Textor rompe com Renato Paiva e expõe divergência de ideias no comando do Botafogo

A curta passagem de Renato Paiva pelo Botafogo chegou ao fim após um desgaste silencioso que, segundo John Textor, dono da SAF alvinegra, foi motivado por uma quebra de princípios. A decisão, comunicada logo após a eliminação no Mundial de Clubes para o Palmeiras, revelou mais do que uma simples insatisfação com os resultados: escancarou um desalinhamento profundo sobre como o time deveria jogar.

Crise de identidade tática

Ao comentar a saída do treinador em entrevista ao podcast britânico TalkSPORT, Textor foi direto: “Ele abandonou aquilo que acreditava”. A crítica do dirigente se refere ao estilo de jogo que Paiva prometera implementar, um modelo posicional, baseado em organização ofensiva e movimentação coordenada. No entanto, de acordo com Textor, o técnico teria recuado em suas convicções diante de pressões externas e adversários mais difíceis.

O estopim teria sido a postura adotada contra o Palmeiras, nas oitavas de final do Mundial. Mesmo após o Botafogo protagonizar uma histórica vitória sobre o Paris Saint-Germain na fase anterior, o desempenho contra o time paulista foi considerado apático e distante do que o clube esperava.

Conversas antes da ruptura

Textor relatou que, antes do jogo decisivo, provocou Paiva ao perguntar qual havia sido o melhor jogo de sua carreira. A resposta foi o duelo contra o PSG, algo que, para o empresário, deveria ser replicado. “Mas o Palmeiras não é o PSG. Era hora de jogar futebol, de assumir protagonismo”, teria dito ao treinador. A conversa, no entanto, não resultou em mudança de postura.

Do outro lado, silêncio e incômodo

Embora ainda não tenha se manifestado amplamente, fontes próximas ao treinador apontam que Paiva não aceitou interferências na escalação e manteve sua linha de trabalho até o fim. A adoção de um esquema com três volantes no Brasileirão, dias antes do Mundial, teria sido um dos pontos de atrito com Textor, que desejava um estilo mais ofensivo.

A demissão aconteceu durante a estadia da delegação nos Estados Unidos, pegando o treinador de surpresa, sem uma reunião formal para discutir seu futuro.

Números e legado

Paiva comandou o Botafogo em 23 partidas oficiais, acumulando 12 vitórias, 3 empates e 8 derrotas. Apesar do desempenho irregular, teve como ponto alto a vitória inédita sobre o PSG em solo internacional, que deu visibilidade ao projeto de SAF liderado por Textor. Porém, para a diretoria, o resultado não compensou a falta de aderência ao estilo desejado.

Novo ciclo: Davide Ancelotti assume

Com a saída de Paiva, o Botafogo anunciou rapidamente a contratação de Davide Ancelotti, filho do técnico multicampeão Carlo Ancelotti. A expectativa é de que o novo comandante implemente uma filosofia mais alinhada ao “Botafogo Way”, como é chamada internamente a proposta de jogo apoiada por Textor, ofensiva, ousada e baseada em construção coletiva.


Imagem do novo treinador do Botafogo e sua comissão técnica (Foto: reprodução/X/@agazetabotafogo)

Uma decisão além do campo

A saída de Renato Paiva não foi apenas uma troca de comando. Foi o fim de uma tentativa de união entre ideias que pareciam compatíveis, mas que, com o tempo, mostraram caminhos opostos. Para Textor, o Botafogo deve ser fiel a um projeto claro de jogo. Para Paiva, a autonomia técnica era inegociável. No meio disso, o torcedor assiste, mais uma vez, a uma reformulação precoce na busca por identidade e resultados.

Renato Paiva encerra trabalho de altos e baixos no Botafogo

Do “céu” da histórica vitória sobre o Paris Saint-Germain, ao “inferno” de uma das piores atuações recentes do Botafogo. Assim foi a reta final de Paiva como treinador do Alvinegro Carioca, após uma frustrante eliminação na Copa do Mundo de Clubes FIFA 2025.

Se a postura mais cautelosa diante dos franceses teve a aprovação de todos (especialmente dos torcedores), dado o poderio ofensivo do adversário, a repetição desse cenário contra um adversário local e nivelado foi tomada como “inaceitável” interna e externamente.

Mas a atuação contra o Palmeiras foi apenas o ponto alto, que tornou a situação do português insustentável diante de John Textor. O investidor norte-americano já mostrava descontentamento com algumas decisões de Paiva, especialmente a insistência no esquema com três volantes e o conservadorismo nos jogos fora do estádio Nilton Santos.

Atuações dentro e fora de casa

O ponto mais crítico do trabalho de Renato Paiva no clube carioca foi, sem dúvidas, a diferença de postura da equipe nos jogos no Nilton Santos para as partidas fora de casa. Em 10 jogos longe dos seus domínios (excluindo os jogos em campo neutro do Mundial), sob comando do português, o Botafogo venceu apenas duas vezes, além de dois empates e seis derrotas. Veja os resultados do Botafogo como visitante, sob comando de Paiva:

  • Palmeiras 0x0 Botafogo;
  • Universidad de Chile 1X0 Botafogo;
  • Bragantino 1X0 Botafogo;
  • Atlético-MG 1X0 Botafogo;
  • Estudiantes 1X0 Botafogo;
  • Bahia 1X0 Botafogo;
  • Carabobo 1X2 Botafogo;
  • Flamengo 0X0 Botafogo;
  • Capital 1X0 Botafogo;
  • Santos 0X1 Botafogo

Uma coincidência em meio a todas as derrotas de Paiva no Alvinegro (incluindo as duas derrotas sofridas no Mundial) foram os placares. Os cariocas nunca foram derrotados por um placar diferente de 1 a 0.

