As exportações brasileiras aos Estados Unidos sofreram uma queda drástica de cerca de 25% nos três meses seguintes à entrada em vigor de uma taxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump para diversos produtos brasileiros.
Entre agosto, setembro e outubro de 2024, o Brasil exportou cerca de US$10,2 bilhões para o mercado dos EUA, no mesmo período de 2025, esse valor caiu para aproximadamente US$7,6 bilhões.
Principais produtos atingidos
O impacto foi especialmente severo sobre produtos do agronegócio e do setor alimentício. Entre os mais afetados estão os açúcares e melaços, que registraram queda de cerca de 78,7%, seguidos pelo tabaco, com diminuição de 70,6%. A carne bovina também sentiu fortemente os efeitos da medida, apresentando redução de 53,6%, enquanto o café não torrado teve queda de 16,6% nas exportações.
Além disso, mesmo produtos que não estavam diretamente sujeitos às taxas, como o petróleo e o minério de ferro, que sofreram retração superiores a 20%. Essa queda é atribuída tanto à diminuição da demanda nos Estados Unidos quanto às mudanças nas cadeias de suprimentos globais, agravadas pela incerteza gerada pela nova política tarifária.
China e outros mercados ganham relevância
Enquanto o mercado estadunidense diminuiu, o mercado chinês se fortaleceu para o Brasil. As exportações brasileiras para a China cresceram 26% no mesmo período analisado, passando de US$21,5 bilhões em 2024 para US$27,1 bilhões em 2025. Parte relevante desse aumento vem da venda de soja, mas houve destaque também para a carne bovina, cujas exportações para o país asiático quase dobraram, saltando de US$1,79 bilhões para US$2,97 bilhões.
Balanço depois do tarifaço contra o Brasil (Vídeo: reprodução/YouTube/@SBTNews)
No caso do café não torrado, o crescimento foi ainda mais expressivo, alcançando 335%, embora em valores menores, cerca de US$125 milhões. Além disso, mercados como o México, os países árabes e as nações do Sudeste Asiático também ampliaram sua importância para segmentos específicos das exportações brasileiras, ajudando a diversificar o destino dos produtos nacionais.
Diversificação de mercados como resposta estratégica
Diante do choque provocado pela taxa estadunidenses, ganhou força o discurso, tanto no setor privado quanto do governo, de que é necessário diversificar os destinos das exportações brasileiras. O objetivo é aliviar a vulnerabilidade do país frente a políticas externas adversas e minimizar os impactos de decisões de grandes parceiros comerciais.
Segundo o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, desde 2023 foram abertos mais de 400 novos mercados para produtos brasileiros, em diferentes regiões do mundo. É importante ressaltar que a meta não é substituir completamente o mercado dos Estados Unidos, mas sim diminuir a dependência e ampliar as oportunidades de comércio internacional.
Impactos e desafios para o Brasil
O cenário mostra que a adoção de tarifas elevadas por parte de um parceiro comercial importante, como os Estados Unidos, pode provocar um choque nas exportações brasileiras, especialmente nos produtos agroalimentares que apresentam alto grau de dependência desse mercado. Essa situação evidencia a fragilidade de economias que concentram suas vendas externas em poucos destinos.
Por outro lado, a abertura e a consolidação de mercados alternativos, ainda que representem um desafio, funcionam como um amortecedor diante de crises comerciais. Essa estratégia, no entanto, exige adaptação logística e comercial para atender novos clientes, manutenção de padrões fitossanitários e regulatórios distintos e diversificação do portfólio de produtos e destinos para reduzir riscos.
Além disso, o fato de até mesmo produtos não diretamente taxados terem sofrido queda nas exportações revela o quanto as cadeias internacionais são interligadas e sensíveis a choques de confiança, variações na demanda ou mudanças nas políticas comerciais globais.
