Será que um microfone bonito, uma fala atraente sobre um assunto interessante e um bom cenário são capazes de enganar quem está vendo?
É essa a questão quando se fala sobre os virais "falsos cortes de podcasts". O Brasil é o terceiro país que mais consome podcasts no mundo, e ter um pedaço de uma entrevista com esse formato no instagram ou tiktok se tornou uma estética, algo necessário para ser uma autoridade dentro das redes sociais.
O assunto viralizou na internet após o jornalista Chico Felitti comentar em sua página do twitter sobre ser obcecado por essa nova forma de atrair seguidores:
Reprodução do Twitter de Chico Felitti
Não há dúvidas de que esse tipo de formato é como uma capa de revista aos que procuram viralizar nas redes, já que atualmente também existem contas específicas apenas para cortes de podcasts, e muitos prezam por uma produção mais profissional.
Marcos Avlis, sócio do AGR Podcast Estúdios, que já recebeu grandes nomes do podcast como o flow, conta que já ouviram esse tipo de proposta mas sempre prezam pela realidade:
"Eu não acredito que isso funcione a longo prazo. Sempre orientei que seja essencial que tenha uma pessoa conversando, para abordar assuntos interessantes de compartilhar,mas que jamais esteja falando sozinha. Porque a verdade passa verdade, não adianta! Em um diálogo, a partir de um simples olhar ou mudança de postura, conseguimos sentir o fluir de uma conversa, e isso é essencial para o podcast."
No caso dos podcasts falsos, o entrevistado não olha diretamente para a câmera e aparenta estar falando com alguém quando na verdade está apenas gravando a si mesmo na sala da sua casa ou em um estúdio de gravação.
O tiktoker Filipe Penoni, um dos primeiros a usar a estratégia de postar cortes nas redes sociais, postou um vídeo em 2021 ironizando sobre essa prática e ensinou aos seus seguidores como produzir um podcast falso:
"O vídeo viralizou e empresas começaram a fazer esse tipo de corte também. Chegou a um ponto em que havia mais cortes de podcast fakes do que dos reais" disse, em entrevista ao Estadão.
Essa tendência levanta uma questão sobre o quanto as redes sociais impactam na vida dos usuários e qual é o limite na busca das visualizações. Para a psicóloga Marcela Lamastra, pós graduanda em Terapia Cognitivo comportamental pela PUCRS, essa tendência está relacionada ao FOMO, que em português significa "medo de ficar de fora":
"O problema é muito mais sobre a pessoa que acha que está enganando alguém, ela pode até conseguir! Mas é uma reflexão a ser feita: Porque ela está tentando fazer algo só porque todo mundo faz? E a reflexão é também pra quem consome, será que eu estou consumindo essa pessoa só porque ela apareceu com um microfone e com um fone de ouvido bacana?"
Quem está acostumado a assistir cortes de podcasts, agora pode ficar mais atento aos conteúdos que passam pela timeline e buscar ou não por quem foi chamado para podcasts de verdade.
Foto de Destaque: Microfone de podcast. (Site Wired Uk)