Enquanto isso, jogando em casa, o atual campeão Brasileiro se manteve invicto com o treinador. Foram nove jogos com oito vitórias e um empate. Confira os resultados:

  • Botafogo 2X0 Juventude;
  • Botafogo 2X0 Carabobo;
  • Botafogo 2X2 São Paulo;
  • Botafogo 2X0 Fluminense;
  • Botafogo 4X0 Capital;
  • Botafogo 4X0 Internacional;
  • Botafogo 3X2 Estudiantes;
  • Botafogo 1X0 Universidad de Chile;
  • Botafogo 3X2 Ceará

Copa do Mundo de Clubes

Renato Paiva chegou ao Mundial de Clubes ainda sob desconfiança, especialmente dos torcedores. Apesar das classificações na Libertadores e Copa do Brasil, o futebol apresentado não enchia os olhos do público e de Textor.

De acordo com o jornalista André Rizek, o dirigente já vinha se queixando da forma como Paiva escalava o time constantemente com três volantes, além da utilização de Cuiabano em outra função no campo.

Mas a vitória contra o PSG, de certa forma, amenizou o clima de cobrança que já estava forte do norte-americano com o português. A formação com três volantes foi “compreendida” pela exigência da partida, especialmente na parte física.

Diante do Atlético de Madrid, a escalação foi mantida e, novamente, o contexto do jogo (Botafogo poderia perder por até dois gols de diferença) foi fundamental para a cobrança “passar batida” por Textor.

Mas a atuação muito conservadora contra o Palmeiras (uma equipe considerada do mesmo nível que o Botafogo) somada a eliminação do Mundial (o clube deixou de arrecadar uma quantia significativa com a derrota) foi o ponto final do trabalho de Paiva, para John Textor.


Paiva em sua última coletiva como técnico do Botafogo (Vídeo: Reprodução/YouTube/BotafogoTV)

Renato Paiva deixa o clube com 23 jogos. Foram 12 vitórias, 3 empates e 8 derrotas no total.

Renato Paiva quer vencer e convencer com Botafogo em estreia no Mundial

O treinador português Renato Paiva já definiu o que espera do Botafogo em sua primeira partida na Copa do Mundo de Clubes FIFA 2025. Segundo o comandante, o foco da equipe carioca é conquistar uma vitória e, se possível, ter uma atuação convincente, no Lumen Field Stadium.

Em entrevista coletiva pré-jogo, Paiva destacou as dificuldades que o Alvinegro Carioca deve encontrar no jogo, em Seattle, com o time norte-americano atuando em casa, diante de sua torcida. Além disso, destacou que a ansiedade para a estreia é natural e que todos devem saber lidar com ela, até a bola rolar.

“Vamos aceitar naturalmente (a ansiedade). Quando a bola rolar, acaba tudo que é externo” – afirmou o técnico.

Reforços para a competição

O Botafogo foi o clube brasileiro que mais se movimentou na janela para o Mundial. O Glorioso trouxe cinco reforços e todos viajaram e já estão aptos para estrear.

Artur Cabral, ex-Benfica, foi a contratação mais cara dos cariocas e vai vestir a camisa 98. Além do centroavante, outro nome badalado que chegou para disputar a competição (esse sem custo de transferência) foi o argentino Joaquín Corrêa, que teve passagens por Lazio, Inter de Milão e seleção argentina.


Joaquín Corrêa encontra elenco do Botafogo pela primeira vez (Vídeo: Reprodução/YouTube/BotafogoTV)

Outros nomes que chegaram para reforçar o atual campeão da Libertadores são: o goleiro Christian Loor (que veio do Independiente Del Valle), o zagueiro Kaio Pantaleão (que chegou do Krasnodar) e o meia Álvaro Montoro (que saiu do Vélez).

Dúvida da escalação

Renato Paiva tem apenas uma incerteza para montar a escalação inicial do Botafogo, de olho no duelo contra o Sounders. O meia Savarino retornou da Data FIFA, na qual atuou pela seleção venezuelana, fez apenas um treino com os companheiros e não tem presença confirmada no 11 inicial.

Caso escolha deixar o camisa 10 de General Severiano no banco, Paiva deve promover a entrada do uruguaio Santi Rodríguez na equipe titular. Os cinco reforços devem começar a partida no banco de reservas.

A provável escalação do Botafogo para a estreia no Mundial deve ter: John; Vitinho, Jair, Barboza e Alex Telles; Gregore, Marlon Freitas e Savarino (Santi Rodríguez); Artur, Cuiabano e Igor Jesus.

A bola rola às 23h (de Brasília) no estádio Lumen Field, em Seattle. O duelo entre brasileiros e estadunidenses terá transmissão da TV Globo (em TV aberta), Cazé TV (no YouTube) e SporTV (TV fechada).