Cinebiografia de Michael Jackson enfrenta regravações e polêmicas

Produção estrelada por Jaafar Jackson passa por reestruturação e pode ser dividida em dois filmes; produção já consumiu mais de US$ 150 milhões

24 jul, 2025
Michael Jackson | Reprodução/ Wikimedia Commons
Michael Jackson | Reprodução/ Wikimedia Commons

A aguardada cinebiografia Michael, que retratará a vida de Michael Jackson, não chegará aos cinemas tão cedo. A Lionsgate e a Universal Pictures confirmaram oficialmente que o lançamento foi adiado para 24 de abril de 2026. Esta é a terceira vez que o projeto muda de data — originalmente previsto para abril de 2025 e depois para outubro do mesmo ano e a nova mudança revela os bastidores conturbados de uma das produções musicais mais ambiciosas do século.

Com direção de Antoine Fuqua (Dia de Treinamento, O Protetor) e produção de Graham King (Bohemian Rhapsody), o longa enfrenta desafios de diferentes frentes: do tamanho excessivo do corte inicial (com mais de 3h30 de duração) às delicadas disputas jurídicas envolvendo o espólio de Michael e episódios controversos de sua vida pessoal.

Um filme que não cabe em si mesmo

Segundo o “Deadline” e “Variety”, um dos grandes problemas enfrentados pela produção foi o conteúdo do terceiro ato, que originalmente traria referências ao caso Jordan Chandler — jovem que acusou o cantor de abuso sexual em 1993. Embora Michael tenha feito um acordo judicial de US$ 24 milhões com a família, o espólio do cantor teria exigido a remoção completa do caso do roteiro, o que forçou novas filmagens e ajustes de narrativa.

Essas alterações levaram a 22 dias adicionais de gravação, com locações em Indiana, Neverland Ranch e Santa Bárbara. O resultado, levou o  filme a ultrapassar os US$ 155 milhões de orçamento, tornando-se uma das cinebiografias mais caras da história recente, e os produtores agora avaliam dividi-lo em dois longas, de modo a dar conta do material já captado e das complexidades da história.


Neverland Ranch, Former Home of Michael Jackson, Listed $100M

Entrada do iconico Neverland Ranch de Michael onde foram gravadas algumas cenas (Foto: Reprodução/The Finest Residences)

“Quando se olha para o legado musical e artístico de Michael Jackson, fica difícil imaginar tudo isso comprimido em um único filme”, afirmou Adam Fogelson, executivo da Lionsgate, durante conferência com investidores. Segundo ele, a decisão final será anunciada “nas próximas semanas”, mas tudo indica que o projeto será reestruturado em duas partes.

Jaafar Jackson: sangue e legado

No centro do projeto está Jaafar Jackson, sobrinho de Michael, que interpreta o astro do pop em sua estreia como ator. A escolha do parente direto causou um verdadeiro alvoroço desde o começo da produção, especialmente por causa da impressionante semelhança física e corporal entre os dois. Jaafar vem sendo elogiado por sua dedicação ao papel: passou meses em preparação vocal, corporal e emocional com a mesma equipe que trabalhou com Michael nos anos 1990 e 2000.


Jaafar Jackson como Michael em imagem oficial (Foto: Reprodução/Lionsgate)

O elenco ainda inclui Colman Domingo (indicado ao Oscar por Sing Sing) como Joe Jackson, Miles Teller como o controverso empresário John Branca, Kat Graham como Diana Ross e Kendrick Sampson no papel do produtor Quincy Jones. A direção de arte promete reconstruções de alta fidelidade da era Motown, dos bastidores de clipes icônicos e das turnês globais do cantor.

O peso de retratar um mito

A promessa da equipe é entregar um retrato “honesto, fascinante e equilibrado” da vida do artista,  algo que, na prática, parece ser mais fácil dizer do que fazer. Michael Jackson não foi apenas um dos artistas mais famosos do mundo; ele também foi um personagem marcado por controvérsias profundas, afetos extremos e uma imagem pública que oscilou do gênio incompreendido ao acusado sem defesa.

Esse peso simbólico faz de Michael mais do que uma cinebiografia. Trata-se de um projeto que tenta resgatar, reinterpretar e até proteger um dos legados mais polarizadores do século XX. A delicadeza do tema — e os riscos financeiros envolvidos — explicam o controle ferrenho do espólio sobre o que pode ou não entrar na narrativa.


Trailer oficial de Leaving Neverland (Vídeo: Reprodução/YouTube/Rotten Tomatoes TV)

Além disso, as críticas já começam a aparecer mesmo antes do filme ser lançado. O documentarista Dan Reed, que dirigiu Leaving Neverland e expôs os abusos cometidos por Jackson, declarou que o filme “vai glorificar um homem que estuprou crianças”. A comparação entre essa narrativa documental e a versão oficial, que é gerida pelos herdeiros do cantor, pode dar origem a debates fervorosos na estreia, reacendendo discussões públicas que marcaram os últimos anos da vida de Michael.

O futuro da cinebiografia musical

O adiamento de Michael lança uma nova luz sobre o que está acontecendo com as cinebiografias musicais em Hollywood. Após o sucesso de filmes como Bohemian Rhapsody, Rocketman, Elvis e Maestro, o gênero está em um verdadeiro renascimento e a pressão para superar os que vieram antes só cresce.

Michael traz uma complexidade que o distingue: ao contrário de Freddie Mercury ou Elton John, que tiveram suas imagens públicas mais simplificadas ou até redimidas ao longo do tempo, Michael Jackson continua a ser uma figura polêmica. Retratar essa ambiguidade, ao mesmo tempo em que se faz um filme que funcione no mercado, exige que a produção encontre um equilíbrio sutil entre arte, legado e a narrativa institucional.

E é por isso que, mesmo com o adiamento, a expectativa continua nas alturas. O que está em jogo vai muito além de um simples filme; trata-se de uma verdadeira reconstrução cultural. Se conseguir encontrar o equilíbrio entre sensibilidade, espetáculo e verdade, Michael pode se transformar não só em um grande sucesso de bilheteira, mas também em um documento emocional e histórico sobre o artista que revolucionou o pop — e que, mesmo após sua morte, ainda brilha no coração da cultura mundial.

 

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