Juíza barra publicação de arquivos do caso Epstein

Uma juíza federal do estado da Flórida, Robin Rosenberg, negou nesta quarta-feira (23) o pedido feito pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos para divulgar os registros secretos do grande júri relacionados ao caso Jeffrey Epstein, investigado entre 2005 e 2007.

A solicitação havia sido motivada por um compromisso assumido pelo então presidente Donald Trump em aumentar a transparência em relação aos supostos vínculos entre Epstein e figuras poderosas. No entanto, segundo o tribunal, a legislação vigente não permite a liberação desses documentos, já que não foram apresentados argumentos que justificassem exceções ao sigilo do grande júri, conforme exigem as normas do 11º Circuito de Apelações dos EUA.


Trump foi visado de sua menção nos arquivos Epstein (Vídeo: reprodução/YouTube/Joven Pan)

Os procuradores haviam argumentado que o interesse público justificava a divulgação dos depoimentos, citando acusações graves de tráfico sexual e pedofilia envolvendo Epstein. A juíza Rosenberg, porém, concluiu que tais alegações não atendem aos critérios legais para quebrar o sigilo. Com isso, os arquivos permanecerão sob restrição judicial. A decisão pode ser contestada pela administração Trump, que ainda tem recurso pendente em tribunais superiores.

Tensão política e nos tribunais

O caso ganhou contornos políticos sensíveis recentemente, à medida que o presidente Trump e sua base chegaram a tentar excluir os arquivos sobre o escândalo Epstein. A divulgação de que o nome de Trump aparece em documentos do Departamento de Justiça aumentou a pressão pública, embora as autoridades afirmem que não há elementos que indiquem crime ou culpa. A Casa Branca classificou os pedidos como descabidos e reforçou que qualquer menção ao ex-presidente trata-se de contexto investigativo, sem implicações criminais.


Trump está na lista Epstein (Vídeo: reprodução/X/@globonews)

Em paralelo, membros do Congresso, especialmente da Câmara, avançaram com uma comissão que já aprovou, por 8 votos a 2, uma convocação de documentos do DOJ relacionados a Epstein, além de notificar Ghislaine Maxwell, ex-companheira de Epstein, para depor. As resistências internas refletem divisões partidárias em torno da questão, com alguns republicanos apoiando a transparência e outros tratando o tema como campanha política.

Contexto e limites legais

O caso Jeffrey Epstein ganhou enorme repercussão global, e seu fim em 2019 reacendeu debates sobre privilégios e impunidade das pessoas influentes que frequentavam o círculo do magnata. Investigadores apontam que as regras de grande júri, que mantêm sigilo absoluto, só permitem exceções em situações especiais, como risco à vida de informantes ou evidências de má conduta judicial, critérios que, segundo a juíza Rosenberg, não foram atendidos neste caso específico.

Além da Flórida, existem outras solicitações de liberação de documentos pendentes em Nova York, ligadas ao processo que culminou na condenação de Maxwell por tráfico de menores. Analistas jurídicos afirmam que, mesmo que alguns registros sejam liberados, é pouco provável que tragam revelações surpreendentes, já que os grandes júris geralmente concentram-se em acusações iniciais, sem detalhar toda a investigação.

FBI investiga venda de quadro após golpe com nome de Lady Gaga

A artista visual britânica americana, Emma Webster, de 36 anos, teve uma surpresa amarga ao descobrir que a suposta venda de uma de suas obras para a cantora Lady Gaga, realizada em 2022, foi na verdade um grande golpe sofisticado. A fraude, que envolveu e-mails falsos, uso indevido de imagem da cantora e uma transação de US$ 55 mil, agora está sendo investigada pelo FBI.

O caso ganhou repercussão internacional após a pintura, uma tela de grandes dimensões chamada “Happy Valley”, reaparecer em um catálogo da casa de leilões Christie’s, em Hong Kong. Intrigada com o anúncio da casa de leilões, a artista prontamente entrou em contato com o atual empresário de Gaga, que rapidamente confirmou que a cantora jamais teria realizado a tal compra. Foi assim que Emma descobriu que havia sido vítima de um golpe envolvendo falsificação de identidade e também movimentação internacional de obras de arte.

