A Fundação Bill & Melinda Gates revelou, em 10 de agosto, os 48 beneficiários de um programa de financiamento de US$5 milhões (equivalente a cerca de R$24,4 milhões na cotação atual). Os contemplados consistem principalmente em grupos de pesquisa que se dedicam ao desenvolvimento de aplicativos baseados em inteligência artificial (IA) construídos em grandes modelos de linguagem. O foco dessas soluções é resolver problemas urgentes em nações de baixa e média renda.
Cada beneficiário receberá US$100.000 (aproximadamente R$500 mil) para impulsionar suas iniciativas. As áreas de atuação desses projetos são abrangentes, variando desde a criação de chatbots baseados em modelos como o ChatGPT para gerenciar registros médicos eletrônicos detalhados para profissionais de saúde materna no Paquistão, até a construção de um tutor de IA para fornecer educação especializada a estudantes no Quênia.
Entrada da Fundação Gates. (Foto: reprodução/David Ryder/Diário de Pernambuco)
Da saúde à agricultura
Embora muitos dos projetos tenham o objetivo de explorar o uso de IA para questões de saúde, como avaliação de risco de HIV, atendimento pré-natal e prescrições de antibióticos, alguns deles visam aplicar a tecnologia em outras áreas locais. Por exemplo, um grupo de cientistas em Uganda pretende criar um aplicativo baseado em ChatGPT para fornecer informações sobre doenças nas plantações aos agricultores. Nesse contexto, eles planejam desenvolver um conjunto de dados na língua nativa Luganda.
Outros países também estão envolvidos nesse esforço. No Vietnã, um pesquisador está desenvolvendo um chatbot para oferecer conselhos aos residentes em áreas afetadas pela intrusão de água salgada, adaptando o GPT-4 com dados em vietnamita. No Brasil, uma organização sem fins lucrativos pretende usar modelos de linguagem para criar um assistente virtual para psicólogos e advogados que apoiam mulheres enfrentando violência de gênero.
IA pelo mundo
Essa iniciativa busca promover o desenvolvimento de IA generativa em todo o mundo, a fim de que mais pessoas possam se beneficiar dessa tecnologia. Segundo a cientista da computação Juliana Rotich, membro do comitê de segurança de IA da fundação e originária do Quênia, muitos avanços tecnológicos não atingem igualmente diversas partes do mundo devido a padrões de discriminação, desigualdade e preconceito já existentes.
Para tornar a IA generativa mais acessível, os pesquisadores planejam desenvolver um recurso que converta a voz em texto, já que chatbots baseados em prompts de texto podem excluir populações que não falam inglês ou não possuem smartphones. Além disso, eles estão cientes das limitações dos modelos como o ChatGPT, que podem conter imprecisões factuais e preconceitos. A fundação estabeleceu um centro de suporte de especialistas globais em IA para ajudar os beneficiários a avaliarem riscos potenciais.
A Gates Foundation selecionou os beneficiários após analisar cerca de 1.300 propostas de pesquisadores, organizações sem fins lucrativos e empresas privadas de 103 países. Essas propostas foram avaliadas de acordo com critérios como o foco em questões sociais críticas, realização em países de baixa e média renda e o uso de grandes modelos de linguagem. O programa visa criar evidências de uso de IA generativa, identificando obstáculos e aprendizados enquanto busca inserir a IA em comunidades de baixa renda.
Foto Destaque: IA sendo usada na agricultura e na saúde. Reprodução/Terra Magna