Lula pede pelo fim do tarifaço e das sanções contra autoridades em conversa com Trump

A diplomacia entre Brasil e Estados Unidos deu um passo significativo na última segunda-feira (6 de outubro de 2025), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um telefonema do presidente americano, Donald Trump.

O diálogo, por videoconferência, durou cerca de 30 minutos e foi descrito como “amigável” e “extraordinariamente bom” por ambos os lados.

Lula celebrou a “excelente química” entre os líderes, que já haviam tido um breve encontro na Assembleia Geral da ONU em setembro. O foco principal da conversa foi a economia e o comércio, com o lado brasileiro buscando resolver rapidamente as barreiras impostas por Washington.

​O pedido direto de Lula pelo fim das restrições

​O presidente Lula utilizou a conversa para abordar a principal fonte de atrito: as tarifas punitivas impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros. Ele solicitou formalmente a retirada da sobretaxa de 40%, que se somou a uma tarifa existente de 10%, totalizando 50% em muitas exportações.

​As tarifas foram impostas em julho de 2025 por Trump, que as justificou como retaliação a o que chamou de “caça às bruxas” contra seu aliado político, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Lula garantiu, no entanto, que o tema Bolsonaro e o recente julgamento que o condenou não foram mencionados diretamente na chamada, classificando a sanção original como um “equívoco”.

​Além das tarifas, o presidente brasileiro pediu o levantamento de sanções que foram aplicadas contra autoridades de alto escalão do Brasil. Para o Planalto, as sanções representam um obstáculo nas relações diplomáticas.

​Trump delega negociações a Marco Rubio

​Apesar do tom cordial, Trump não respondeu diretamente aos pedidos de Lula. Em vez disso, ele designou o secretário de Estado, Marco Rubio, como o principal interlocutor americano para dar seguimento às negociações.


Marco Rubio, Secretário de estado dos Estados Unidos (Foto: reprodução/Sean Gallup/Getty Images Embed)

​Rubio é conhecido por sua postura crítica a regimes de esquerda na América Latina, o que gerou ceticismo entre diplomatas brasileiros. O governo americano escalou também Christopher Landau, vice de Rubio e fluente em português e espanhol, para apoiar a equipe de negociação. Pelo lado brasileiro, o grupo de trabalho será liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e contará com o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Otimismo brasileiro e os próximos passos

​Trump expressou publicamente que gostou da conversa e que os países “se darão muito bem juntos”, prometendo que “vão começar a fazer negócios”. Lula, por sua vez, disse que o objetivo é um “jogo de ganha-ganha” para ambas as nações.

​Os líderes concordaram em se encontrar pessoalmente em breve e trocaram telefones pessoais para comunicação direta. As sugestões de Lula para o encontro incluem a Cúpula da Asean, na Malásia, no final do mês, e a COP30 em Belém, em novembro, evento para o qual reforçou o convite a Trump.

​O ministro Haddad classificou a reunião como “positiva” e demonstrou “determinação” em “virar a página” das tensões recentes, sinalizando a possibilidade de conversas com o indicado de Trump para o Tesouro, Scott Bessent, já na próxima semana. O vice-presidente Alckmin resumiu o sentimento: “Foi muito boa a conversa. Melhor até do que esperávamos.”

 

Marco Rubio afirma que condenação de Bolsonaro terá resposta dos EUA

Em entrevista concedida nesta segunda-feira (15), o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou que os EUA responderão rapidamente à condenação do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), que foi condenado na última quinta-feira (11) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Sem dar mais detalhes a respeito das medidas que serão tomadas pelo governo americano, Rubio afirmou que o anúncio será feito na próxima semana, e ainda aproveitou o espaço para tecer críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Donald Trump e outros membros do governo dos EUA também se manifestaram sobre o caso.

Resposta americana à condenação de Bolsonaro

Em entrevista à Fox News, o secretário de Estado dos EUA afirmou que Bolsonaro foi alvo de perseguição pelos ministros do STF, classificando-os como “juízes ativistas”. Rubio garantiu que haverá uma resposta por parte do governo americano à condenação de Bolsonaro, que será anunciada na próxima semana.

