Lentes de contato infravermelhas permitem enxergar no escuro até de olhos fechados
Tecnologia desenvolvida por cientistas chineses transforma radiação infravermelha em luz visível e pode revolucionar áreas como segurança, medicina e wearables

Pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hefei, na China, desenvolveram lentes de contato inovadoras capazes de tornar a radiação infravermelha visível aos olhos humanos, inclusive com as pálpebras fechadas. O avanço, publicado recentemente na revista científica Cell, representa um salto significativo na integração entre o corpo humano e as tecnologias sensoriais.
A novidade dispensa os tradicionais e volumosos óculos de visão noturna. Feitas com polímeros flexíveis e nanopartículas de ouro, fluoreto de gadolínio de sódio e íons de metais como érbio e itérbio, as lentes funcionam como dispositivos de conversão ascendente, capazes de transformar a luz infravermelha (entre 800 e 1.600 nanômetros) em luz visível para o olho humano.
Visão infravermelha sem aparelhos
Diferente de tecnologias térmicas utilizadas por animais como cobras e morcegos, que detectam calor sem formar imagens, as lentes chinesas permitem a visualização de formas, padrões e até sinais codificados em infravermelho. A radiação, invisível a olho nu, passa pelas pálpebras e é convertida pelas nanopartículas em estímulos visuais que ativam os fotorreceptores da retina.
Em testes laboratoriais, camundongos e humanos conseguiram identificar símbolos e letras sob luz infravermelha, mesmo com os olhos fechados. Embora a nitidez ainda seja inferior à dos óculos de visão noturna tradicionais, a praticidade das lentes representa uma solução mais leve, portátil e promissora.
Resumo gráfico do estudo (Foto: reprodução/Yaqian Ma et all/Revista Cell 2025)
Potencial para segurança, medicina e wearables
Entre as aplicações previstas estão desde resgates em áreas de baixa visibilidade até procedimentos cirúrgicos de alta precisão, passando por autenticação de documentos com marcas ocultas, uso militar e integração com dispositivos vestíveis inteligentes, os wearables. A capacidade de enxergar luz infravermelha também pode beneficiar pessoas com daltonismo ou deficiência visual parcial.
O projeto ainda enfrenta desafios técnicos, como o aprimoramento da definição visual. Para mitigar a baixa nitidez provocada pelo espalhamento de luz, os cientistas incluíram lentes corretivas adicionais, solução que melhorou a qualidade da imagem. Contudo, a tecnologia ainda não supera os equipamentos convencionais de visão noturna em questão de eficiência.
Futuro promissor
Apesar das limitações, a criação marca um passo importante no caminho para ampliar os sentidos humanos com tecnologia não invasiva. Lentes de contato que enxergam o invisível podem inaugurar uma era na tecnologia de consumo, segurança e acessibilidade, colocando literalmente nos olhos dos usuários a próxima geração da visão aumentada.