Pesquisadores do Instituto Butantan, em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), revelaram resultados promissores em um estudo inovador. A pesquisa sugere que uma toxina específica encontrada no veneno da cobra cascavel, conhecida como crotoxina, tem o potencial de induzir células de defesa do corpo a combater o câncer de maneira mais eficaz.
O estudo foi publicado em revista científica e envolveu testes com camundongos que sofriam de câncer de peritônio. A professora Priscila Andrade Ranéia Silva, da Unaerp, uma das pesquisadoras envolvidas, explicou que o experimento foi conduzido tanto em animais quanto em células cultivadas em laboratório. O objetivo era observar como a crotoxina afetaria o organismo na luta contra as células cancerígenas.
Instituto Butantan em parceria com USP e Unaerp são os responsáveis pela pesquisa (Foto: reprodução/Azman Jaka/GettyImages Embed)
Evidências promissoras
Camundongos foram divididos em dois grupos principais durante os testes: um grupo saudável e outro com tumores líquidos na região abdominal. O grupo com câncer foi subdividido em três, recebendo diferentes tratamentos: um controle com solução salina, um com uma dose baixa de crotoxina e outro com uma dose mais alta. O grupo saudável passou pelos mesmos procedimentos para comparar os efeitos da toxina em corpos sem a presença de câncer.
A crotoxina mostrou-se eficaz em ativar o sistema imunológico dos camundongos para combater os tumores. Os cientistas estão otimistas de que essa descoberta possa oferecer uma resposta imune antitumoral sustentável e de longa duração.
Os cientistas monitoraram camundongos com câncer tratados com o veneno. Os que receberam doses menores tiveram um aumento significativo de macrófagos M1, células essenciais na luta contra tumores. Essa prevalência de 60% é comparável à de camundongos saudáveis, indicando a eficácia do veneno em manter um sistema imunológico robusto mesmo na presença de câncer.
O grupo que recebeu a menor dose do veneno conseguiu uma redução de 27% no volume do tumor. Houve também uma diminuição no número de células cancerígenas e um aumento de leucócitos, fortalecendo ainda mais a defesa do organismo.
A pesquisa também revelou que a menor dose do veneno aumentou em 35% a produção de óxido nítrico, um composto que contribui para a eliminação de células tumorais. Este resultado não foi observado nos animais que receberam doses maiores.
Próximas etapas
A pesquisadora Priscila e sua equipe estão cautelosamente otimistas com os resultados. Antes de avançar para testes em humanos, eles planejam investigar possíveis efeitos colaterais e validar os efeitos em outros modelos experimentais. A segurança e eficácia são prioridades antes de considerar aplicações clínicas.
Os resultados iniciais são encorajadores e apontam para um potencial tratamento anti-inflamatório e modulador que poderia revolucionar a terapia contra o câncer. Ainda assim, a ciência avança com passos calculados, garantindo que cada descoberta seja segura e eficaz para futuras gerações.
Foto destaque: cobra Cascavel tem toxinas em seu venenho que podem ajudar no tratamento do câncer (Reprodução/Michael Svoboda/GettyImages Embed)