessário devido a complicações nas veias coronárias. O terceiro procedimento foi realizado em 2024. O vídeo gravado pelas estudantes teria sido feito poucos dias antes de sua morte.
A jovem compartilhava nas redes sua experiência com a doença e a rotina de internações. A exposição do caso gerou debates sobre ética na formação médica e respeito à privacidade de pacientes.
Foto Destaque: estudantes Thaís Caldeira Soares e Gabrielli Farias (Reprodução/Instagram/@metropoles)