Processo fraudulento de compra

Ainda em 2022, quando Emma, ainda em ascensão no circuito artístico após três exposições bem-sucedidas, recebeu um e-mail assinado por “Stefani Germanotta”, o nome verdadeiro de Lady Gaga. A remetente se dizia uma grande fã de sua obra e demonstrava muito interesse em adquirir uma pintura para sua coleção pessoal, citando até outras artistas como “Yayoi Kusama” e “Louise Bourgeois”. O e-mail vinha de um endereço que fazia alusão aos cachorros da cantora.

A comunicação parecia convincente: o tom pessoal, os elogios ao trabalho da artista e, sobretudo, uma selfie de Gaga vestindo suéter cinza e óculos escuros, enviada como “confirmação de identidade”. Após negociar um desconto, Emma vendeu “Happy Valley” por US$ 55 mil. O valor foi pago integralmente, e a pintura enviada para um endereço em Los Angeles.

O suposto comprador ainda prometeu que a obra não seria revendida por ao menos cinco anos, um pedido comum entre artistas que buscam proteger o valor simbólico de seu trabalho no mercado. Ao longo desse tempo, tudo acabou fazendo com que a artista achasse que estava lidando realmente com uma potencial cliente.

Fim da farsa e a reviravolta

A fraude veio à tona apenas em 2024, quando o pai de Emma reconheceu a obra “Happy Valley” em uma postagem da Christie’s, que anunciava a pintura como o destaque de um leilão em Hong Kong. Ele rapidamente ligou para sua filha, e a artista entrou em contato com o empresário de Lady Gaga, Bobby Campbell, que desmentiu tal compra o mais rápido possível. “Ela realmente não tem esse e-mail, e ninguém com o nome que você forneceu está envolvido conosco de forma alguma.”, afirmou ele.


Obra "Happy Valley" de Emma Webster (Foto: Reprodução/Emma Webster/The New York Times)

Então a partir daí, Emma passou a rastrear o paradeiro da pintura. Segundo a Christie’s, a obra foi enviada à leiloeira por um galerista de Hong Kong chamado Matt Chung, que alegou tê-la adquirido por meio de John Wolf, consultor de arte em Los Angeles. Ambos disseram não saber que o quadro havia sido obtido por meios fraudulentos.

O galerista Chung chegou até a oferecer 30% do valor do leilão à artista, que recusou. A Christie’s cancelou a venda e manteve a posse da pintura enquanto o então impasse judicial segue sem resolução. Além disso, Chung moveu uma ação civil em Hong Kong para recuperar a obra, pois ele alega ter um contrato legítimo com a leiloeira.

Nova dimensão e o FBI

A situação ganhou então uma nova dimensão de gravidade quando chegou enfim ao FBI, sendo inclusive confirmado pelo advogado de Emma, Thaddeus Stauber, de que a fraude está sob investigação pela agência federal americana. Com sorte, os indivíduos por trás do crime serão rapidamente identificados, pois o golpe envolve muito mais que falsificação de identidade, mas também uma esquematizada movimentação internacional de uma obra de arte adquirida de má fé.


Artista ao lado de outra obra de seu acervo (Foto: Reprodução/Stephanie Noritz/W Magazine)

Especialistas do mercado de arte alertam para o impacto do caso. “Artistas têm o direito de escolher quem coleciona suas obras e proteger seu mercado”, explicou Luke Nikas, advogado de renome no setor. “Personificar alguém para obter vantagem é considerado contravenção penal nos Estados Unidos.”

A própria artista, que começou a carreira em um estúdio garagem e chegou à prestigiada galeria “Perrotin”, reflete com indignação sobre o episódio. “Jamais imaginei que alguém fingiria ser uma estrela pop apenas para conseguir uma das minhas pinturas”, disse ela.

Lady Gaga envolvida sem consentimento

Embora a cantora não tenha participado da negociação, seu nome assim como sua imagem foram explorados para dar credibilidade ao golpe, uma estratégia que levantou sérias questões sobre segurança digital e exposição pública de celebridades. O uso de uma selfie da cantora, que estava circulando nas redes sociais, ilustra como até mesmo elementos que parecem públicos podem ser usados em fraudes extremamente sofisticadas.

Para Emma, essa vivência se tornou um sinal de alerta que vale não só para os artistas, mas para todo o mercado criativo. A venda que parecia um sonho, de ter uma obra na coleção de Lady Gaga, acabou se transformando em um grande caso internacional de falsidade ideológica, com desdobramentos que ainda estão longe de acabar.