Foi realizada nesta segunda-feira (12) a solenidade de repatriação do Ubirajara Jubatus, dinossauro que habitou regiões brasileiras há 110 milhões de anos. O evento foi em colaboração com representantes dos governos brasileiro e alemão, e foi sediado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Depois do encontro em Brasília, o fóssil do dinossauro seguirá para o Ceará, onde o espécime fará parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri.
A ministra Luciana Santos afirmou que: “Sem dúvida, estamos diante de um momento histórico: um réptil que viveu há 110 milhões de anos e passou cerca de 30 anos fora, retorna ao seu sítio”, e que: “A repatriação foi um esforço dos pesquisadores e pesquisadoras do nosso país. É um patrimônio brasileiro que está de volta após uma cooperação bem-sucedida com a Alemanha.”.
A espécie do dinossauro, Ubirajara Jubatus, viveu no Geoparque do Araripe, que ficou conhecido como centro paleontológico, entre o Ceará, Pernambuco e Piauí. Esses fósseis foram levados para a Alemanha na década de 1990, e foram descobertos há cerca de três anos no Museu Estadual de História Natural de Karlsruche, depois de uma publicação científica.
Julien Kimmingd, curador do museu alemão, defendeu a devolução dos restos mortais do dinossauro ao Brasil.
“O fóssil agora estará acessível para os pesquisadores e para a população brasileira'', comemora.
Solenidade para repatriação do Ubirajara jubatus (Foto: Reprodução/Luara Baggi/MCTI via CNN)
O governador do Ceará, Elmano de Freitas, acrescentou: “Hoje é um dia para agradecer. Falamos de anos de procura e negociação de uma peça fundamental que explica os primórdios de vida na Terra. O Ubirajara é de grande representatividade para a população do Ceará, Nordeste e Brasil”.
Segundo a Universidade Regional do Cariri, o Ubirajara Jubatus é a primeira espécie de dinossauro não-aviário que contém estruturas parecidas com penas, que foi encontrado na América do Sul.
De acordo com a universidade, as discussões a respeito da devolução dos materiais tiveram o envolvimento do Itamaraty, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Embaixada da Alemanha na capital brasileira. O fóssil do dinossauro brasileiro, que havia sido contrabandeado, voltou ao país, chegando em Brasília com uma delegação do governo alemão em visita oficial ao Brasil.
Assinaram o trabalho científico que faz descrições da nova espécie, Norbert Lenz, atual diretor do Museu de História Natural de Karlsruhe, e Eberhard Frey, seu antecessor.
A repatriação do dinossauro ocorreu somente após decisão das autoridades do estado de Baden-Wûrttemberg, em julho de 2022, que revelou "má conduta científica" na obtenção dos restos mortais, conforme foi denunciado pelo Ministério Público Federal.
A legislação brasileira, desde 1942, decretou que os fósseis fazem parte do patrimônio da União. Portanto, eles não podem ser vendidos. Para sair do país, é necessária uma autorização oficial.
É terminantemente proibida a exportação de espécimes de referência de novas espécies, holótipos, como Ubirajara jubatus. Cientistas de fora só tem direito a coleta de materiais biológicos ou de minerais pertencentes ao Brasil, se envolverem pesquisadores brasileiros em seus trabalhos.
O trabalho que descreve a nova espécie de dinossauro, publicado na Cretaceous Research, não respeitou a lei e acabou mobilizando uma campanha virtual inédita com a hastag: “#UbirajaraBelongstoBR”, que significa “Ubirajara pertence ao Brasil”.
“Simboliza uma nova fase no jeito de fazer ciência com respeito às legislações nacionais e aos direitos das sociedades”, disse Allyson Pinheiro, diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens.
Com o alvoroço internacional causado por essa ação, a revista científica imediatamente anunciou a retratação do artigo, cancelando a publicação do trabalho.
Foto destaque: Ubirajara jubatus. Reprodução/Luara Baggi/MCTI via CNN