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Mais de 65 mil resgatados: a luta contra o trabalho escravo no Brasil em três décadas

Em 30 anos sessenta e cinco mil pessoas foram resgatadas de trabalho escravo no Brasil; Em 2024 dois mil resgates ocorreram em espaço urbano

28 Jan 2025 - 20h20 | Atualizado em 28 Jan 2025 - 20h20
Mais de 65 mil resgatados: a luta contra o trabalho escravo no Brasil em três décadas Lorena Bueri

Nos últimos 30 anos, cerca de 65,6 mil brasileiros foram resgatados de condições análogas à escravidão, em mais de 8,4 mil ações fiscais realizadas pelo governo federal. É um número alarmante, que revela a persistência de práticas de exploração em pleno século XXI. Esses dados, divulgados pelo Ministério do Trabalho nesta terça-feira (28), no Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, mostram que a escravidão contemporânea ainda é uma ferida aberta no Brasil.

Por trás de cada número está uma vida, uma história de luta pela dignidade. Como a de Leda Lúcia dos Santos, que passou décadas trabalhando como empregada doméstica sem receber salário. Entregue a uma família na infância, Leda nunca teve a chance de estudar ou brincar como uma criança deveria. "Trabalhava muito, como se fosse um adulto", relembra ela. Após ser resgatada, aos 61 anos, sua luta agora é por um recomeço.

Outro caso emblemático aconteceu em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, em 2023. Trabalhadores foram atraídos da Bahia com promessas de bons salários para a colheita de uvas. Ao chegarem, enfrentaram jornadas exaustivas, alimentação estragada e até violência física. Foram 207 pessoas resgatadas, que hoje carregam cicatrizes emocionais profundas. "A proposta era boa, mas o que vivemos foi um pesadelo", desabafou um dos resgatados.


Auditoria e fiscalização em ação contra a escravidão (Foto: reprodução/MPT)


Cenário atual: o aumento das denúncias

Em 2024, o governo federal realizou 1.035 ações fiscais, que resultaram no resgate de 2.004 trabalhadores submetidos a condições degradantes. Apesar de ser um número menor do que o de 2023, quando mais de 3,1 mil pessoas foram resgatadas – o maior índice dos últimos 14 anos, a luta continua intensa.

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, o número de denúncias cresce ano após ano. Em 2023, o Disque 100 recebeu 3.430 denúncias de trabalho escravo, um aumento de 61% em relação ao ano anterior. Já em 2024, foram 3.959 denúncias, o maior número desde a criação do canal, em 2011. Esses dados mostram que, embora a prática ainda persista, a conscientização da população está aumentando.

A face da exploração: quem são os mais afetados?

As atividades mais associadas ao trabalho análogo à escravidão variam entre o meio rural e urbano. Em 2024, os setores com maior número de resgatados foram:

  • Construção civil: 293 pessoas;
  • Cultivo de café: 214 pessoas;
  • Cultivo de cebola: 194 pessoas.

Um dos resgatados em uma operação no Amazonas, exemplifica a dureza dessa realidade. Após sofrer um acidente enquanto trabalhava em uma área de desmatamento ilegal, ele ficou sem cuidados médicos por horas. "Só sofríamos humilhação. Nos tratavam como nada", desabafou.


A maioria dos regastes tem ocorrido em áreas urbanas (Foto: reprodução/ASCOM MPT)


Caminhos para mudar o futuro

O trabalho análogo à escravidão está claramente definido no Código Penal: submissão a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, sujeitando o trabalhador a condições degradantes ou restrição de locomoção devido a dívidas. Mas mais do que leis, o que essas pessoas precisam é de um sistema que as acolha e as ajude a reconstruir suas vidas.

Hoje, quem é resgatado tem direito ao Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado – três parcelas de um salário-mínimo –, além de apoio da rede de Assistência Social. Ainda assim, muitos lutam para superar os traumas e recomeçar.

Enquanto isso, o Ministério do Trabalho desenvolve políticas específicas para proteger grupos vulneráveis, como mulheres e trabalhadores domésticos, buscando atacar a raiz do problema.

Denuncias anônimas ajudam no combate ao trabalho escravo 

O Sistema Ipê, disponível na internet, oferece uma plataforma para denúncias anônimas de casos de trabalho escravo. Qualquer pessoa que testemunhar ou tiver conhecimento de situações suspeitas pode utilizar o sistema para comunicar as autoridades, garantindo sigilo e segurança ao denunciante. As informações fornecidas são essenciais para que as investigações sejam conduzidas de forma eficaz, permitindo a proteção e o resgate das vítimas. Cada denúncia registrada contribui para o enfrentamento do trabalho escravo e a promoção da dignidade humana

Foto Destaque: Por trás de números frios, histórias de sofrimento e resistência ganham voz, dia 28 de janeiro, dia nacional contra o trabalho escravo (Reprodução/MPT)

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