Contratada pelo Programa Médicos pelo Brasil há oito meses, Ana Caroline Marques de Souza é a única médica na unidade básica de saúde (UBS) de Auaris, região pertencente à Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Atuando em uma estrutura precária, com escassez de remédios e, em geral, sem transporte disponível, Souza relatou para o jornal O Globo sobre a sua rotina de trabalho dentro da crise humanitária vivenciada pelo povo Yanomami, resultado do avanço do garimpo ilegal na área.
A unidade é dividia em três setores, um consultório, uma área de internação e observação e a casa dos funcionários, onde ficam pelo período de 15 a 30 dias. De acordo com a médica, a UBS já realizou cem atendimentos em um dia e também enfrentou a aglomeração de internados.
“Os pacientes que precisam ficar internados ou sob observação — o que acontece muito, por não conseguirem tomar o remédio sozinhos ou por estarem fragilizados e não conseguirem voltar andando — ficam aglomerados na UBS. Na maioria das vezes, são duas pessoas por rede”, explica Souza.
Ana Caroline Marques de Souza é indígena de Aracruz (ES) (Foto: Reprodução/Karina Zambrana)
Um dos contratempos enfrentados na unidade de Auaris é a carência de remédios e aparelhos usados durante o tratamento medicamentoso. Medicações simples, como sulfato ferroso, dipirona e paracetamol, e remédios para os casos de maior complexidade, como adrenalina e antibióticos, estão na lista dos materiais faltantes, assim como esparadrapos e ataduras. Para resolver isso, Ana Caroline conta com o próprio salário e com a solidariedade de outros profissionais da área.
“Tem vezes que eu compro do meu próprio dinheiro e levo. A equipe se ajuda. Conseguimos bastante doação de colegas da saúde”, afirma. “Mas nem sempre há o que fazer. Os casos vão desde desnutrição a insuficiências respiratórias graves.”
Apesar do número de profissionais na unidade ter aumentado, ainda não é possível atender a demanda por consultas. Com uma equipe composta por um enfermeiro, entre quatro e cinco técnicos de enfermagem e dois guardas de endemia, a rotina de trabalho de Souza começa das 8h às 12h e depois prossegue das 14h às 18h. “Tudo somos nós que fazemos. Temos escala para limpar e cozinhar. Nos dividimos para preparar o café e o almoço dos pacientes e funcionários. Todos os dias, um funcionário tem a função de cozinheiro”, completa.
Para ampliar a rede de atendimento nas comunidades indígenas, esses profissionais de saúde também se deslocam pela região, seja a pé ou de barco. O acesso às embarcações, entretanto, não está sempre à disposição. A fim de utilizar o transporte, a equipe de Auaris precisa pedir emprestado para o Exército ou para alguém da comunidade, uma vez que o barco do Distrito Sanitário sempre quebra.
Foto Destaque: Indígenas Yanomami. Reprodução/João Claudio