Cinebiografia de Michael Jackson enfrenta regravações e polêmicas

A aguardada cinebiografia Michael, que retratará a vida de Michael Jackson, não chegará aos cinemas tão cedo. A Lionsgate e a Universal Pictures confirmaram oficialmente que o lançamento foi adiado para 24 de abril de 2026. Esta é a terceira vez que o projeto muda de data — originalmente previsto para abril de 2025 e depois para outubro do mesmo ano e a nova mudança revela os bastidores conturbados de uma das produções musicais mais ambiciosas do século.

Com direção de Antoine Fuqua (Dia de Treinamento, O Protetor) e produção de Graham King (Bohemian Rhapsody), o longa enfrenta desafios de diferentes frentes: do tamanho excessivo do corte inicial (com mais de 3h30 de duração) às delicadas disputas jurídicas envolvendo o espólio de Michael e episódios controversos de sua vida pessoal.

Um filme que não cabe em si mesmo

Segundo o “Deadline” e “Variety”, um dos grandes problemas enfrentados pela produção foi o conteúdo do terceiro ato, que originalmente traria referências ao caso Jordan Chandler — jovem que acusou o cantor de abuso sexual em 1993. Embora Michael tenha feito um acordo judicial de US$ 24 milhões com a família, o espólio do cantor teria exigido a remoção completa do caso do roteiro, o que forçou novas filmagens e ajustes de narrativa.

Essas alterações levaram a 22 dias adicionais de gravação, com locações em Indiana, Neverland Ranch e Santa Bárbara. O resultado, levou o  filme a ultrapassar os US$ 155 milhões de orçamento, tornando-se uma das cinebiografias mais caras da história recente, e os produtores agora avaliam dividi-lo em dois longas, de modo a dar conta do material já captado e das complexidades da história.


Entrada do iconico Neverland Ranch de Michael onde foram gravadas algumas cenas (Foto: Reprodução/The Finest Residences)

“Quando se olha para o legado musical e artístico de Michael Jackson, fica difícil imaginar tudo isso comprimido em um único filme”, afirmou Adam Fogelson, executivo da Lionsgate, durante conferência com investidores. Segundo ele, a decisão final será anunciada “nas próximas semanas”, mas tudo indica que o projeto será reestruturado em duas partes.

Jaafar Jackson: sangue e legado

No centro do projeto está Jaafar Jackson, sobrinho de Michael, que interpreta o astro do pop em sua estreia como ator. A escolha do parente direto causou um verdadeiro alvoroço desde o começo da produção, especialmente por causa da impressionante semelhança física e corporal entre os dois. Jaafar vem sendo elogiado por sua dedicação ao papel: passou meses em preparação vocal, corporal e emocional com a mesma equipe que trabalhou com Michael nos anos 1990 e 2000.


Jaafar Jackson como Michael em imagem oficial (Foto: Reprodução/Lionsgate)

O elenco ainda inclui Colman Domingo (indicado ao Oscar por Sing Sing) como Joe Jackson, Miles Teller como o controverso empresário John Branca, Kat Graham como Diana Ross e Kendrick Sampson no papel do produtor Quincy Jones. A direção de arte promete reconstruções de alta fidelidade da era Motown, dos bastidores de clipes icônicos e das turnês globais do cantor.

O peso de retratar um mito

A promessa da equipe é entregar um retrato “honesto, fascinante e equilibrado” da vida do artista,  algo que, na prática, parece ser mais fácil dizer do que fazer. Michael Jackson não foi apenas um dos artistas mais famosos do mundo; ele também foi um personagem marcado por controvérsias profundas, afetos extremos e uma imagem pública que oscilou do gênio incompreendido ao acusado sem defesa.

Esse peso simbólico faz de Michael mais do que uma cinebiografia. Trata-se de um projeto que tenta resgatar, reinterpretar e até proteger um dos legados mais polarizadores do século XX. A delicadeza do tema — e os riscos financeiros envolvidos — explicam o controle ferrenho do espólio sobre o que pode ou não entrar na narrativa.


Trailer oficial de Leaving Neverland (Vídeo: Reprodução/YouTube/Rotten Tomatoes TV)

Além disso, as críticas já começam a aparecer mesmo antes do filme ser lançado. O documentarista Dan Reed, que dirigiu Leaving Neverland e expôs os abusos cometidos por Jackson, declarou que o filme “vai glorificar um homem que estuprou crianças”. A comparação entre essa narrativa documental e a versão oficial, que é gerida pelos herdeiros do cantor, pode dar origem a debates fervorosos na estreia, reacendendo discussões públicas que marcaram os últimos anos da vida de Michael.

