Pfizer ganha disputa fechando acordo por US$ 10 bilhões

Numa disputa acirrada com a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, a empresa norte-americana Pfizer adquiriu uma desenvolvedora de medicamentos para obesidade por 10 bilhões de dólares, que em conversão para o real, passa dos R$ 53 bilhões. Após longas semanas de ofertas e contrapropostas movimentando o setor de biotecnologia, a Pfizer agora comanda a empresa Metsera.

O acordo foi concluído na noite de sexta-feira (7) quando líderes da Metsera aceitaram a proposta melhorada da Pfizer ao citar riscos antitruste nos Estados Unidos referente à oferta feita pela Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e Wegovy, que até então, era considerada superior. No dia seguinte, a companhia dinamarquesa saiu oficialmente da disputa.

“Antitruste” junta várias políticas e leis governamentais a favor da concorrência justa em mercados econômicos, tentando impedir práticas anticompetitivas (monopólios) garantindo a proteção dos consumidores. Como referência, no Brasil existe o Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Acordo fechado

Divulgando um comunicado ao fim da disputa, a Metsera publicou que a farmacêutica norte-americana concordou em pagar US$ 86,25 (cerca de 460 reais) por ação em dinheiro, formando um prêmio de 3,69% sobre o valor de fechamento nas ações finalizadas na mesma sexta-feira. Na proposta também conta 65,60 dólares (ou R$ 349,65) por ação em pagamento direito, junto a um direito de valor contingente, sendo possível a criação de pagamentos adicionais de até US$ 20,65 por ação, cerca de 110,05 reais na conversão atual.


CEO da Pfizer comenta grande estratégia com Metsera (Vídeo: reprodução/YouTube/@CNBCtelevision)


Riscos legais

A Metsera citou uma notificação da Comissão Federal de Comércio (FTC) mostrando que a proposta da empresa dinamarquesa envolvia riscos legais e regulatórios muito altos para as leis estadunidenses. Com o alerta para possíveis violações das leis antitruste, mesmo dizendo acreditar que sua oferta estava em total conformidade, a Nova Nordisk desistiu.

No sábado (8), a farmacêutica também publicou um comunicado confirmando que a oferta não seria aumentada pela empresa para adquirir o empreendimento, afirmando que continuará expandindo seu portfólio de tratamentos para a obesidade, avaliando novas oportunidades de negócios e aquisições fora da disputa e alinhas à sua estratégia.

Estratégias da Pfizer

Assegurando uma nova rota de entrada em lucros pelo mercado global de medicamentos focados contra a obesidade, a empresa estadunidense tinha praticamente fechado o negócio já em setembro, mesmo que os produtos da Metsera ainda estejam a alguns anos do lançamento comercial. Quando a Novo Nordisk abriu novamente a competição, criou-se mais uma tentativa da Pfizer para se consolidar no mercado após o desenvolvimento de terapias para perda de peso que não tiveram bons resultados.

Com ativos promissores, os medicamentos experimentais da desenvolvedora podem, juntos, alcançar cerca de 5 bilhões de dólares (mais de R$ 26 bilhões) nas vendas anuais. Declarando estar satisfeita com o acordo após a revisão, a Pfizer espera concluir a fusão das empresas ainda esta semana, na reunião de acionistas dia 13 de novembro.

Novos tratamentos para distúrbios cerebrais podem ser eficazes para 150 milhões de pacientes

Uma empresa de desenvolvimento de medicamentos, a Axsome Therapeutics, está com cinco produtos em fase de desenvolvimento com grande potencial para ajudar pessoas com depressão, TDAH ou Alzheimer, condições que atingem cerca de 150 milhões de estadunidenses. No mercado, a Axsome tem três remédios disponíveis e calcula-se US$ 16,5 bilhões (cerca de R$ 87,94 bilhões) em vendas no pico de seu portfólio atual na área de saúde.

Harriot Tabuteau, fundador da empresa em 2012, decidiu concentrar as produções para tratamentos de distúrbios cerebrais, tratamentos estes que são notoriamente difíceis, seja pelo desenvolvimento em si ou até na eficácia entre os pacientes, que reagem de múltiplas formas diferentes a medicamentos diversos.

Sobre a empresa

O nome da Axsome vem de duas partes de uma célula nervosa, o “axônio” e o “soma”. Apelidada carinhosamente de “o armário de vassouras” em seus primórdios, a empresa não passava de uma pequena sala sem janelas e três mesas no Rockefeller Center, em Nova York onde Harriot decidiu usar sua formação médica misturada ao investimento em startups de biotecnologia.

Embora ainda não seja lucrativa, com um prejuízo líquido registrado em US$ 247 milhões (em conversão, 1,31 bilhão de reais), a Axsome além de ser negociada na Nasdaq (índice de mercado de ações) com o valor de mercado de US$ 6,1 bilhões (ou R$ 32,51 bilhões) a companhia pode chegar nas 25 maiores farmacêuticas do mundo em receita se os lucros correrem conformem o planejado junto a aprovação dos medicamentos pela versão estadunidense da Anvisa, a Food and Drug Administration (FDA) entre este ano até 2028.

Vale ressaltar que apenas uma média de 25% de medicamentos consegue bons resultados nos testes da Fase III avançando no processo da FDA.


Logotipo da Asxome Therapeutics (Foto: reprodução/Asxome Therapeutics)

Estratégias

A Axsome começou construindo um portfólio e não apenas centralizando em um medicamento como a maioria das biotechs, já que Harriot acreditava que reduziria o risco de um fracasso isolado. Recusando a terceirização de testes clínicos, a produção foi feita em uma forma mais barata, em uma média de 30% a 50% menos do que o valor comum, assim, quando um ensaio de um medicamento acabava, a equipe de pesquisadores passava imediatamente para o próximo.

Com o lançamento do Auvelity, o primeiro grande medicamento da empresa, a Axsome recebeu aprovação da FDA em agosto de 2022. Feito para tratamentos para transtorno depressivo, o Auvelity fez as ações dispararem 65% em apenas uma semana, tornando a empresa avaliada em US$ 3 bilhões, o que daria cerca de R$ 15,99 bilhões de reais.

No mesmo ano da aprovação, a Axsome adquiriu um medicamento chamado Sunosi, feito para tratamentos de sonolência excessiva diurna em pessoas com narcolepsia ou apneia do sono. A companhia recuperou o valor da compra e mais um pouco, que chegava nos US$ 53 milhões (ou R$ 282,5 milhões).


Medicamento Auvelity, para transtornos depressivos (Foto: reprodução/Everyday Health)

O Fundador

Tabuteau nasceu no Haiti e mudou-se para o Upper East Side, em Manhattan aos nove anos de idade com seus pais adotivos. Em sua terra natal ao lado da mãe biológica e da irmã, Harriot enfrentava dificuldades físicas, nutricionais e emocionais de todo tipo.

Ele formou-se em biologia molecular e bioquímica em Wesleyan e depois chegou à Escola de Medicina de Yale para tornar-se neurocirurgião. Porém, desistiu do cargo e optou pelo banco de investimentos em saúde do Goldman Sachs.

Duas décadas no mercado financeiro, Tabuteau começou a desenvolver suas próprias teorias enquanto observava empresas de biotecnologia fracassando ou alcançando sucesso pelas posições na Wall Street. Harriot acredita que mesmo sendo uma empresa pequena em tamanho, a ambição pode levar a Axsome para patamares enormes, além de ajudar pacientes com seus medicamentos.