Bolsonaro muda versão sobre tornozeleira e cita “surto” medicamentoso

A audiência de custódia realizada neste domingo (23) manteve a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), detido desde sábado (22) após a Polícia Federal registrar tentativa de violação de sua tornozeleira eletrônica. Conduzida por videoconferência na Superintendência da PF, em Brasília, a sessão não discutiu o mérito das acusações, mas avaliou se os direitos fundamentais do ex-presidente estavam garantidos e se sua integridade física e psicológica havia sido preservada.

Durante o depoimento, Bolsonaro apresentou uma nova versão para o episódio, afirmando ter sofrido um “surto” influenciado pelos medicamentos sertralina e pregabalina — substâncias normalmente prescritas para quadros de ansiedade, depressão e dor neuropática. Segundo a ata, protocolada pelo ministro Alexandre de Moraes, ele relatou ter “alucinação” de que a tornozeleira continha algum tipo de escuta e, por isso, tentou abrir a tampa do equipamento.

A defesa nega qualquer intenção de fuga.

Versões conflitantes e atuação da PF

A declaração marca uma mudança em relação ao primeiro relato registrado por agentes da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal. No atendimento inicial, Bolsonaro afirmou ter usado um ferro de solda por “curiosidade”. O diálogo, registrado em vídeo, contrasta com a versão apresentada à juíza Luciana Yuki Fugishita Sorrentino, responsável pela audiência de custódia, na qual o ex-presidente atribuiu o comportamento a uma “certa paranoia” que teria surgido entre sexta e sábado.

Relatórios técnicos da Seape apontam “sinais claros e importantes de avaria” na tornozeleira, incluindo marcas de queimadura em toda a circunferência do equipamento. A pulseira, no entanto, não apresentou danos. O dispositivo foi substituído após o alerta automático de violação, registrado às 0h07 de sábado.


Bolsonaro alega surto e que não houve tentativa de fuga (Vídeo: reprodução/YouTube/@MetrópolesTV)


Bolsonaro disse que agiu sozinho e que sua filha, um irmão e um assessor estavam dormindo no momento do ocorrido. Relatou ainda ter parado quando “caiu na razão” e informado os agentes de custódia.

Medicamentos sob análise

A sertralina e a pregabalina — citadas por Bolsonaro como possíveis causadoras do “surto” — não costumam provocar alucinações, segundo especialistas consultados por instituições de imprensa. Embora ambas possam gerar efeitos adversos, principalmente sonolência, alterações cognitivas e confusão em casos mais raros, psiquiatras afirmam que quadros de alucinação não são típicos. Ainda assim, fatores como idade, doses e interações medicamentosas podem intensificar reações individuais.

STF julga nesta segunda-feira manutenção da prisão

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal vai analisar nesta segunda (24), das 8h às 20h, se mantém a decisão de Moraes que decretou a prisão preventiva do ex-presidente. A juíza da audiência de custódia não tinha competência para revogar a ordem, já que ela partiu de um ministro do Supremo.


Imagens da tornozeleira foram disponibilizadas pelo STF (Vídeo: reprodução/Instagram/@presepadaa_)


Enquanto isso, duas equipes do Instituto Nacional de Criminalística analisam a tornozeleira violada, investigando danos, registros eletrônicos e possíveis instrumentos utilizados.

Bolsonaro segue preso na Superintendência da PF no Distrito Federal. A defesa entregou hoje as explicações solicitadas por Moraes sobre o motivo da tentativa de violação do equipamento.