O futuro da cinebiografia musical

O adiamento de Michael lança uma nova luz sobre o que está acontecendo com as cinebiografias musicais em Hollywood. Após o sucesso de filmes como Bohemian Rhapsody, Rocketman, Elvis e Maestro, o gênero está em um verdadeiro renascimento e a pressão para superar os que vieram antes só cresce.

Michael traz uma complexidade que o distingue: ao contrário de Freddie Mercury ou Elton John, que tiveram suas imagens públicas mais simplificadas ou até redimidas ao longo do tempo, Michael Jackson continua a ser uma figura polêmica. Retratar essa ambiguidade, ao mesmo tempo em que se faz um filme que funcione no mercado, exige que a produção encontre um equilíbrio sutil entre arte, legado e a narrativa institucional.

E é por isso que, mesmo com o adiamento, a expectativa continua nas alturas. O que está em jogo vai muito além de um simples filme; trata-se de uma verdadeira reconstrução cultural. Se conseguir encontrar o equilíbrio entre sensibilidade, espetáculo e verdade, Michael pode se transformar não só em um grande sucesso de bilheteira, mas também em um documento emocional e histórico sobre o artista que revolucionou o pop — e que, mesmo após sua morte, ainda brilha no coração da cultura mundial.

 

Paris Jackson revive conflito familiar na disputa pela herança de Michael Jackson

Paris Jackson, filha do icônico cantor Michael Jackson, entrou com uma nova disputa judicial ao contestar supostos “pagamentos irregulares” feitos pelo espólio de seu pai. Em uma objeção formal apresentada à Justiça dos Estados Unidos, Paris questiona o pagamento de honorários advocatícios referentes a 2018, realizados pelos executores do espólio — os conhecidos John Branca e John McClain.

Processo

No processo, a jovem de 27 anos aponta que, durante apenas seis meses daquele ano, os executores requisitaram ao tribunal cerca de US$ 625 mil em pagamentos a três escritórios, sem apresentar registros das horas trabalhadas. Paris acusa os responsáveis de aprovar valores generosos — descritos pela sua equipe jurídica como “pagamentos premium” — sem justificativa ou documentação adequada.


Michael Jackson com seus três filhos (Foto: reprodução/Instagram/@princejackson)

A petição judicial expressa profunda preocupação com a falta de transparência e a morosidade nas respostas do espólio. “Mesmo com várias perguntas feitas pelo Tribunal, os executores não ofereceram explicações satisfatórias para o atraso”, afirmam os advogados de Paris. Além de declarar que não houve nenhum tipo de tentativa de resolver essa problemática.

Além disso, os defensores alegam que tais pagamentos parecem ser “generosidades extravagantes” destinadas a advogados já bem remunerados, colocando em dúvida a capacidade da administração do espólio de controlar e supervisionar adequadamente os gastos.

Bens de Jackson

Esse movimento acontece em um contexto delicado de gestão dos bens de Michael Jackson. Desde a morte do cantor, em 2009, o espólio — que inclui seus três filhos (Paris, Prince e Bigi) e sua mãe, Katherine — esteve envolvido em disputas judiciais e fiscais. Em 2023, por exemplo, foi autorizada a venda de parte do catálogo musical de MJ à Sony Music em uma transação estimada em US$ 600 milhões, medida contestada por Katherine.

Além das controvérsias sobre venda de ativos, o espólio enfrenta um imbróglio fiscal com o IRS (Receita Federal dos EUA), que questiona a avaliação dos ativos do cantor. Isso resultou na liberação parcial dos fundos, obrigando os beneficiários a receberem apenas avanços mensais enquanto o litígio continua.

Paris Jackson possui um patrimônio estimado em torno de US$ 100 milhões, derivado de sua herança, carreira musical, trabalhos como modelo e participações em projetos audiovisuais. Com essa nova disputa, ela busca trazer maior clareza e responsabilidade à administração do legado deixado por seu pai — um passo importante em direção à transparência e prestação de contas.

O desfecho desse processo ainda é incerto, mas poderá trazer consequências para a forma como grandes espólios são administrados e fiscalizados. Novos detalhes podem surgir nas próximas semanas, à medida que os tribunais analisam essa objeção.