Saúde

Disseminação da gripe aviária em visons preocupa cientistas

Criadouro de visons na Espanha registrou surto de H5N1. Isso pode ser um indicativo de que o vírus adaptou-se a mamíferos e pode se tornar perigoso para seres-humanos

08 Fev 2023 - 12h32 | Atualizado em 08 Fev 2023 - 12h32
Disseminação da gripe aviária em visons preocupa cientistas Lorena Bueri

Um criadouro de visons na Espanha registrou surto de H5N1 e esse fato pode indicar que o vírus se adaptou aos mamíferos e pode ter se tornado perigoso para os seres-humanos. Isso teve início em outubro de 2022, com vários visons mortos em uma granja na Galícia, na Espanha. No início, os veterinários acreditaram que o que estava causando isso seria o coronavírus, bem como aconteceu na França e na Dinamarca no ano de 2020. As informações são da “DW”

Entretanto, os testes acabaram por revelar que o causador das mortes foi o vírus da gripe aviária H5N1, altamente patogênico. Como resultado disso, mais de 50 mil visons do criadouro tiveram que ser mortos. Os trabalhadores da fazenda não foram infectados, porém esse caso preocupa os cientistas. 

Qual o problema no surto de gripe aviária entre os visons?

Conforme foi apresentado no site citado, a disseminação do vírus de aves para outras espécies animais não trata-se de algo novo em si. O patógeno da gripe aviária (também chamado de peste aviária) foi encontrado repetidas vezes em mamíferos, como os guaxinins, raposas e focas, porém esses foram casos tão isolados como as poucas vezes em que pessoas foram infectadas pelo vírus.

Timm Harder, do Friedrich Loeffler Institute (FLI), que faz pesquisas de saúde animal, relata que, até o momento, os casos conhecidos mostraram que animais e humanos foram contaminados através do excremento de aves infectadas ou também de suas carcaças. Harder dirige o laboratório alemão de referência para a influenza aviária (nome pelo qual a gripe aviária é chamada no meio científico).

“Em contraste com essas infecções individuais, no caso dos visons, o vírus pode ter passado de animal para animal - e isso é uma novidade”, disse. O que acontece é que nas fazendas de visons, os animais são mantidos confinados em grande número em um espaço de tamanho pequeno, o que acaba por favorecer o processo de infecção nestes mamíferos muito suscetíveis. 

Os pesquisadores detectaram que há mutações no patógeno que ataca os visons. Timm Harder diz: “Um deles faz com que o vírus possa se multiplicar melhor em mamíferos”. Assim, esta poderia ser uma primeira adaptação aos visons e, portanto, aos mamíferos. Tom Peacock, virologista do Imperial College London, escreveu na revista científica “Science”: “Isso é incrivelmente preocupante”. O especialista também diz que este é “um mecanismo claro de como pode começar uma pandemia de H5”.


Post sobre o criadouro de visons na Espanha registrar surto de H5N1. (Reprodução/Twitter @dw_brasil)


A gripe aviária pode tornar-se uma nova pandemia humana?

A “DW” mostra que, até agora, muitos casos de humanos contraíram o vírus H5N1 através do contato com pássaros transcorreram de forma leve. Porém, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), 457 dos 868 casos de infecção pelo H5N1 em humanos conhecidos mundialmente do mês de janeiro de 2003 a novembro de 2022 terminaram em morte do indivíduo.  

Entretanto, a OMS avalia que “a partir das informações disponíveis, é considerado baixo o risco representado por esse vírus para a população em geral. E, para pessoas expostas devido à profissão, como baixo a moderado”.

Segundo Timm Harder, alguns vírus da influenza aviária de alto patogenicidade (HPAIV, do nome em inglês), como a gripe aviária, têm um potencial aumentado para causar novas zoonoses. Para quem não sabe, zoonoses são doenças infecciosas que podem ser transmitidas de animais para os humanos e vice-versa. Harder observa que, no entanto, “ainda parece haver inúmeros obstáculos para uma maior adaptação aos humanos”. Ele também aponta que o vírus que apareceu nos visons na Espanha deve agora ser examinado mais de perto para que possam avaliar as possíveis adaptações. 

Como um vírus inofensivo ficou perigoso

Segundo Wolfgang Fiedler, ornitólogo do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, há muito se sabe que as aves aquáticas são animais hospedeiros dos vírus da gripe. Mas, esses vírus  originais da influenza eram apenas ligeiramente patogênicos, ou seja, são menos prejudiciais e também menos contagiosos. Os animais não ficavam doentes ou apenas bem levemente. O especialista diz que é provável que todo pato selvagem tenha tido gripe aviária em algum momento da vida. 

