Uma ucraniana de 26 anos relatou a Procuradoria Geral da Ucrânia, seu oitavo dia de detenção por forças russas. No depoimento, ela alega que foi amarrada a uma mesa, nua até a cintura, durante os 15 minutos de interrogatório. Depois das sequências de perguntas e obscenidades, seu interrogador jogou uma jaqueta sobre ela e permitiu que outros sete homens entrassem na sala.
Território de guerra (Foto: Reprodução/ El Mundo)
O testemunho foi ouvido por Anna Sosonska, investigadora local. De acordo com os promotores, o relato de nudez forçada somou-se a um acúmulo de evidências de que as forças russas utilizaram de crimes sexuais como arma de guerra nos territórios dominados.
De acordo com Sosonska, essa violência atingiu todos os territórios ucranianos dominados, como Kiev, Chernihiv, Kharkiv, Donetsk e Kherson.
As autoridades locais estão em processo de documentação sobre os abusos, predominantes e devastadores em tempos de guerra.
“Encontramos todos os tipos de casos de crimes, como estupro, nudez forçada, tortura sexual (acometidos a mulheres, homens e crianças). Agora vemos um padrão de crimes de guerra no Exército russo e entre seus comandantes”, afirmou a investigadora.
O Kremlin, importante complexo central russo, negou as acusações de abusos dos direitos humanos, apesar da extensa lista de casos e relatos que comprovam as acusações.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, rejeitou o relatório da Comissão de Direitos Humanos da ONU e disse que tudo não passa de “rumores e fofocas”.
O crime sexual contra mulheres de 4 a 80 anos
De acordo com uma comissão independente, as vítimas variam entre mulheres de mais de 80 anos a uma menina de 4 anos, forçada a realizar práticas orais em um soldado russo, o que é considerado estupro, de acordo com o relatório.
Ainda segundo o documento, há dezenas de casos de famílias que foram obrigadas a assistirem a estupros coletivos e agressões sexuais envolvendo parentes.
Iryna Didenko, líder do departamento de promotoria que investiga os crimes, já abriu mais de 154 casos de violência sexual relativos a conflitos. “O número real é muito, muito maior. Em uma aldeia ocupada em Kiev, os psicólogos descobriram que 1 a cada 9 mulheres havia sido sexualmente violentada”, disse ela.
Viktoriya, uma mulher de 42 anos que morava no território de Kiev, foi uma das poucas sobreviventes dispostas a falar publicamente sobre o caso. Segundo ela, em março de 2022, soldados russos mataram seu vizinho a tiros e a levaram, com a esposa do vizinho, para ambas serem estupradas.
“O medo ainda permanece. Às vezes, quando falta eletricidade, sou tomada pelo medo e sinto que eles podem voltar”, afirma.
A dor foi tanta que Nataliia, sua vizinha que também sofreu o crime, se refugiou no exterior e seu filho de 15 anos se suicidou após o ataque.
Segundo as autoridades, há evidências que os comandantes russos estavam cientes sobre os crimes e até os encorajaram. Testemunhas também relataram que os lideres ordenavam o ato, como uma forma de “relaxamento” para os soldados.
A semelhança das evidências que descrevem os métodos de tortura e interrogatórios dos oficiais da principal agência de inteligência da Rússia, a FSB (Serviço Federal de Segurança), convenceu a promotoria de que os abusos podem ser designados a liderança russa.
“Um soldado não faria isso sem ordem, é certamente um sistema”, disse o investigador Didenko. “Faz parte de um genocídio, mas para provarmos isso, precisamos de tempo”, concluiu.
Foto destaque: Soldado em guerra. Reprodução/National Geographic