Morreu o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, aos 89 anos, nesta terça-feira (13). Ele comandou o país vizinho ao Brasil entre 2010 e 2015 e já enfrentava problemas de saúde há anos.
Em abril de 2024, o próprio Mujica falou que foi diagnosticado com câncer no esôfago, tendo descoberto a doença ao fazer exames ‘check-up’. Em janeiro deste ano, Mujica já tinha revelado que a doença já havia se espalhado por seu corpo, mas que não poderia passar por tratamento médico intensivo, ou mesmo por cirurgia, dado a sua idade avançada.
Em um apelo emocionante, Mujica pediu que não o pedissem entrevistas e o deixassem em paz em sua chácara, nos arredores de Montevidéu, capital do Uruguai, porque ele estava morrendo e seu ciclo estava próximo de acabar.
O atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, que é considerado um pupilo de Mujica, declarou no domingo (11) à imprensa que visitou o ex-presidente e que, de fato, a sua situação de saúde era bastante complicada. Lucía Topolansky, a mulher de Mujica, deu entrevista na segunda (12) e declarou que o marido estava em situação terminal e sob cuidados paliativos para tentar mantê-lo sem dor, capaz de dormir e sem ansiedade.
Uma trajetória inigualável
Pepe Mujica passou doze anos no cárcere (entre 1972 e 1985) durante a ditadura no Uruguai, uma história muito bem retratada no filme “Uma Noite de 12 Anos”, de 2018.
Nascido em 1935, em Montevidéu, onde morou ao longo de toda a vida, começou na política no Partido Nacional, um dos mais tradicionais do Uruguai, onde foi secretário-geral da Juventude. Foi um dos fundadores do principal grupo guerrilheiro do Uruguai, o Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros.
Pepe Mujica enfrentou quatro prisões, sendo notável sua participação em uma fuga em massa de 111 detentos, um evento histórico no Uruguai. Em uma de suas prisões, ele foi baleado pela polícia e quase morreu, com algumas balas permanecendo em seu corpo. Seu período mais longo na prisão foram doze anos.
Com o retorno da democracia ao Uruguai, Mujica iniciou sua trajetória na política partidária, criando o Movimento de Participação Popular (MPP). Eleito deputado e senador, alcançou a presidência em 2009. Seu mandato destacou políticas sociais progressistas, incluindo a legalização do casamento igualitário em 2013 e a regulamentação da produção e comercialização de cannabis.
Presidente Lula em encontros com o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica (Foto: reprodução/DANIEL RAMALHO/ITAMAR AGUIAR/Getty Images Embed)
Pós-presidência e legado
Após deixar a presidência, continuou ativo na política como senador. Sua figura transcende a política uruguaia, sendo um símbolo de integridade, simplicidade e defesa de causas sociais. Ele manteve uma voz influente sobre desigualdade, sustentabilidade e o futuro da política.
A amizade entre Lula e Pepe Mujica é um símbolo de alinhamento ideológico e respeito mútuo, fortalecida por anos de colaboração política. O presidente brasileiro lamentou a morte do ex-presidente uruguaio. Uma nota do Ministério das Relações Exteriores destaca que Pepe Mujica foi um “grande amigo do Brasil”.
Foto Destaque: O ex-presidente do Uruguai, José Mujica, em 26 de março de 2025, em Montevidéu, Uruguai. (Reprodução: Ernesto Ryan/Getty Images Embed)