Rubio já havia se manifestado a respeito da condenação do ex-presidente brasileiro na última quinta-feira, dia em que o julgamento dos oito réus por tentativa de golpe de Estado foi finalizado. Na ocasião, o membro do governo de Donald Trump prometeu que os EUA responderão a essa “caça às bruxas” de maneira adequada.

A medida não seria uma novidade, uma vez que no início de agosto, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto que determinava a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A decisão se deu por conta da insatisfação do governo americano nos rumos que a investigação contra Bolsonaro tomava. Com a condenação do ex-presidente brasileiro decretada, Rubio promete investir ainda mais na política de sanções contra o Brasil.


Bolsonaro durante ida ao hospital para realização de exames no último domingo (14) (Foto: reprodução/Sergio Lima/AFP/Getty Images Embed)

Membros da Casa Branca reagem ao julgamento de Bolsonaro

Além de Rubio, Trump também se manifestou a respeito da condenação de Bolsonaro. O presidente dos EUA se disse insatisfeito e classificou como “terrível” a punição contra o ex-presidente brasileiro. O republicano ainda comparou o caso de Bolsonaro com os processos judiciais que o próprio Trump enfrentou antes de ser eleito pela segunda vez, mas disse que “seus algozes” não obtiveram sucesso.

Outro que também reagiu ao julgamento de Bolsonaro foi o vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, que afirmou que a relação entre os governos brasileiro e americano está no ponto mais sombrio nos últimos tempos.

Além de Bolsonaro, outros sete réus por tentativa de golpe de Estado foram condenados na última quinta-feira pela Primeira Turma do STF. Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira, e Braga Netto, tiveram suas respectivas prisões decretadas pela Suprema Corte do Brasil.

EUA suspendem vistos para moradores de Gaza

Em entrevista concedida no último domingo (17), o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou que o Departamento de Estado do país cancelou os vistos de visitante para moradores de Gaza.

O motivo da decisão se deve ao fato de que os EUA tiveram ciência que algumas organizações responsáveis por disponibilizar os vistos para imigrantes palestinos teriam ligações estreitas com o grupo terrorista Hamas.

Ameaça ao país

Em uma publicação realizada na rede social “X” no último sábado (16), o Departamento de Estado dos EUA havia anunciado que suspendeu todos os vistos de visitante para pessoas de Gaza no momento em que revisa o processo que concede a entrada no país de modo temporário. No dia seguinte, Rubio disse, em entrevista a uma emissora local, que vários gabinetes do Congresso americano apresentaram evidências sobre o risco que os EUA corriam ao receber visitantes palestinos.

Laura Loomer, aliada de Trump, solicitou os créditos pela suspensão dos vistos após alegar que as famílias de Gaza que adentram o território americano ameaça a segurança do país. Loomer teceu críticas ao Heal Palestine, organização norte-americana que se dedica a prover ajuda a palestinos, com o transporte de crianças com ferimentos, desnutrição, e traumas psicológicos para serem atendidas nos EUA. De acordo com dados do grupo, 148 pessoas, incluindo 63 crianças, já foram submetidas a cuidados da organização.


Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA (Foto: reprodução/Aaron Schwartz/CNP/Bloomberg/Getty Images Embed)

Críticas ao governo

O Heal Palestine criticou a decisão anunciada pelo Departamento de Estado norte-americano no último fim de semana. Em nota, o grupo afirma que a iniciativa da mesma é tratar de pessoas feridas em Gaza e não um programa de reassentamento de refugiados.

Em contrapartida, Rubio disse que, embora um número pequeno de vistos são concedidos a crianças, as mesmas entram nos EUA acompanhadas por adultos, afirmando ainda que o programa será pausado para avaliar de que maneira os vistos estão sendo aprovados. Os EUA, até 2025, emitiram quase 4 mil vistos para pessoas, de Gaza e demais regiões da Palestina.