Desmatamento aumenta anemia de crianças na Amazônia

Devido ao processo de desmatamento com objetivo de aumentar a área de pastagem, animais selvagens morrem, reduzindo alimento de carne vermelha, principal forma de prevenir anemia.

19 abr, 2022

Em uma recente pesquisa realizada em conjunto com Universidade britânica de Lancaster, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade de São Paulo e a Universidade do Pará, publicado pela Scientific Reports, mesmo grupo da revista Nature, expõem o aumento do desmatamento para criação de gado na Amazônia tem aumentado o número de anemia entre as crianças de 6 meses a 1 ano de idade em comunidades indígenas tradicionais e ribeirinhas.

A correlação entre estes fatos é que, com o avanço da área de pastagem, muitos animais morrem durante o processo de queimada ou de derrubamento da vegetação. Os predadores também ficam vulneráveis neste momento, pois não encontram suas presas para se alimentar e não há local seguro para o acasalamento, impedindo, assim, a reprodução da espécie.

De acordo com o cientista social Luke Perry, da Universidade de Lancaster, “(…) as pessoas na zona rural na Amazônia praticamente nunca consomem carne bovina. Em média, essas famílias comem bife uma vez a cada dois meses. Portanto, a carne bovina não está apoiando a segurança alimentar e nutricional dessas crianças”.


Prática de pesca é principal forma de alimento dessas áreas rurais. (Foto: Reprodução/Erico Marone/Nacional Geographic)


Um dos motivos que a carne de boi não fazer parte do cardápio das comunidades amazônicas é devido seu valor alto para renda familiar média dessas famílias. Outro motivo importante é a falta de energia elétrica que impede a estocagem desse tipo de alimento, altamente perecível. O consumo de frango também não é comum.

Pesquisadores deste estudo visitaram 1.100 domicílios escolhidos de forma aleatória em quatro municípios do Amazonas. No total, foram visitados 58 vilarejos, sendo que, em 44 deles, o acesso é possível somente por barco.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2020, o número nacional de crianças com anemia era de 10%, uma em cada dez crianças brasileiras era diagnosticado com a doença. Do outro lado, informa a pesquisadora Patrícia Carignina Torres (USP) uma das autoras do estudo, este número aumenta para 60% quando estamos falando de áreas rurais amazônicas; ou seja, de dez crianças seis estavam anêmicas.

Anemia é uma doença que ocorre diante a falta de ferro no organismo e se caracteriza pela baixa quantidade de hemoglobina no sangue. Esta célula, que traz a cor vermelha do nosso sangue, é responsável por transportar o oxigênio para todas as partes do corpo. O oxigênio é fundamental para o desenvolvimento no corpo de uma criança, principalmente para os órgãos e músculos de modo saudável. É como se a célula não conseguisse respirar e trabalhar por não captar o oxigênio. A condição se manifesta através de fraqueza, palidez e cansaço. A principal forma de prevenção contra anemia é justamente a ingestão de alimentos ricos em ferro, entre estes a carne vermelha vegetais de cor escura ovo e legumes.

Foto destaque: Criança de comunidadae indigena tradicional. Reprodução/Luna Gámez/EL PAIS.

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