O número de mortes causadas pelo calor extremo podem aumentar cinco vezes mais (cerca de 370%) até o ano de 2050, é o que prevê o relatório Lancet Countdown, uma publicação científica que é dedicada para a saúde humana. O relatório também cita que o uso crescente de combustíveis fósseis no mundo ameaça a saúde humana. O estudo, que foi publicado na última terça-feira (14), estimou que mais 525 milhões de pessoas deverão ainda passar por insegurança alimentar moderada ou severa durante esse período.
A pesquisa foi fruto da colaboração de 114 cientistas e 52 centros de pesquisa e agências da ONU ao redor do mundo e eles monitoram os impactos das mudanças climáticas na saúde e publicam o que eles levantaram anualmente na revista científica The Lancet. O estudo identificou que existem “poucos sinais de progresso” desde o ano passado. E também denuncia a “negligência” de governos, grandes empresas e bancos que continuam a investir em combustíveis fósseis (petróleo e gás), apesar de saberem que a mudança de clima pode custar vidas.
Um fracasso evidente
Os autores do estudo fala em um “fracasso” da mudança climática até o momento, além de ser algo que ficou evidente no ano de 2023. Neste ano, as temperaturas globais foram as mais altas dos últimos 100 mil anos, tendo recordes de temperaturas sendo registrados em todos os continentes.
O estudo aponta que as mortes relacionadas ao calor em pessoas com mais 65 anos aumentaram cerca de 85% entre os anos de 2013 até 2022 (em comparação com a década de 1991-2000). Se as temperaturas não tivessem aumentado na média global de 1,14ºC durante esse período, estima-se que ela teria subido em torno de 38% levando em conta apenas as alterações demográficas.
A última segunda-feira (13) ficou marcada como o segundo dia mais quente da história de São Paulo (Foto: divulgação/Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo)
A fome e as doenças infecciosas
O relatório apurou que no ano passado, as pessoas de todas as partes do mundo ficaram expostas a uma média de 86 dias de temperaturas potencialmente fatais. Em possível cenário que o mundo venha a aquecer em mais dois graus celsius até o final deste século (atualmente caminha para ser 2,7ºC), as mortes causadas pelo calor extremo foram projetadas em aumentar cerca de 370% até 2050. Isso representa um aumento de 4,7 vezes mais. O estudo também revelou que mais de 520 milhões de pessoas poderão sofrer com a insegurança alimentar moderada ou grave até o final do século.
Além disso, o estudo revelou que neste período, as doenças infecciosas que são transmitidas por mosquitos continuarão a se espalhar pelo mundo. A transmissão da dengue, por exemplo, pode aumentar em cerca de 36% em um cenário de aquecimento de 2°C. Além disso, mais de um quarto das cidades que foram analisadas pelos pesquisadores afirmaram estar preocupadas com o fato das mudanças climáticas sobrecarregarem sua capacidade de resposta.
Secretário-geral da ONU responde ao relatório
O secretário-geral da ONU, António Guterres, respondeu ao relatório afirmando que a humanidade está diante de um futuro intolerável. Ele também afirmou que "já estamos vendo uma catástrofe humana se desenrolando, com a saúde e os meios de subsistência de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo ameaçados por um calor recorde, secas que provocam perdas de colheitas, níveis crescentes de fome, surtos crescentes de doenças infecciosas e tempestades e inundações mortais”, comentou secretário-geral da ONU por meio de um comunicado.
No mesmo dia que o estudo foi publicado, a ONU alertou que o compromisso atual dos países é de reduzir as emissões globais de carbono em apenas 2% até o ano de 2030 em relação aos níveis apresentados em 2019 - que está muito menor do que os 43% necessários para limitar o aquecimento a 1,5ºC.
Foto Destaque: Pessoas se protejendo do calor enquanto assistiam ao show da banda Imagine Dragons, em Chambord, na França. (Foto: reprodução/AFP)