Acusado pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de cometer assédios sexual e moral, o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi intimado no sábado, 22, a comparecer à superintendência da Polícia Federal para prestar depoimento na próxima terça-feira, 25. Por determinação do relator do caso e ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, o inquérito foi prorrogado por mais 60 dias na segunda-feira passada,17.
O procedimento já está em andamento desde setembro de 2024, quando a queixa do suposto crime foi feita formalmente pela vítima. Almeida nega peremptoriamente todas as acusações e já chegou a classificá-las como ilações absurdas. Mesmo assim, na época em que o escândalo veio à tona, o presidente Luís Inácio Lula da Silva decidiu afastá-lo imediatamente e publicou uma nota oficial informando que o teor das acusações tornou insustentável manter o então ministro na pasta dos Direitos Humanos.
Quando a ministra Aniele Franco quebrou o silêncio
Conforme publicado pelo “O Globo” em outubro do ano passado, Anielle Franco, irmã da vereadora do PSOL, Marielle Franco, assassinada por razões políticas no Rio em 2018, disse em entrevista ao Jornal que assédio sexual não pode ser tolerado. Ela conta que custou a acreditar que estava vivenciando um assédio logo de um ministro.
A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco em evento pelo Dia da Consciência Negra, no Palácio do Planalto, em 2023 (Foto: reprodução/Evaristo Sá/AFP/Getty Images Embed)
“Foram atitudes desrespeitosas. Não posso entrar muito nos detalhes por conta do depoimento à Polícia Federal, mas aconteceram diversas falas e atitudes que eu repudio. Demorei um pouco para acreditar. E acho que isso foi o que fez com que, quando fui exposta, eu demorasse a me pronunciar. Era uma decepção para mim também. Fiquei pensando por meses: ‘Será que eu errei? Fiz alguma coisa que não deveria ter feito?’. Não de dar condição, mas por onde eu poderia ter cessado esse tipo de relação,” revelou a ministra.
Inquérito e “Me Too Brasil”: mais acusações Silvio Almeida
Como evidência de que este tipo de desrespeito à mulher é mais comum do que se imagina, Anielle contou ainda na entrevista que um grande número de mulheres a havia procurado para compartilhar a mesma situação. “Vivi isso. Estou calada há 40 anos e tomei coragem para falar,” contou uma delas. Segundo a ministra, foi essa realidade que a fez repensar sua posição e que lhe deu coragem de decidir que tinha mesmo de quebrar o silêncio sobre o caso.
A ministra Anielle Franco aguarda a chegada do presidente Lula para cerimônia de inauguração do Congresso Nacional, em 2023 (Foto: reprodução/Mauro Pimentel/AFP/Getty Images Embed)
À medida que os depoimentos foram sendo ouvidos, o caso passou a ganhar novos contornos. Segundo a Polícia Federal (PF), com base nos relatos feitos até o momento, tudo indica que Aniele Franco não foi a única a sofrer as importunações alegadas. Outras mulheres que também deram suas versões à Polícia disseram que foram vítimas de Silvio Almeida. Agora só falta a PF ouvir o ex-ministro para então fazer a conclusão do inquérito.
O então Ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida no ministério, em destaque à direita. De costas, à esquerda, está a ministra de Igualdade Racial Anielle Franco (Foto: reprodução/Ton Molina/Bloomberg/Getty Images Embed)
De acordo com a Coluna Malu Gaspar, do “O Globo”, a ONG “Me Too Brasil” publicou um texto no qual confirma ter recebido denúncias anônimas de mais mulheres que afirmam terem sofrido assédio do ex-ministro. Na nota, a Organização explica que prestou atendimento às supostas vítimas e lhes deu acolhimento psicológico e orientações jurídicas.
Foto destaque: o ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida e o presidente Lula na 5ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília (Reprodução/Marcelo Camargo/Agência Brasil)