Há anos, o estudo da estrela-do-mar, animal marinho pertencente ao grupo dos equinodermos, elude os cientistas em sua conclusão. Recentemente, através do avanço na tecnologia de sequenciação genética, pesquisadores foram capazes de desvendar um pouco mais dos mistérios que envolvem essa espécie marinha tão curiosa.
Sequenciação genética como chave da descoberta
A pesquisa, que foi publicada na quarta-feira (1) pela revista Nature, utilizou uma nova abordagem de microtomografia computadorizada para criar um modelo em 3D da estrela-do-mar, permitindo uma análise mais aprofundada do animal.
Essa análise se concentrou nos genes do equinodermo, analisando a assinatura genética das células que compõe o corpo do mesmo. Segundo os pesquisadores, isso foi feito para distinguir os genes que são responsáveis pelo desenvolvimento do torso, da cauda e da cabeça, que geralmente estão presentes em todos os grupos de animais.
Segundo o biólogo marinho e professor na Universidade de Stanford, Cristopher Lowe, os pesquisadores optaram por ignorar a configuração anatômica do animal, buscando nos genes a resposta de sua existência como um ser pentarradial, ou seja, um animal que é composto de cinco partes iguais. Nesse caso, os braços equipados com pés tubulares, que ajudam na locomoção embaixo d'água.
Os dados adquiridos durante esse processo de análise permitiram que os cientistas descobrissem mais a respeito do processo de desenvolvimento do equinodermo, inclusive a formação da pele e do sistema nervoso. Em conclusão, a assinatura genética associada ao desenvolvimento do torso e da cauda não foram encontradas no corpo de nenhuma das estrelas-do-mar analisadas.
Imagem colorizada do sistema nervoso de uma estrela-do-mar jovem sob microscópio (Foto: reprodução/Lawrent Formery)
Ao invés disso, os cientistas descobriram a presença de vestígios genéticos associados com o desenvolvimento da cabeça em todo o corpo do animal, sobretudo no centro e nos cinco membros.
Segundo o pesquisador da Universidade de Stanford e da Califórnia, Laurent Formery, além de membro do Chan Zuckerberg Biohub que está patrocinando o projeto, esse descoberta torna a estrela-do-mar o caso mais dramático no reino animal de dissociação entre as regiões da cabeça e o tronco que conhecemos hoje.
Durante o processo de análise, os pesquisadores também concluíram que os genes que normalmente são responsáveis pela padronização do tronco do animal não estão presentes no ectoderma da estrela-do-mar, basicamente tornando seu corpo no equivalente à cabeça de outros animais.
Descobertas sobre a evolução
O estudo, que foi patrocinado pelo Chan Zuckerberg Biohub — fundado em 2021 em uma parceria entre Mark Zuckerberg e Dra. Priscilla Chan — junto da Nasa, a National Science Foundation e o Leverhulme Trust, está um pouco distante do âmbito de pesquisa comum de cientistas que analisam o reino animal.
Geralmente, esse tipo de pesquisa mais aprofundada está quase que exclusivamente focada em animais que apresentam alguma semelhança significativa com humanos, mas o estudo dos equinodermos está longe de ser inútil para a ciência.
Essa e outras descobertas podem ser uma peça fundamental na análise do processo de evolução da vida na Terra, bem como a maneira que os animais se adaptam para viver de maneira saudável ao longo do processo evolutivo.
Segundo Lowe, enquanto esses animais marinhos não são um espetáculo digno de nota para pessoas comuns, eles ainda são criaturas intrigantes e que representam o início da vida terrestre em um passado muito distante.
O estudo de animais incomuns, embora seja mais trabalhoso do que aqueles amplamente documentados pela ciência, também são importantes para a evolução da ecologia e da biomedicina, segundo Daniel Rokhsar, coautor do estudo.
Foto destaque: Estrela-do-mar vermelha em praia da Ilha de Celafônia, Grécia (Reprodução/Freepik/AlikaObraz/CNN)