Quitandinha, Palantino e Piabanha, os três principais rios que cortam a cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, perderam suas ilhas fluviais, não apresentam a mesma sinuosidade e estão com 56% de sua vegetação original anulada. Os dados são de uma pesquisa feita por estudiosos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2019, e pode ser um dos fatores que explicam a tragédia que o município enfrentou nos últimos dias.
No rio Quitandinha, durante as enchentes da última terça-feira (15), a água subiu cerca de sete metros acima do normal, chegando a arrastar dois ônibus para o seu leito. O estudo revela que, no último século, os rio sofreram diversas alterações, sendo encurtados e suprimidos para que fosse possível construir casas, prédios e asfaltos. Foi possível chegar a essa conclusão, pois a cidade teve um planejamento urbano estabelecido por decreto imperial, o que significa que diversos documentos, ainda preservados, foram analisados e comparados com outros mais recentes.
Rio volta a inundar ruas em Petrópolis (Foto: Reprodução/Redes sociais via G1)
Segundo o autor do estudo, Manoel do Couto Fernandes, doutor em geografia e pesquisador do GeoCart, um laboratório de cartografia da UFRJ, os acontecimentos que o rio Quitandinha sofreu nos últimos anos explica essa elevação de água. “Hoje o rio tem extensões que não passam de 5 metros de largura, ou seja, toda essa malha fluvial foi descaracterizada, o rio foi estrangulado, por isso ele tem menos local pra acomodar água”, informou.
Fernandes explica o motivo da largura de um rio e a cobertura vegetal influenciar na água que passa pelo local. “A largura de um rio influencia diretamente a quantidade de água que por ele escorre. Se você tem um rio mais largo, ele comporta mais água. E a resposta da chuva num ambiente de vegetação é bem mais lenta do que num ambiente impermeável, de concreto ” ,ressaltou.
Assim, a pesquisa conclui que, se as Áreas de Preservação Permanente (APPs) em torno dos rios Quitandinha, Palantino e Piabanha e as áreas com inclinação, como topo de morros, montanhas e serras, estivessem livres da ocupação e intervenção humana, o estrago causado pela chuva seria significativamente menor.
Foto Destaque: Rio Quitandinha, no Centro de Petrópolis - Créditos: Andressa Canejo/Arquivo Pessoal