Recentemente, alunos de ETH Zurich, na Suiça, desenvolveram um peixe robô chamado "Eve", que pode mudar a pesquisa nos oceanos. Eve imita um peixe real, nadando com uma cauda de silicone e totalmente autônoma, para coletar dados sem perturbar o ecossistema. O robô está sendo testado por Surf-eDNA nas águas frias do Lago Zurique. Equipado com uma câmera e sonar, também coleta DNA ambiental (eDNA) para identificar espécies presentes em seu entorno.
Esse trabalho visa oferecer aos cientistas uma melhor compreensão da vida marinha, uma vez que mais de 70% dos oceanos ainda são desconhecidos. Paralelamente, outras startups estão desenvolvendo tecnologias semelhantes para estudar habitats subaquáticos. Atualmente, métodos de coleta são rudimentares, destacando a necessidade de inovações que garantam eficiência e proteção aos oceanos. Os alunos esperam que sua ferramenta contribua para a conservação da biodiversidade e ajude a evitar a extinção de espécies.
Eve, o peixe robô
Localizados aproximadamente 400 quilômetros da costa mais próxima, alunos de engenharia do Instituto Federal de Tecnologia de Zurich (ETH Zurich em inglês), localizado na Suíça, estão se dedicando ao desenvolvimento de robôs avançados que têm o potencial de transformar como os oceanos do planeta são pesquisados.
Apresentação do peixe robô (Vídeo: reprodução/ ETH Zürich/ YouTube)
O peixe robótico, chamado de Eve, nada balançando sua cauda de silicone de um lado para o outro, impulsionada por bombas ocultas em seu interior, enquanto se move suavemente pelas águas frias do Lago Zurique, onde está a ser testada pelo grupo Surf-eDNA. Durante os últimos dois anos, essa equipe liderada por estudantes trabalhou na criação de um cardume (de peixes) robóticos flexíveis, sendo Eve o mais recente integrante.
“Fazendo com que Eve pareça um peixe, conseguimos ser menos invasivos no ecossistema que estamos investigando”, explicou Dennis Baumann, estudante de mestrado, à CNN. Segundo ele, a abordagem biomimética é projetada para evitar assustar outros peixes ou vida marinha com a presença do robô. “Isso nos permite nos integrar e interagir com o ecossistema”, acrescentou. Ou seja, para interagir com a vida marinha, Eve deve operar de forma autônoma sob a água, utilizando um algoritmo de localização e mapeamento simultâneo. Dessa forma, poderá mapear seu entorno enquanto se orienta dentro dele.
Habilidades de Eve
Apresentação do peixe robô (Foto: reprodução/ ETH Zürich)
A habilidade de Eve de se disfarçar como um peixe não é sua única função, já que o veículo autônomo subaquático (AUV, sigla em inglês) também conta com uma câmera para registrar filmagens debaixo d’água e um sonar que, em conjunto com um algoritmo, ajuda a detectar e evitar obstáculos. Além disso, o AUV é equipado com um filtro que coleta DNA ambiental, conhecido como “eDNA”, á medida que nada. As amostras coletadas podem ser enviadas a um laboratório para sequenciamento, possibilitando identificar as espécies presentes no ambiente.
“Todos os animais que habitam o ambiente liberam seu DNA, então há genes flutuando que podemos detectar”, enfatiza Martina Lüthi, pós-doutoranda na ETH Zurich, à CNN. Os estudantes têm a expectativa de que o peixe robô possa fornecer aos cientistas uma visão mais detalhada dos oceanos e de seus habitantes. Apesar dos oceanos cobrirem mais de 70% da superfície do nosso planeta, muito do que se encontra abaixo da água ainda é desconhecido.
Exploração dos oceanos
Além de equipamentos de exploração do oceano como os AUVs, e também os veículos operados remotamente estão se tornando cada vez mais comuns na busca de respostas sobre os conhecimentos dos habitats subaquáticos. A startup Aquaai, com sede na Califórnia, por exemplo, desenvolveu drones que imitam peixes-palhaço visando coletar dados sobre níveis de oxigênio, salinidade e pH em copos d'água. No ano passado, um rover (em inglês) registrou imagens do peixe na maior profundidade já capturada, a 8.300 metros.
Coleta rudimentar
O uso de eDNA para análise da biodiversidade está em ascensão. Embora o processo de coleta ainda seja bastante primitiva, alguns cientistas continuam utilizando copos para obter amostras, inclinando-se na borda de uma embarcação. Portanto, há um reconhecimento da necessidade de métodos mais sofisticados para garantir a eficiência perante a proteção dos oceanos, algo capaz de monitorar os ambientes subaquáticos de forma mais abrangente, permitindo entender melhor a dinâmica das espécies e dos ecossistemas, especialmente em um período em que esses habitats estão sob pressão devido à sobrepesca e às mudanças climáticas.
“Queremos desenvolver uma ferramenta confiável para os biólogos”, declarou Baumann, expressando a esperança de que, um dia, sua tecnologia esteja disponível para qualquer cientista interessado em utilizá-la. “Talvez possamos evitar que espécies se tornem ameaçadas ou se extingam”, completou.
O projeto de integração de um filtro de eDNA a um robô, promete reunir informações valiosas sobre a biodiversidade do ecossistema. Os dados obtidos serão fundamentais para pesquisadores e instituições, considerando que a mudança climática é um dos principais fatores que contribuem para a perda de biodiversidade. Compreender a evolução como o ambiente está se transformando é crucial para implementar ações eficazes na proteção dos habitats naturais.
Foto Destaque: Um peixe-robô que foi projetado e desenvolvido pelos estudantes do ETH Zurich, nada nas águas do lago Zurique (Foto: reprodução/SURF eDNA)