Pacientes recorrem à Justiça para garantir acesso ao Ozempic no Brasil

Um cenário relacionado ao Ozempic vem chamando atenção: existem brasileiros que estão recorrendo à Justiça para ter acesso ao medicamento. Solange é uma dessas pessoas, que só teve o tratamento iniciado após uma ação judicial que ainda aguarda sentença, mas uma liminar concedeu a ela a permissão para utilizar o tratamento.

Em entrevista ao g1, a aposentada de 58 anos, que enfrenta diabetes tipo 2, obesidade e doença renal crônica em estágio 3, relatou as dificuldades no tratamento. Após anos controlando a glicemia com medicamentos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ela foi orientada por um médico a interromper o uso da metformina — remédio que utilizava por recomendação do próprio sistema público.

Há um ano, Solange utiliza o Ozempic e, segundo ela, os resultados já são visíveis: “Antes eu tomava dois comprimidos de losartana por dia, agora tomo apenas um. A glicemia está controlada e até a função do rim melhorou.”

Advogada explica melhor o caso

A advogada Luma Ponte, especialista em direito à saúde pública e suplementar, explicou ao g1 como funciona o procedimento na justiça.“Ela tem contraindicação comprovada aos medicamentos do SUS e apresentou laudos médicos e exames completos. São todos requisitos exigidos pela Justiça.”

Situações como essa têm se tornado cada vez mais comuns. Um levantamento da empresa de inteligência jurídica Projuris identificou 445 ações judiciais relacionadas ao tema, das quais 67,2% têm o Sistema Único de Saúde (SUS) como réu.

De acordo com o levantamento, 53% dos pedidos de liminar foram aceitos pela Justiça, garantindo que os pacientes iniciem o tratamento antes da decisão final do processo.


Embalagem do medicamento Ozempic (Foto: Reprodução/X/@mindbpdyislife)

O que é o medicamento Ozempic e como ele ajuda

Ozempic é um medicamento de aplicação semanal, que regula e controla o açúcar no sangue, reduz o apetite e o peso corporal do paciente. Ele pertence à classe dos agonistas dos receptores de GLP-1 (glucagon-likepeptide-1), que é hoje um dos métodos de terapias mais eficientes para diabetes do tipo 2, ajudando o pâncreas a liberar insulina de uma maneira mais eficaz e também reduz a liberação de glucagon, sendo o hormônio responsável por aumentar o açúcar no sangue e ainda atua no sistema nervoso central, promovendo uma sensação de saciedade ao paciente.

O medicamento traz mais qualidade de vida para quem o utiliza. Entretanto, como todo medicamento, deve ser usado somente sob prescrição médica e de modo controlado, para não causar efeitos nocivos à saúde.

Conitec nega inclusão de Wegovy, Saxenda e similares no SUS

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) decidiu, na última quarta-feira (20), não incluir no sistema público os medicamentos à base de semaglutida e liraglutida, princípios ativos das canetas Ozempic, Wegovy e Saxenda, indicadas para o tratamento da obesidade.

Embora aprovados no Brasil, os medicamentos, que custam cerca de R$ 1 mil por caneta, continuarão fora da lista de tratamentos do SUS e restritos à rede privada.

Comissão avalia novos tratamentos

A Conitec é o órgão responsável por decidir a inclusão de tratamentos no SUS. Nesta semana, a comissão analisou dois pedidos: o uso da semaglutida (presente no Wegovy) para obesidade grau II e III em pacientes acima de 45 anos com doença cardiovascular, e o uso da liraglutida (presente no Saxenda) para obesidade associada ao diabetes tipo 2.

Um dos principais argumentos contra a inclusão foi a restrição orçamentária, devido ao alto custo dos medicamentos. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, o valor estimado para atender à demanda dos pacientes do SUS seria de R$ 4,1 bilhões em cinco anos, podendo chegar a R$ 6 bilhões em casos que exigem tratamento contínuo.


