Entre curtidas e comentários online, as notificações nos celulares são quase ininterruptas. Os estímulos, rápidos e momentâneos, fazem o cérebro humano liberar dopamina, provocando sensações de prazer e satisfação. Esse neurotransmissor, entretanto, vicia e o uso constante do celular pode afetar o comportamento e tornar o hábito de checar as notificações uma dependência, assim como o cigarro e outros tipos de vício.
“Quanto mais a pessoa entra em contato com esses estímulos que causam recompensas rápidas e imediatas, maior a tendência de aumentar o comportamento. E aí ela começa a sentir falta quando não está perto do celular", explica a médica psiquiatra Julia Khoury, mestre e doutora em Medicina Molecular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “As pessoas vão em busca desses estímulos rápidos que geram prazer para se livrar de sentimentos ruins ou para ter pequenos prazeres ao longo do dia”.
Ao ser liberada, a dopamina também inibe as funções do córtex pré-frontal. A região do cérebro é responsável pelo controle dos impulsos, moderação de comportamento e tomada de decisões. Aqui, os efeitos da substância podem causar impulsividade e, consequentemente, desequilibrar a maneira em que os smartphones são utilizados. O mesmo ocorre com outras formas de vício.
“Seu cérebro também pode criar uma tolerância, e um ciclo vicioso começa a ser instalado. As notificações têm como objetivo 'adestrar' o usuário de uma maneira que ele possa, no fundo, no fundo, ficar cada vez mais conectado”, expõe o psicólogo Cristiano Nabuco.
Os quadros mais graves do uso abusivo do smartphone envolvem transtornos como a Síndrome de Burnout e o Transtorno de Déficit de Atenção (Foto: Reprodução/Pixabay)
Outra ferramenta adotada nos aplicativos que incita a dependência do celular é a rolagem infinita. O recurso permite uma rolagem de horas ininterruptas pelo feed.
“Eu vou te oferecendo, oferecendo, oferecendo, criando um efeito looping onde, em um determinado momento, você não tem mais a noção do tempo que gastou. O indivíduo entra em uma condição de êxtase, procurando de maneira compulsiva, sem racionalizar”, diz Nabuco. “Isso criou um tipo de estimulação contínua, em que a saúde mental das pessoas não está sendo observada”.
De acordo com Julia Khoury, que fez mestrado e doutorado em dependência digital, as notificações são a porta de entrada para um ritual de checagem. “A pessoa fica olhando para a tela, principalmente quando recebe uma notificação, por medo de perder coisas importantes”, comenta.
Segundo a psiquiatra, a síndrome FOMO é um dos principais sinais do vício. A sigla refere-se ao termo em inglês “fear of missing out”, que pode ser traduzido como “medo de ficar de fora”. Por sua vez, as consequências do uso abusivo do smartphone podem ser visualizadas no desenvolvimento de sintomas de ansiedade e de problemas de atenção.
Para diminuir o tempo de tela, os profissionais fazem algumas recomendações: que sejam determinados momentos e ambientes em que o uso de celular não é permitido e que sejam praticados exercícios físicos ao ar livre, assim como a socialização fora dos espaços digitais.
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