O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) revela que a dívida global atingiu um pico de US$ 307,4 trilhões no terceiro trimestre, com a relação dívida/PIB nos mercados emergentes alcançando níveis históricos. Projeções apontam para um aumento para US$ 310 trilhões até o final do ano.
A dívida e as eleições
O alerta é para eleições em 2024 e atritos geopolíticos, destacando a preocupação com empréstimos governamentais e disciplina fiscal em países como Índia, África do Sul, Paquistão e EUA. Os mercados desenvolvidos, liderados por EUA, Japão, França e Reino Unido, e emergentes como China, Índia, Brasil e México, contribuíram para o aumento.
A dívida governamental registrou o maior aumento no terceiro trimestre, com déficits orçamentários persistindo em níveis elevados. O ônus da dívida de famílias e empresas, principalmente na China e EUA, cresce, impactando desde eleições até a transição para a energia limpa. O apetite por empréstimos empresariais está em níveis baixos, ameaçando as perspectivas de financiamento climático e resultando em uma desaceleração notável nas emissões de dívidas relacionadas à governança ambiental e social nos últimos trimestres.
Somado a essas questões, o IFF projeta que uma mudança para governos populistas pode desencadear níveis de dívida ainda mais elevados nos próximos semestres. A polarização política também é um agravante mediante as eleições em mais de 50 países e regiões em 2024, em meio às tensões geopolíticas entre EUA e China e à guerra em Gaza.
O IFF aponta o populismo como um agravante para a dívida global (Foto: Reprodução/Com Ciência/Emma Espejo)
Dívida pública global em 2022
A dívida pública global atingiu um recorde de US$ 92 trilhões em 2022, conforme revelado pelas Nações Unidas. Os países em desenvolvimento, incluindo Brasil, China e Índia, representam 70% dessa dívida, totalizando US$ 1,653 trilhão. Nos países mais desenvolvidos, os Estados Unidos lideram com uma dívida de US$ 30,9 trilhões, seguidos pelo Reino Unido e França. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a crescente dívida prejudica a prosperidade global, destacando que 3,3 bilhões de pessoas vivem em países que gastam mais em pagamentos de juros do que em setores essenciais como educação e saúde.
Guterres enfatizou que essa situação representa um risco para o sistema financeiro global, com a concentração da dívida em países em desenvolvimento. Ele propõe um mecanismo eficaz de liquidação da dívida, incluindo suspensões de pagamento, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas, visando países de renda média. Além disso, a ONU sugere reformas imediatas, como aumento do financiamento para desenvolvimento e clima, alteração do modelo de negócios dos bancos multilaterais de desenvolvimento e promoção do investimento privado acessível para países em desenvolvimento.
O Fundo Monetário Internacional identificou 36 países em situação ou risco de superendividamento, enquanto 16 enfrentam taxas de juros insustentáveis. Problemas graves de dívida, ligados à desigualdade causada pelo sistema financeiro global, afetam 52 países em desenvolvimento, representando 40% do total global. Esses desafios dificultam o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a transição para energias renováveis.
Foto destaque: Dos países desenvolvidos, os EUA líderam a dívida global (Getty Images/Manan Vatsyayana)