Saiba o que é a Reunião de Líderes da COP30
Encontro em Belém deve apresentar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, criado para recompensar financeiramente países que protegem suas florestas
A Reunião de Chefes de Estado e de Governo da COP30 tem início oficial nesta quinta-feira (6), em Belém (PA), com a presença prevista de mais de cinquenta autoridades máximas de diferentes países. O encontro inaugura a etapa política da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que realizará suas discussões oficiais entre 10 e 21 de novembro.
Diferente de edições anteriores, como as realizadas em Glasgow, em 2021, e em Dubai, em 2023 , a reunião entre líderes ocorre antes do começo formal da conferência. A proposta é permitir que os negociadores técnicos disponham de mais tempo para tratar das decisões complexas sobre mitigação, adaptação e financiamento climático.
Organização e Propósito da Cúpula
O encontro foi articulado pela Presidência brasileira da COP30 e conta com a participação de dirigentes, vice-presidentes e ministros de cerca de 140 nações. O objetivo central é estabelecer um direcionamento político para as tratativas internacionais, sem que sejam tomadas decisões oficiais ou elaborados documentos com força deliberativa.
Embora o evento reúna representantes de todo o mundo, nem todos os países estarão representados por seus presidentes. Os Estados Unidos, por exemplo, não enviaram integrantes de alto escalão, e o presidente Donald Trump não participará da reunião.
Após compromissos bilaterais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a abertura oficial da Cúpula, momento em que também lançará o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF). A iniciativa pretende incentivar políticas de conservação ambiental, além de reforçar compromissos internacionais voltados à erradicação da fome, à redução da desigualdade social e à ampliação do uso de biocombustíveis.
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Belém se torna a capital do país durante a COP30 (Reprodução/Instagram/@curtebelem)
Estrutura do Encontro
A programação da Cúpula se estende por dois dias, com sessões plenárias e três mesas redondas de alto nível.
1. Florestas e Oceanos
Na primeira sessão, o governo brasileiro apresentará oficialmente o TFFF, fundo climático estruturado com base em investimentos de renda fixa. A expectativa é captar aproximadamente 625 bilhões de reais (ou 125 bilhões de dólares), somando aportes de países e fundações a recursos obtidos no mercado financeiro.
O rendimento será direcionado à compensação financeira de nações que mantêm áreas florestais preservadas, priorizando países tropicais como Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo. O projeto destina parte dos recursos a povos indígenas e comunidades locais e veda aplicações ligadas a combustíveis fósseis.
2. Transição Energética
A segunda mesa será voltada à ampliação da produção e do consumo de energias limpas. As metas incluem triplicar a capacidade mundial de fontes renováveis até 2030 e duplicar a eficiência energética global. Outro foco será a consolidação do Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, uma parceria entre Brasil, Itália e Japão, que pretende multiplicar por quatro a geração e utilização de biocombustíveis, biogás, hidrogênio verde e combustíveis sintéticos até 2035.
3. Avaliação do Acordo de Paris e Financiamento Climático
A última sessão discutirá os dez anos do Acordo de Paris e o avanço das metas nacionais até 2025, além da formulação de novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2035. Outro tema será o plano Baku–Belém, apresentado conjuntamente pelas presidências do Azerbaijão (COP29) e do Brasil (COP30). A proposta busca mobilizar cerca de 1,3 trilhão de dólares anuais até 2035, reformulando a estrutura do sistema financeiro internacional voltado ao clima.
Participantes Confirmados
O Itamaraty confirmou a presença de 143 delegações, entre elas 57 lideradas por chefes de Estado ou de governo. Também estarão em Belém ministros das áreas de finanças, meio ambiente e relações exteriores, além de representantes de organismos multilaterais como ONU, Banco Mundial e FMI.
Entre as presenças confirmadas estão os líderes da França, Emmanuel Macron; da África do Sul, Cyril Ramaphosa; e do Reino Unido, Keir Starmer. Também participarão António Costa, presidente do Conselho Europeu; Jonas Gahr Støre, primeiro-ministro da Noruega; William Ruto, presidente do Quênia; e Andrew Holness, chefe de governo da Jamaica.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o príncipe William, representando o rei Charles III, também integram a lista de participantes.
Já entre as ausências estão Donald Trump, Xi Jinping e Javier Milei. O governo dos Estados Unidos optou por não enviar representantes políticos de primeiro escalão, e a China será representada apenas por uma equipe técnica. A Argentina, por sua vez, confirmou que não participará da reunião.
Papel e Significado da Cúpula
A Reunião de Líderes da COP30 não possui função decisória formal. Trata-se de um espaço de diálogo político em que cada chefe de Estado ou de governo apresenta, em tempo limitado, suas prioridades e compromissos climáticos.
Os encontros são organizados em grupos temáticos, tratando de questões essenciais como conservação florestal, uso sustentável dos oceanos, transição energética e financiamento climático. Diplomatas classificam o evento como um termômetro político, destinado a medir o grau de engajamento das nações e a orientar o tom das negociações que ocorrerão ao longo da conferência.
Apesar de não gerar resoluções vinculantes, a Cúpula tem relevância simbólica, pois define o ambiente político e sinaliza a disposição dos governos em avançar em temas centrais como adaptação, descarbonização e apoio financeiro a países em desenvolvimento.
Discursos e Encerramento
Os pronunciamentos de abertura serão feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião do encontro, e pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Espera-se que as falas enfatizem a necessidade de ação imediata diante da crise climática e a importância de transformar compromissos em medidas concretas. Também devem discursar líderes como Jonas Gahr Støre, António Costa e Ding Xuexiang, vice-primeiro-ministro da China.
A Cúpula acontecerá no Parque da Cidade, em Belém, o mesmo espaço que sediará a COP30. As atividades se estendem até sexta-feira (7). O local abriga as chamadas zonas azul e verde, destinadas às negociações oficiais e aos eventos paralelos da conferência.
A escolha da capital paraense é simbólica e estratégica. É a primeira vez que um encontro de líderes climáticos ocorre em plena Amazônia, região central nas discussões sobre sustentabilidade e combate às mudanças climáticas globais.
