A decisão do governo de São Paulo de eliminar os livros físicos da sala de aula em favor do conteúdo informatizado tem sido amplamente criticada por especialistas, estudos e entidades relacionadas à educação. A opinião unânime entre os acadêmicos é que a formação das futuras gerações requer uma abordagem híbrida, combinando os benefícios do ensino analógico e digital, de forma gradual e adaptada às necessidades específicas de cada escola.
Muitos apontam para exemplos internacionais, como o caso da Suécia, que adotou a digitalização completa e agora está reconsiderando essa postura. Além disso, relatórios recentes da Unesco têm sugerido restrições ao uso de celulares na sala de aula. A pandemia também evidenciou a falta de infraestrutura tecnológica nas escolas e nos lares das famílias, levantando preocupações adicionais.
Substituição não recomendada
Especialistas como Olavo Nogueira Filho, da ONG Todos Pela Educação, enfatizam que a substituição integral de materiais impressos por digitais não tem sido uma prática adotada por nenhum país. A coexistência entre ambos é defendida como a abordagem mais adequada.
Paulo Blikstein, diretor do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade de Columbia, salienta que não se trata de "vilanizar" a tecnologia, mas de garantir um processo de adaptação à realidade de cada contexto educacional.
Um ponto de preocupação é a situação dos alunos mais vulneráveis, que enfrentam dificuldades como falta de acesso à internet de qualidade e dispositivos adequados. A adoção de um ensino 100% digital pode agravar as desigualdades educacionais.
Contato com telas
A Sociedade Brasileira de Pediatria estabelece limites para o contato com telas, considerando a faixa etária das crianças. O uso excessivo de livros digitais em conjunto com o tempo já dedicado a tablets pode resultar em problemas como prejuízos na comunicação, perturbações do sono e atrasos no desenvolvimento cognitivo.
Recomendação de tempo de tela para crianças e adolescentes (Reprodução/Facebook/Ministério da Saúde)
Diante de evidências como essas, especialistas como Neide Noffs, da PUC-SP, defendem a presença contínua de livros físicos nas escolas, destacando que eles proporcionam experiências que vão além da mera leitura e enriquecem o aprendizado dos alunos ao incentivá-los a explorar diferentes dispositivos de leitura e frequentar bibliotecas.
Foto destaque: Crianças em sala de aula com computadores. Reprodução/Blog SAS