Quando se pensa nos maiores nomes do samba, raramente é possível esquecer de citar Martinho da Vila. O músico, que está com seus 86 anos, esteve presente em uma livraria na zona sul do Rio de Janeiro para lançar sua autobiografia, "Martinho da Vida", que conta sua trajetória desde sua infância em Duas Barras, no interior do Rio de Janeiro, até o auge de sua premiada carreira musical.
Martinho da Vida
Pai de oito filhos, avô de dez netos e marido de Cleodimar Corrêa, o personagem Zé Ferreira, destaque desta obra, é o nome do cantor-compositor de sucesso, vascaíno orgulhoso, que viveu defendendo as causas da negritude, sendo adepto de religiões de matriz africana.
A obra contém 13 capítulos que contam algumas das partes importantes de sua vida, como seu primeiro contato com o samba, sua relação com o messianismo, a descoberta de um câncer prostático em 2008 e, principalmente, sua longeva relação com a escola de samba Vila Isabel, da qual é o presidente de honra.
Martinho da Vila no lançamento de seu livro "Martinho da Vida" no Rio de Janeiro (Foto: reprodução/Agnews)
Mart'nália e Martinho
Entre os convidados do lançamento, esteve presente sua filha, a cantora e atriz Mart'nália, que falou com o Lorena.R7 sobre a emoção de ver seu pai lançando seu 21º livro em 2024.
"Eu tenho uma relação maravilhosa com meu pai e sou muito grata pelo que ele faz pela música popular brasileira como cantor e também como escritor. Ele já tem mais de vinte livros lançados, mas agora ele está contando um pouco da história dele, mesmo ele devendo estar omitindo alguma coisa porque não cabe tudo aqui (risos), mas ele conta os detalhes de sua vida minuciosamente e devagarinho para todo mundo pode conhecê-lo, e fico muito feliz e honrada por isso. Disse a artista.
Entrevista com Martinho da Vila
Ao final do evento, o Lorena.R7 conversou com Martinho sobre o lançamento de seu livro e sobre suas últimas facetas musicais, como última premiação no Grammy latino, em 2023, quando foi vencedor. Confira.
Martinho, este é seu vigésimo primeiro livro, mas a primeira autobiografia. Gostaria de saber como é escrever, relembrar e compartilhar com seus leitores os melhores momentos de sua vida e da sua carreira.
"Eu só tenho vontade e vou fazendo (risos), não penso muito no resultado. Sempre que penso em alguma coisa eu vou escrevendo, aí eu pensei em escrever sobre vários momentos da minha vida e as pessoas, por sorte, leram e acabaram gostando também, então fazer o que né? Eu só fico muito feliz.
No final do ano passado, você ganhou o Grammy latino na categoria "Melhor Álbum de Samba ou Pagode" pelo álbum "Negra Ópera". Neste disco, existe uma mistura de orquestra com samba, e você costuma misturar muitos ritmos, a exemplo do show que você fez com o Cidade Negra e o Emicida em 2011. Existe mais algum outro gênero ou estilo que queira explorar?
"Tocar com o Cidade Negra e com o Emicida foi muito bom! Eu gosto muito de variar bastante e tocar com diversas formações diferentes, sabe? Às vezes toco com uma banda bem antiga, ou às vezes encontro um grupo bem jovem, e costumamos fazer shows com uma grande banda e, de vez em quando, um show acústico, só com cavaquinho. Tem vezes que existe 'Martinho, violão e cavaquinho' (risos), então eu gosto de variar. É muito bom tocar com uma grande orquestra sinfônica porque a impressão que dá é que você está dentro da música, é assim que eu me sinto."
Hoje em dia, existe uma nova geração do samba que está vindo com força, principalmente aqui no Rio. Como um veterano experiente, qual o conselho que você daria para quem está iniciando sua jornada rumo a uma promissora carreira musical?
"Para essa minha gente jovem, eu acho que é preciso procurar entender a música, estudar o samba. Quando digo isso, não é preciso apenas ir para a faculdade de música, conservatório nem nada, mas apenas observar, ouvir e procurar entender o seu caminho musical no que você quer seguir. Outra coisa importante é sempre ler cada vez mais, pois a leitura é fundamental para a música e para tudo na vida".
Foto Destaque: Martinho da Vila no lançamento de seu novo livro no Rio de Janeiro (reprodução/AgNews)