Aplicação do medicamento Wegovy, da Novo Nordisk (Foto: reprodução/Steve Christo/Corbis/Getty Images Embed)

Além da questão orçamentária, a comissão destacou que o SUS já oferece a cirurgia bariátrica como alternativa para o tratamento da obesidade.

Produção nacional de canetas

A decisão da Conitec ocorre cerca de duas semanas após o anúncio do Ministério da Saúde sobre a produção nacional de canetas, em parceria com a Fiocruz e a farmacêutica EMS. O objetivo é disponibilizar tratamentos com liraglutida e semaglutida, substâncias usadas no controle da glicose e que também auxiliam no emagrecimento.

Esses medicamentos são aplicados por meio de dispositivos semelhantes às canetas já conhecidas no mercado, como Ozempic e Wegovy. No início do mês, a EMS lançou a Olire, sua própria versão à base de liraglutida, indicada para o tratamento da obesidade e do diabetes.

A produção dos medicamentos em uma instituição pública facilita o processo, pois pode reduzir os custos para o governo. No entanto, ainda será necessária a aprovação prévia da Conitec para que sejam incorporados ao SUS.

Canetas contra obesidade e diabetes com produção 100% brasileira chegam ao mercado

As primeiras canetas injetáveis contra obesidade e diabete, fabricadas integralmente no Brasil, já estão disponíveis para o público. Desenvolvida pela farmacêutica EMS, os medicamentos Olire e Lirux são os primeiros análogos de GLP-1 produzidos aqui no país. Eles têm a liraglutida como princípio ativo, substância que age no corpo para promover a sensação de saciedade e auxiliar na regulação do açúcar no sangue.

Detalhes sobre Olire e Lirux

A caneta Olire é voltada para o tratamento de obesidade e sobrepeso, com potencial de uso para adolescentes a partir de 12 anos. Já a Lirux é focada no controle do diabete tipo 2, indicada para pacientes a partir de 10 anos.

Ambos os medicamentos são administrados por meio de injeções diárias. A dose máxima de Olire é de 3 mg por dia, enquanto a de Lirux é de 1,8 mg por dia, sempre ajustada segundo a orientação médica. Em relação à eficácia, estudos clínicos mostram que a liraglutida pode resultar em uma perda de peso média de 6% em 12 semanas.


Canetas injetáveis para o tratamento para emagrecimento em exposição durante uma coletiva de imprensa em Mumbai, Índia (Foto:  Dhiraj Singh/ Getty Images Embed)

A produção nacional é um dos grandes diferenciais. A EMS investiu mais de R$1 bilhão em uma nova fábrica em Hortolândia (SP), se tornando a primeira fabricante 100% brasileira a entrar no mercado global de análogos de GLP-1. A empresa ressalta que os produtos não são genéricos, mas sim medicamentos inovadores com tecnologia própria, que utilizam peptídeos sintéticos, tornando o processo de produção mais eficiente.

Preços e acessibilidade

A EMS anunciou que os preços de Olire e Lirux são de 10% a 20% mais baixos que os dos medicamentos importados de referência. A embalagem com uma caneta de Olire pode custar a partir de R$ 307,26. Para a dose máxima, três canetas duram 18 dias, com um custo de R$ 760,61.

Inicialmente, foram distribuídas 100 mil canetas de Olire e 50 mil de Lirux em redes de farmácias nas regiões Sul e Sudeste, com planos de expansão gradual. A previsão da empresa é produzir 200 mil canetas ainda em 2025 e mais de 500 mil até agosto de 2026. Além de a produção nacional atender ao mercado interno também tem potencial para exportação, com planos de envio para os EUA e Europa ainda neste ano.

É importante ressaltar que o uso desses medicamentos exige prescrição médica com retenção de receita na farmácia, confirmando a necessidade de um acompanhamento profissional. Embora a liraglutida seja uma ferramenta poderosa, especialistas alertam que o uso indiscriminado pode trazer riscos, e a eficácia depende de um plano de tratamento estruturado que inclui dieta e exercícios físicos. A EMS também tem planos de lançar canetas de semaglutida (princípio ativo de Ozempic e Wegovy) em 2026, após o fim da patente no Brasil, um futuro promissor de concorrência e acessibilidade a estes medicamentos em alta no mercado.

