Banco Central pisa no freio do DREX e desativa o blockchain

O projeto que prometia levar o Brasil à vanguarda das moedas digitais acaba de mudar de estrada. O Banco Central decidiu abandonar a arquitetura de blockchain que sustentava o DREX, o real digital. A decisão marca o fim de uma etapa experimental e o início de uma nova fase, mais técnica, mais cautelosa, e talvez menos glamourosa.

A aposta que virou dúvida

Durante quase quatro anos, o BC apostou que o blockchain, tecnologia que sustenta criptomoedas como o bitcoin, seria a base ideal para o DREX. Mas, nos testes, a realidade se impôs: o modelo escolhido, inspirado no Ethereum e adaptado via Hyperledger Besu, mostrou-se pesado, caro e difícil de escalar para o sistema financeiro nacional.


DREX era um projeto do Banco Central do Brasil (Foto: reprodução/X/@infomoney)


Na prática, o BC descobriu que a promessa de “transparência e descentralização” do blockchain não cabia tão bem em uma instituição que precisa de controle, confidencialidade e estabilidade. O resultado? Um freio de mão puxado antes da curva.

Do hype à responsabilidade

O recuo não significa o fim do projeto, mas um amadurecimento. O DREX nasceu sob o brilho das buzzwords, tokenização, contratos inteligentes, interoperabilidade, mas agora enfrenta a pergunta que define todo produto público: para que serve, de fato?

A nova prioridade do BC é redesenhar o conceito. Em vez de discutir qual blockchain usar, a instituição quer entender como a moeda digital pode melhorar o sistema financeiro, e não apenas replicar processos já existentes em formato digital.

Um passo atrás para avançar melhor

A decisão pode atrasar o cronograma, mas também evitar erros caros. Bancos e fintechs que participavam dos testes terão de adaptar suas soluções, enquanto o mercado observa o movimento com ambiguidade: há quem veja prudência, e quem veja perda de protagonismo.

O Brasil vinha sendo citado como um dos países mais avançados em moedas digitais de banco central (CBDCs). Agora, o DREX entra em revisão enquanto China, União Europeia e até países africanos seguem testando seus próprios modelos.

Lições de um experimento ambicioso

O abandono do blockchain é, acima de tudo, um símbolo. Mostra que o discurso da inovação precisa andar de mãos dadas com a segurança e a viabilidade econômica. Mostra também que o Brasil não quer ser apenas o primeiro a lançar uma moeda digital, mas o primeiro a fazer isso direito.

Ainda assim, a decisão deixa no ar um sinal de alerta: se o BC demorar demais para redesenhar o caminho, pode perder o ritmo da revolução digital financeira, uma corrida onde quem chega cedo demais erra, e quem chega tarde demais é esquecido.

O real digital ainda respira

Sem blockchain, mas com ambição, o DREX segue vivo. O projeto pode renascer com uma base tecnológica mais controlada, talvez híbrida, e mais alinhada à regulação. O desafio agora é transformar o que seria uma revolução técnica em uma evolução real, que simplifique crédito, reduza custos e aumente a inclusão financeira.

No fim, o BC parece ter entendido algo que o mercado leva anos para aprender: inovação não é sobre usar a tecnologia mais nova, e sim sobre resolver o problema certo.

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