Irã suspende cooperação com agência nuclear da ONU após trégua com Israel
A decisão levanta novas preocupações sobre a transparência do programa nuclear iraniano e reacende tensões com o Ocidente

Em um movimento que pode acirrar ainda mais os ânimos no Oriente Médio, o Irã suspendeu oficialmente sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), responsável por monitorar o desenvolvimento de programas nucleares no mundo. A decisão foi tomada pelo Parlamento iraniano no dia 24 de junho deste ano, apenas um dia após o cessar-fogo com Israel, que pôs fim a 12 dias de confrontos diretos entre os dois países, e divulgada oficialmente nesta quarta-feira (2).
Irã endurece postura após trégua militar
O Parlamento de Teerã aprovou uma nova legislação que determina a suspensão imediata das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a retirada das câmeras de vigilância instaladas em instalações nucleares sensíveis do país. Segundo o presidente do Parlamento, Mohammad Bagher Ghalibaf, a medida é uma resposta à “passividade da comunidade internacional diante das agressões israelenses” e ao que o país classifica como “violações dos compromissos nucleares por parte do Ocidente”.
“A segurança nacional do Irã não será refém de acordos desequilibrados”, afirmou Ghalibaf durante a sessão parlamentar transmitida pela televisão estatal iraniana.
Segundo a rede Al Jazeera, a AIEA confirmou que seus inspetores foram retirados de algumas instalações e que está em diálogo com autoridades iranianas para avaliar os impactos da medida. Já os Estados Unidos, por meio do Departamento de Estado, afirmaram estar “profundamente preocupados” com a decisão, que classificaram como “um retrocesso significativo nos esforços diplomáticos”.
Presidente americano Donald Trump confirma cessar-fogo em entrevistas (Foto: Reprodução/Chip Somodevilla/Getty Images Embed)
Especialistas temem avanço sem transparência
A decisão iraniana reacende temores de que o país possa acelerar seu programa nuclear sem supervisão internacional. Para o analista em segurança internacional Ali Vaez, do International Crisis Group, “sem a presença da AIEA, o mundo terá menos clareza sobre as intenções e capacidades nucleares do Irã, o que pode aumentar a possibilidade de novos conflitos na região”.
O Irã afirma que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos, mas países como os EUA e Israel veem com ceticismo essa declaração, especialmente diante da retomada de atividades que violam o acordo nuclear de 2015 — do qual os Estados Unidos se retiraram em 2018.
Segundo a “BBC”, a AIEA já enfrentava dificuldades para obter acesso irrestrito às instalações iranianas nos últimos meses. A suspensão formal da cooperação marca, segundo especialistas, “um novo e perigoso capítulo” na já conturbada relação entre Irã, Israel e o Ocidente.