Mounjaro é aprovado pela Anvisa para tratar obesidade

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (9), o uso do medicamento Mounjaro para o tratamento da obesidade. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União.

Conhecida por ser uma alternativa ao Ozempic (semaglutida), a caneta Mounjaro já estava disponível no Brasil desde maio, mas era indicada apenas para pacientes com diabetes tipo 2. Com a nova liberação, o remédio passa a ser autorizado também para o controle da obesidade.

A tirzepatida, substância ativa do Mounjaro, atua na regulação da glicemia e na redução do peso corporal. Segundo a fabricante, é o primeiro medicamento aprovado que age ao mesmo tempo em dois receptores hormonais envolvidos no controle do apetite. A nova aprovação permite que o fármaco seja indicado para pessoas com obesidade, desde que essa condição esteja associada a pelo menos uma comorbidade, como hipertensão, dislipidemia ou apneia do sono.

Como o Mounjaro atua no organismo

O Mounjaro age por meio de dois hormônios naturais: o GIP e o GLP-1. O primeiro estimula a produção de insulina em resposta aos alimentos ingeridos, enquanto o segundo envia sinais ao cérebro indicando saciedade. Essa ação combinada é o que diferencia o Mounjaro de outros medicamentos como Ozempic e Wegovy, que atuam apenas sobre o GLP-1.

Segundo a endocrinologista e metabologista Rachel Giovanella, esse duplo mecanismo permite maior controle da glicemia e redução mais significativa da ingestão alimentar. Além de auxiliar no controle do açúcar no sangue após as refeições, o remédio também retarda o esvaziamento do estômago, promovendo sensação de saciedade e reduzindo o apetite.


Caixas de Mounjaro de 10mg e 15mg (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Imagens Embed)

Benefícios, riscos e efeitos colaterais

Mesmo antes da autorização da Anvisa para o uso no tratamento da obesidade, o Mounjaro já vinha sendo utilizado no Brasil de forma “off-label”, ou seja, fora da indicação original aprovada por pacientes com sobrepeso. A especialista destaca que, enquanto medicamentos como a semaglutida promovem em média uma redução de 15% do peso corporal, a tirzepatida demonstrou resultados ainda mais expressivos: mais da metade dos pacientes em doses mais altas perderam acima de 20% do peso.

Entre os benefícios observados, além do emagrecimento, estão melhor controle da glicemia, redução da pressão arterial e diminuição dos níveis de triglicerídeos. No entanto, a médica alerta que o histórico clínico do paciente deve ser levado em consideração antes de iniciar o tratamento. Pessoas com triglicerídeos muito elevados ou antecedentes de pancreatite, por exemplo, podem ter contraindicações.

Reações adversas como náuseas, constipação, diarreia, refluxo, dor abdominal, cansaço e tontura podem ocorrer durante o uso, embora a médica afirme que os efeitos colaterais tendem a ser mais leves em comparação com outros medicamentos semelhantes. Além de que, a interrupção do uso, pode provocar o retorno do peso perdido e descompensar o controle glicêmico, situação comum em qualquer tratamento crônico.

Preço e dosagens no Brasil

O tratamento com Mounjaro é feito por meio de aplicações semanais com caneta injetável, disponível no Brasil nas dosagens de 2,5 mg e 5 mg, ambas comercializadas em caixas com quatro unidades.

Os preços variam conforme a dose, o canal de compra e a participação no programa da fabricante Lilly. Para a dose de 2,5 mg, o valor é de R$ 1.406,75 no e-commerce da farmacêutica, R$ 1.506,76 em lojas físicas conveniadas ao programa e R$ 1.907,29 fora do programa. Já a versão de 5 mg custa R$ 1.759,64 online pelo programa Lilly, R$ 1.859,65 em pontos físicos participantes e R$ 2.384,34 quando adquirida sem desconto.