Os cientistas encontraram uma causa genética para o lúpus, a doença auto-imune que afeta cerca de cinco milhões de pessoas em todo o mundo.
Especialistas realizaram sequenciamento de genoma completo no DNA de uma menina espanhola chamada Gabriela, que foi diagnosticada com lúpus grave quando tinha apenas sete anos. Um caso tão sério em uma criança é raro e indica uma única causa genética.
A equipe de cientistas disse que espera que seu achado abra o caminho para novos tratamentos, que têm faltado para a doença.
O lúpus é uma condição a longo prazo que causa dor nas articulações e erupções cutâneas, e não tem cura. Os principais sintomas são dores articulares e musculares, cansaço extremo que não vai embora, erupções cutâneas (muitas vezes sobre o nariz e bochechas) e, às vezes, dores de cabeça, feridas na boca e sensibilidade à luz.
Os sintomas podem aumentar e diminuir novamente, e os tratamentos podem incluir medicamentos anti-inflamatórios como ibuprofeno, hidroxicloroquina para fadiga e problemas de pele e articulações, e esteróides. Dois outros medicamentos, rituximabe e belimumabe, são por vezes utilizados para tratar lúpus grave e trabalhar no sistema imunológico.
Pesquisa genética acerca do lúpus. (Foto/Reprodução/The Francis Crick Institute)
No novo estudo, publicado na revista Nature, pesquisadores internacionais encontraram uma mutação pontual no gene TLR7, que eles disseram estar causando lúpus. Usando referências dos EUA e da China, eles identificaram outros casos de lúpus grave onde esse gene também foi mutado.
Para confirmar que a mutação causa lúpus, a equipe usou um tipo de edição de genes chamado CRISPR para introduzi-lo em camundongos. "Esta é a primeira vez que uma mutação TLR7 foi mostrada para causar lúpus, fornecendo evidências claras de uma maneira que esta doença pode surgir", disse Carola Vinuesa, autora sênior e líder do grupo no Crick Institute de Londres.
Esses ratos desenvolveram a doença e mostraram sintomas similares, fornecendo a evidência que a mutação TLR7 era a causa.
O professor Nan Shen, do Centro de Imunologia Personalizada da China & Austrália (CACPI) no Hospital Shanghai Renji, comentou: "Embora possa ser apenas um pequeno número de pessoas com lúpus que têm variantes no próprio TLR7, sabemos que muitos pacientes têm sinais de hiperatividade na via TLR7."
A descoberta também pode ajudar a explicar por que o lúpus é cerca de 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens.
O TLR7 reside no cromossomo X, o que significa que as mulheres têm duas vezes o gene, enquanto os homens têm um. Geralmente, em mulheres, um dos cromossomos X é inativo, mas nessa seção do cromossomo o silenciamento da segunda cópia é frequentemente incompleto.
Isso significa que as mulheres com uma mutação nesse gene podem ter duas cópias funcionais. A mutação identificada pela equipe faz com que a proteína TLR7 se ligue mais facilmente a um componente de ácido nucleico chamado guanosina e se torne mais ativa.
Isso aumenta a sensibilidade da célula imunológica, tornando-se mais provável identificar incorretamente o tecido saudável como estranho ou danificado e atacá-lo.
Foto destaque: Observação em microscópio. Reprodução/PA Wire