O mercado ilegal conseguiu uma nova forma de burlar agências reguladoras por meio de pró-fármacos, substâncias que podem causar efeito depois de serem decompostas por enzimas do sistema digestivo ou por outras reações químicas do nosso corpo.
Diferentemente da maioria de substâncias ilícitas, os pró-fármacos funcionam por meio de interação com receptores das células cerebrais, estimulando ou bloqueando a liberação de substâncias chamadas neurotransmissores. Seu tempo de duração é curto, até serem transformadas em substâncias inativas, que são eliminadas do corpo pela urina.
Há o uso de farmacológicos legítimos, cerca de 5% a 7% dos medicamentos estão nessa categoria, mas o uso para dificultar a detecção de drogas é relativamente novo.
Primeiros casos
Em 2014, o governo do Reino Unido relatou o ALD-52 (1-acetil-LSD), um pró-fármaco que é convertido pelo corpo em LSD, mas ainda não havia relatos de confisco de drogas ou danos reconhecidos. Desde então, muitos outros pró-fármacos foram identificados ao redor do mundo.
Na pandemia de covid-19, a apreensão de pro-fármacos de LSD aumentou na Itália, assim como no Japão, mas com compostos similares ao LSD.
Mercado ilegal encontra novos jeitos de burlar fiscalização (Foto: Steve Buissinne/Pixabay)
A droga recreativa GHB também tem um pró-fármaco, o GBL (gama-butirolactona). Em 2022, o Reino Unido criou controles mais rígidos sobre o GBL, que era vendido como produto de limpeza. Após recomendações do Conselho Consultivo sobre o Mau Uso de Drogas do governo britânico, o pró-fármaco foi considerado droga da classe B, como a maconha, por exemplo.
Os primeiros relatos desses pró-fármacos de LSD feitos no Brasil foram realizados ano passado, em 2022.
A detecção
Para detectar drogas, agências reguladoras precisam de amostras de referência para comparar a droga ou equipamentos avançados para descobrir sua estrutura molecular. Uma mudança química pode levar a diferentes padrões, esses novos medicamentos são facilmente perdidos.
Os pró-fármacos são convertidos dentro do corpo antes de serem ativos, então eles ficam ausentes em casos de overdoses fatais, pois o que causa o dano é o produto dessa transformação.
A identificação correta de qual droga foi usada pode ajudar a indicar as tendências de vendas ilegais, o uso e a disponibilidade.
A inclusão dos pró-fármacos vem sendo progressiva, e estão principalmente em regulamentações mais rígidas.
Foto Destaque: agrupamento de drogas. Reprodução/Myriams-Fotos/Pixabay