Porém se esses vírus, considerados inofensivos para as aves selvagens, atingem grandes viveiros de criação, Fiedler aponta que eles encontram milhares de indivíduos semelhantes e se espalham rapidamente, e o vírus pode sofrer mutações a cada transmissão.

E, realmente, foi isso que ocorreu já que o resultado foi o surgimento das cepas de vírus muito contagiosos H5N1 e H5N8. Essas cepas provavelmente se originaram em granjas avícolas localizadas no leste da Ásia, conforme o Grupo de Trabalho Científico sobre Influenza Aviária e Aves Selvagens, que foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Fiedler diz que lá,  enormes bandos de patos são mantidos na natureza e levados para os campos de arroz para comer. Essas aves criadas tiveram contato com pássaros selvagens e foram infectadas. Dessa forma deu-se início à mutação. O especialista diz: “E se patos são mantidos juntos com porcos, por exemplo, essa é uma forma de criação que torna um vírus desse muito feliz”

Aves selvagens ou indústria avícola impulsionam a gripe aviária? 

Segundo o Grupo de Trabalho da ONU sobre Influenza Aviária, os surtos de peste aviária altamente patogênica “geralmente se espalham pelo comércio de aves contaminadas, produtos avícolas e itens que estiverem em contato com os animais”. Nesse meio tempo, as aves que são selvagens também passaram a desempenhar um papel na propagação da enfermidade. 

Harder relata que isso acontece porque o vírus recém-surgido e muito contagioso das cepas H5N1 e H5N8 foi transmitido para aves selvagens através de aves de fazenda infectadas. O patógeno agressivo agora está sendo transmitido de uma forma com cada vez mais eficácia para várias espécies de aves selvagens. Os vírus poderiam então se espalhar por grandes distâncias pela migração de pássaros. 

Fiedler também confirma que esses tais casos existem. Mas que também há outras cadeias de infecção que nada têm a ver com a migração das aves. O ornitólogo diz que quando um pato está muito doente, ele não voa mais longas distâncias. Mas então pode existir contágio nas proximidades. Ele diz: “Por exemplo, quando alguém pisa nos excrementos de um ganso ou pato infectado e os leva para uma granja”


Post sobre o criadouro de visons na Espanha registrar surto de H5N1. (Reprodução/Twitter @tvcultura)


Quais danos a gripe aviária causa?

Segundo a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA, do nome em inglês), a epidemia de gripe aviária em curso é a maior observada na Europa até o momento. Entre o mês de outubro de 2021 e setembro de 2022, 50 milhões de aves de criação tiveram que ser abatidas em 37 países. Mais de 3.800 detecções de vírus HPAI foram contadas em aves selvagens. E o número de casos não relatados provavelmente é bem maior. 

Até o momento, a gripe aviária aconteceu principalmente no outono e inverno europeus. Lembrando que os animais chocam seus ovos juntos em grandes colônias, condições ideais para a propagação do vírus, Harder diz: “Agora o vírus também circula entre aves selvagens nos meses de verão”. Espécies como andorinhas-do-mar, corvos-marinhos e gansos-patola foram particularmente afetadas. O especialista diz que os efeitos disso só se tornarão aparentes na primavera e no início do verão europeus. 

De acordo com Harder, pela primeira vez a onda de gripe aviária atingiu também a América do Sul no outono. Países afetados foram: Peru, Venezuela, mas também Equador e Colômbia. Mais de 240 pelicanos mortos foram encontrados em Honduras somente nesta semana. 

Harder está preocupado que o vírus possa se espalhar da América do Sul para a Antártida, assim colocando em perigo as populações de pinguins. Além da Antarctica, a Austrália é a única região ainda não afetada pela pandemia de gripe aviária.

Existe proteção contra a gripe aviária?

A EFSA explicou para a DW, que está sendo desenvolvido um protótipo de um sistema de alerta precoce com o objetivo de prever o risco de vírus HPAI serem introduzidos  por aves selvagens. Assim, a partir dele, uma rede de monitoramento para aves selvagens em toda a União Europeia poderia ser criada. 

Além desse fato, a disponibilidade de vacinas contra HPAI e possíveis estratégias de vacinação estão sendo examinadas. Os resultados devem sair no segundo semestre. 

Apesar do surto agudo entre as aves, Harder vê uma esperança de que a ampla disseminação do vírus possa promover imunidade em aves selvagens. A DW mostra que anticorpos já foram encontrados em animais vivos. 

Foto Destaque: Granja de Visons na Espanha enfrentou surto de gripe aviária. Reprodução/DW/Deutsche Welle.

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