No futebol brasileiro, a beira do campo é tão instável quanto a disputa dentro das quatro linhas. A figura do treinador, que em outras partes do mundo é símbolo de longevidade e projeto, aqui costuma ser sinônimo de risco e pressão constante. Não é raro ver clubes trocando de comando duas ou até três vezes em uma única temporada — um reflexo direto da cultura do imediatismo que rege o esporte nacional.
Nesse cenário cada vez mais competitivo e volátil, onde o resultado da próxima rodada pode decidir o destino de um profissional, o futebol se entrelaça com novas formas de consumo e cobrança. O engajamento da torcida, as apostas esportivas e até os fantasy games ajudam a acelerar a pressão por vitórias rápidas — e é nesse contexto que cresce o interesse por ferramentas como o código promocional da Betclic, que refletem o quanto o esporte está inserido em um ecossistema digital e mercadológico.
A urgência por conquistas transforma a posição de treinador em uma das mais instáveis do país. A paciência rareia, os projetos são abandonados pela metade e as consequências disso vão além dos resultados dentro de campo: afetam a formação de jogadores, a identidade dos clubes e o próprio futuro do futebol brasileiro.
A Rotatividade que Define o Calendário
Segundo dados do Observatório do Futebol do CIES (Centro Internacional de Estudos do Esporte), o Brasil é líder mundial em mudanças de treinadores por temporada. Em 2023, por exemplo, apenas 6 dos 20 clubes da Série A mantiveram seus treinadores até o fim do campeonato. A média é de uma troca a cada 15 rodadas, o que inviabiliza qualquer processo de médio prazo.
Essa instabilidade atinge tanto técnicos renomados quanto jovens promessas. Abel Braga, mesmo multicampeão, já foi demitido em meio a campanhas medianas. Técnicos como Zé Ricardo, Thiago Larghi ou Bruno Lage, que chegaram ao país com propostas inovadoras, não resistiram à impaciência estrutural. Muitas vezes, os treinadores são contratados para apagar incêndios, sem um projeto real por trás.
O problema não está apenas na troca, mas no perfil das contratações. Muitos clubes ainda contratam técnicos sem considerar o encaixe tático, o estilo de jogo ou o elenco disponível. Quando os resultados não aparecem imediatamente, a pressão recai sobre o técnico, não sobre a gestão esportiva.
A Comparação com o Cenário Internacional
No futebol europeu, é comum vermos treinadores à frente de projetos longos. Jürgen Klopp esteve no Borussia Dortmund por sete anos, e agora completa quase uma década no Liverpool. Pep Guardiola transformou o Manchester City em uma potência tática com um trabalho de continuidade e investimento inteligente.
Essa cultura de planejamento colide com o modelo brasileiro, que prioriza o curto prazo. Enquanto lá se constrói identidade e constância, aqui se vive de resultados imediatos e soluções emergenciais. Não à toa, técnicos estrangeiros têm se tornado cada vez mais comuns nos clubes brasileiros, como uma tentativa de romper com o ciclo vicioso de apostas apressadas e demissões impulsivas.
A vinda de profissionais como Abel Ferreira, Jorge Jesus, Ramón Díaz e até Vojvoda, do Fortaleza, mostra como a visão externa tem sido valorizada. Em paralelo, treinadores brasileiros com boas ideias acabam se perdendo em meio à instabilidade estrutural.
O Preço da Pressa: Falta de Projeto e Identidade
O maior prejuízo da rotatividade não é a falta de resultados imediatos — é a ausência de identidade. Times que trocam constantemente de técnico acabam também mudando seu estilo de jogo, suas ideias táticas e, muitas vezes, até o perfil de contratações. Isso gera elencos desorganizados, planejamento ineficaz e mais gastos com rescisões contratuais.
Além disso, o desgaste emocional atinge não só os treinadores, mas também os jogadores e a torcida. A falta de continuidade impede o torcedor de se identificar com um trabalho em construção. E, do ponto de vista financeiro, os clubes acumulam prejuízos com salários e multas contratuais de treinadores que sequer completam três meses no cargo.
Com isso, cresce o apelo por um modelo mais responsável e estratégico. A CBF chegou a propor uma limitação no número de demissões por clube, mas a medida foi recebida com ceticismo por parte dos dirigentes, que continuam agindo de forma impulsiva quando os resultados não vêm.
Um Futebol de Projetos ou de Emergências?
A pergunta que fica é: até quando o futebol brasileiro será movido pelo calor do momento? Enquanto clubes insistirem em trocas de comando como resposta automática ao insucesso, será difícil construir projetos consistentes. O sucesso dos técnicos estrangeiros e a dificuldade de renovação entre os brasileiros são sintomas claros de uma cultura que precisa evoluir.
Mais do que copiar modelos de fora, é hora de reavaliar o papel do treinador no Brasil. Um país com tantos talentos não pode continuar desperdiçando oportunidades por falta de visão a longo prazo. Para isso, será necessário mudar não só a gestão dos clubes, mas também a mentalidade coletiva sobre o que significa, de fato, dar tempo ao trabalho.
Foto destaque: Técnico sob Pressão (reprodução/Pexels)