O cenário econômico nacional depende das relações internas e externas. Crises internacionais influenciam no comportamento econômico brasileiro e empresas deixam de investir em terras nacionais.
De acordo com o professor de economia da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), Fernando Pereira, o contexto internacional é complicado. “São três vertentes a serem analisadas. O desfecho da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que aponta para uma extensão do conflito, sem fim próximo, o que abre portas para mais prejuízos econômicos, principalmente na economia europeia; A pandemia e a possibilidade de descoberta de novas variantes, principalmente na China e a crise econômica arrastada de anos atrás. O crescimento internacional está baixo, em um cenário que chamamos de estagflação, que é a junção do crescimento estagnado e o aumento da inflação. Essa crise econômica se desenha desde antes da pandemia o que aconteceu é que a pandemia e a guerra apenas agravaram a situação, aprofundando o fenômeno de inflação”, disse Fernando.
O Brasil é um país que historicamente depende muito da produção e exportação de commodities, cujo mercado principal na última década é a China, que chegou em seu teto máximo, não atingindo seu ritmo de crescimento dos últimos anos, fato que, de acordo com o especialista, independe da pandemia. “A China por muito tempo foi o país dinamizador da economia internacional, mas agora ela está, praticamente, sozinha no mundo, o mercado norte-americano não consegue crescer na mesma taxa e a Europa está em crise. Não cresce há muito tempo. Esse cenário impacta o Brasil em suas exportações, que sofreram queda na demanda e alteração no preço dos produtos ofertados”, continuou.
Atrelado a essa queda no mercado externo, o mercado interno brasileiro também está em crise. Muitas empresas estão deixando de investir em território nacional. “O mercado interno fraco atrai cada vez menos empresas. E essa questão está atrelada à oferta de emprego e à renda média do trabalhador, que ainda está em patamares comparáveis a renda média de 2012, 2013. Os investimentos privados e públicos devem andar juntos. As empresas esperam uma garantia por parte do governo de que as coisas vão melhorar, para que então elas voltem a investir. Para isso é necessário que o governo estimule a economia, realize investimentos orçamentários e execute políticas de recuperação econômica,” explicou o professor. “Uma estratégia amplamente utilizada por todos os governos a fim de melhorar o dinamismo do mercado interno é oferecer o crédito para consumo à população, mas esse elemento não pode ser utilizado no momento, uma vez que a população vêm utilizando o crédito para comer, para a manutenção básica de vida. As últimas pesquisas mostram que a taxa de endividamento das famílias está em cerca de 80%, sendo que aproximadamente 30% das famílias estão em inadimplência”, finalizou.
Crescimento econômico
Segundo o último relatório Focus do Banco Central, os economistas projetam um crescimento de 0,75% do PIB em 2023 – um leve aumento em relação às projeções vistas um mês atrás (0,70%), mas ainda uma forte desaceleração em comparação ao previsto para este ano, de 3,05%.
Imagem representativa - Economia internacional. (Foto: Reprodução/g1 economia)
Dos 10 países com as maiores participações nas exportações brasileiras em 2021, 8 têm projeção de crescimento para 2023 menor do que para 2022. A média global do crescimento do PIB projetada para 2023 é de 2,7%, frente aos 3,2% projetados para este ano, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Investimentos
O cenário de juros elevados, incertezas domésticas e desaceleração global podem influenciar os investimentos brasileiros em 2023.
De acordo com analistas entrevistados pelo site g1 Economia, a expectativa é que o Banco Central do Brasil (BC) mantenha a taxa básica (Selic) em 13,75%, pelo menos até a metade do próximo ano, o que indica que os títulos de renda fixa – como títulos públicos, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e debêntures, por exemplo – podem ganhar mais espaço na carteira dos investidores.
Enquanto que os investimentos de renda variável, como ações e câmbio, são alvos de cautela, principalmente em frente ao cenário desacelerado da economia mundial e das incertezas que ainda existem no cenário doméstico.
Pontos de atenção para os investidores
De acordo com os analistas entrevistados, o primeiro passo para quem está começando a investir é construir uma reserva de emergência e o ideal é que ela seja equivalente a um valor de seis a doze meses de salário, mas pode variar bastante em cada caso. Esse dinheiro deve ser reservado, de preferência em um investimento líquido (que esteja disponível e possa ser acessado rapidamente) e com baixos risco e volatilidade, e só deve ser utilizado em um momento de emergência, como alternativa para bancar as despesas mensais fixas por um determinado período.
Alternativas interessantes para esse tipo de reserva são os títulos públicos atrelados à Selic ou CDBs e fundos de liquidez diária.
Outro ponto para quem quer começar a investir é traçar seu perfil. Conservador, aqueles que priorizam a proteção do seu patrimônio a altos retornos; moderado, conseguem tolerar um pouco mais de risco em sua carteira, mas ainda sem abrir mão de segurança e arrojados, que são os mais experientes e dispostos a passar por certa volatilidade e até correr o risco de perder o seu patrimônio para ter maior rentabilidade. Conhecer e traçar seu perfil auxiliará na escolha do investimento.
“Momentos de crise só são a melhor hora para comprar ativos baratos para quem está preparado psicologicamente e para quem tem objetivos de mais longo prazo”, afirmou o responsável pela área de alocação de fundos da XP Investimentos, Rodrigo Sgavioli.
Outro especialista afirma que uma boa opção para diminuir o risco da carteira de investimentos é a diversificação, distribuir os recursos investidos entre ativos de renda fixa e variável. Fazer pequenos aportes ao longo do tempo.
Foto destaque: Imagem ilustrativa representando economia e investimento. Reprodução/g1 economia.