O presidente Vladimir Putin alertou o Ocidente nesta quarta-feira (25) que, caso a Rússia seja atingida por mísseis convencionais, poderá recorrer a armas nucleares. Ele afirmou também que Moscou enxergaria qualquer ataque com o apoio de uma potência nuclear como uma ação conjunta.
Reação do Kremlin às ameaças
A alteração na doutrina nuclear da Rússia foi uma reação do Kremlin às discussões dos EUA e do Reino Unido sobre permitir que a Ucrânia lance mísseis convencionais ocidentais contra o território russo.
Durante a abertura de uma reunião do Conselho de Segurança, Putin afirmou que essas mudanças respondem ao cenário internacional, que está em rápida transformação e apresenta novos riscos à Rússia.
O líder de 71 anos, que toma as principais decisões sobre o arsenal nuclear russo, destacou uma mudança crucial.
"Propomos que qualquer agressão contra a Rússia por um Estado não nuclear, com envolvimento ou apoio de uma potência nuclear, seja tratada como um ataque conjunto à Federação Russa", declarou Putin.
Condições para uso nuclear
Putin afirmou que as condições para o uso de armas nucleares pela Rússia estão claramente definidas. Ele ressaltou que Moscou poderia recorrer a essa medida caso detectasse um ataque em larga escala com mísseis, aeronaves ou drones contra o país.
Ele também destacou que a Rússia se reserva o direito de usar armas nucleares caso ela ou Belarus sejam alvos de agressão, mesmo com o uso de armas convencionais.
Putin explicou que essas mudanças foram cuidadosamente ajustadas para se alinhar às ameaças militares modernas que o país enfrenta, confirmando a atualização da doutrina nuclear.
A doutrina atual, estabelecida em um decreto de 2020, prevê o uso de armas nucleares pela Rússia em resposta a um ataque nuclear ou a uma ameaça convencional que coloque em risco a existência do Estado.
Imagens de armas de guerra apontadas (Reprodução/Getty Images Embed/Anton Petrus)
Escalada de tensão nuclear
As mudanças anunciadas por Putin incluem a ampliação das situações em que a Rússia consideraria o uso de armas nucleares, a inclusão de Belarus sob sua proteção nuclear, e a ideia de que o apoio de uma potência nuclear a um ataque convencional contra a Rússia seria visto como uma agressão direta.
Em 2022, os EUA estavam tão preocupados com a possibilidade de a Rússia usar armas nucleares táticas que, segundo o diretor da CIA, Bill Burns, alertaram Putin sobre as consequências dessa ação.
Nos últimos meses, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky tem pedido aos aliados ocidentais que autorizem a Ucrânia a lançar mísseis de longo alcance, como os fornecidos pelos EUA e Reino Unido, contra o território russo, para enfraquecer a capacidade de Moscou de realizar ataques.
Com a Ucrânia perdendo cidades estratégicas para as forças russas no leste, a guerra está entrando na fase que as autoridades russas consideram a mais perigosa até agora.
Desafios à segurança global
Zelensky pediu que o Ocidente ignorasse as chamadas "linhas vermelhas" estabelecidas pela Rússia. Alguns aliados ocidentais sugeriram que os EUA fizessem o mesmo, apesar de os alertas de Putin de que essa atitude colocaria o Ocidente e a Ucrânia no risco de uma guerra global. Atualmente, a Rússia controla quase um quinto do território ucraniano.
Andriy Yermak, chefe de gabinete de Zelensky, respondeu aos comentários de Putin afirmando: "A Rússia não tem mais como intimidar o mundo, além de sua chantagem nuclear, mas esses métodos não funcionarão."
Putin, que vê o Ocidente como um agressor decadente, e o presidente dos EUA, Joe Biden, que considera a Rússia uma autocracia corrupta e Putin um assassino, concordam que um confronto direto entre a Rússia e a OTAN pode resultar na Terceira Guerra Mundial. O candidato republicano Donald Trump também alertou sobre o risco de uma guerra nuclear.
A Rússia, maior potência nuclear mundial, e os EUA juntos controlam 88% das ogivas nucleares do planeta.
Em uma reunião do Conselho de Segurança, Putin destacou que as emendas para alterar a doutrina nuclear vêm sendo trabalhadas desde o ano passado.
"A tríade nuclear é a principal garantia da segurança do Estado e dos cidadãos, e um instrumento para manter a paridade estratégica e o equilíbrio global de poder", afirmou Putin.
Ele acrescentou que a Rússia consideraria o uso de armas nucleares se obtivesse informações confiáveis sobre um ataque aeroespacial massivo, como o lançamento de mísseis de cruzeiro, aeronaves hipersônicas, drones ou outras ameaças cruzando suas fronteiras.
Foto destaque: Líder russo Vladmir Putin (Reprodução/Getty Images Embed/Contributor)