Dior aposta nas bolsas masculinas sob olhar de Jonathan Anderson
Estreia do estilista irlandês à frente da maison francesa resgata os arquivos clássicos e redefine acessórios com proposta genderless e espírito literário

Para coroar sua estreia no comando da linha Dior Homme, o estilista irlandês Jonathan Anderson entregou muito mais do que uma coleção: apresentou um manifesto visual que resgata os códigos da maison para o século XXI, sempre de forma sofisticada e ousada. A coleção masculina primavera-verão 2026, desfilada nos jardins circundantes aos “Les Invalides”, em Paris, caracterizou-se pela formalidade contemporânea, reverência ao legado do fundador e, acima de tudo, pela ascensão das bolsas como um aspecto central campo de montagem.
Com volumes, texturas e funções totalmente novos para os trajes reaproveitados dos arquivos da década de 1940, as bolsas eram sem dúvida as estrelas da produção. Elas não apenas marcavam o ritmo visual da coleção, mas também simbolizavam o anúncio de uma nova era, na qual os acessórios do homem deixam de ser meros acessórios e se tornam os verdadeiros protagonistas. Tiracolos cruzados ao peito, grandes e imponentes totes, sem mencionar as reinvenções chiques da bolsa modelo carteiro, esses acessórios constituíram os princípios fundamentais da linguagem de Anderson na Dior.
A bolsa como protagonista da vez
Funcionais, sofisticadas e adaptáveis a diferentes formas de uso, as bolsas que foram desfiladas na nova coleção de Anderson trazem agora uma abordagem híbrida que flerta com o universo genderless. A passarela foi tomada por modelos usados de maneira estratégica: cruzados sobre o tórax, pendurados nas costas ou apoiados sobre um dos ombros, em gestos que sugerem não apenas estilo, mas também movimento e praticidade.
Assim, a cartela de cores neutras, passando pelos tons de cinza, off-white ou preto, reforçou a versatilidade das peças. Ao mesmo tempo, o design que harmoniza estrutura e maleabilidade garante o impacto sem comprometer a usabilidade. Alças largas, fechos discretos e materiais de alta qualidade garantem, enfim, que as bolsas possam ser vistas como parte de um novo paradigma de luxo, no qual a forma e a função se encontram em proporções precisas.
A releitura literária da Book Tote
Entre os acessórios mais incríveis, entretanto, a nova versão da Dior Book Tote é incidental. Idealizada por Maria Grazia Chiuri em 2018 – um marco de seu design – recebeu uma reinicialização subversiva sob a direção de Anderson. Dessa vez, a peça clássica é revolucionada com as lombadas de clássicos como Drácula, A Sangue Frio, Bonjour Tristesse e Ligações Perigosas.
O efeito visual é imediato: trata-se de um acessório que não apenas carrega objetos, mas também carrega um significado. Robustas, em cores clássicas e proporções oversized, as novas totes sugerem uma pessoa ou um homem que viaja pelo mundo com estilo, repertório e intencionalidade. Ao trazer ícones literários para o universo estético da maison, Anderson insinua uma nova concepção de intelectualidade na moda que reúne desejo, cultura e identidade.
A estética do movimento
Mais do que a funcionalidade, as bolsas projetadas por Anderson revelam uma busca por fluidez. A forma como elas são usadas, com naturalidade, adaptadas aos gestos de cada modelo, aponta para uma moda que respeita o movimento do corpo e também abraça a multiplicidade de comportamentos. A ausência de rigidez reforça a abordagem contemporânea da Dior, agora comandada por um diretor que se mostrou sensível ao cruzamento entre tradição e liberdade.
Enquanto o traje revisitava peças icônicas como a barra, a alfaiataria eduardiana ou o short delft, os acessórios ancoravam o discurso visual, sem mais precisos. A bolsa masculina deixa de ser um tabu ou nicho e torna-se o centro da esfera masculina, manuseada, elegante e universal.
Entre passado e futuro
A escolha por tratar a bolsa como uma peça-chave da coleção também funciona como ponto de partida simbólico da nova fase da Dior. Jonathan Anderson, que já é reconhecido por sua abordagem artesanal e também por ressignificar os códigos clássicos na “Loewe”, traz agora à maison francesa um olhar que alia o savoir-faire tradicional à experimentação conceitual.
Desfile Dior Homme | Spring Summer 2026 (Vídeo: Reprodução/YouTube/FF Chanel)
Assim, ao recriar a Book Tote com títulos de obras literárias, o estilista carimba um ato de memória — trazendo de volta o logotipo tradicional da marca — e projeta um futuro em que a moda dos homens adota cultura, propósito e estilo de vida incorporados mais naturalmente.
Com isso, as bolsas ganham uma narrativa própria dentro da coleção, aproximando-se da arte e da autobiografia, ao mesmo tempo, em que mantêm sua função primordial: carregar o mundo de quem as usa.
Uma nova era na Dior Homme
A estreia de Anderson teve todos os ingredientes de um momento marcante: cenário simbólico, primeira fila estrelada — com nomes como Rihanna, Robert Pattinson e Daniel Craig —, estética apurada e peças com potencial de virar objeto de desejo. Mas, acima de tudo, deixou claro que o estilista norte-irlandês não pretende apenas dar continuidade à herança da Dior: ele quer ressignificá-la.
A Dior Book Tote literária, ao lado dos tiracolos arquitetônicas, não são apenas acessórios. São declarações. Em uma coleção que funde tradição e renovação, as bolsas surgem como emblemas de um tempo que pede leveza, inteligência e expressão — não apenas nos trajes, mas também nos detalhes.