Somente nos dois primeiros anos de pandemia, 40.830 crianças e adolescentes ficaram órfãs de mãe devido a Covid-19 no Brasil. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (26) pelo Observatório de Saúde de Infância, realizado por pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O coordenador do Observa Infância, Cristiano Boccolini, acredita que existe uma crise sanitária instalada no país e que o impacto da pandemia na vida dessas crianças e adolescentes exige que sejam feitas medidas de urgência de políticas públicas intersetoriais de proteção à infância. “Considerando a crise sanitária e econômica instalada no país, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila para o ingresso nos programas sociais, é urgente a mobilização da sociedade para proteção da infância, com atenção prioritária a este grupo de 40.830 crianças e adolescentes que perderam suas mães em decorrência da Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia”, aponta o coordenador.
Para a pesquisadora do Laboratório de Informação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), “é certo que a morte de um dos pais, em particular da mãe, está ligada a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o bem-estar da família, afetando profundamente a estrutura e a dinâmica familiar. As crianças órfãs são mais vulneráveis a problemas emocionais e comportamentais, o que exige programas de intervenção para atenuar as consequências psicológicas da orfandade”.
A pesquisa foi feita a partir dos números de mortes da doença registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) entre nos anos de 2020 e 2021, e nos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) entre 2003 e 2020. Segundo Cristiano, a cada mil bebês que nasceram nos dois primeiros anos da pandemia, uma mãe morreu no país. “A pesquisa mostra que a Covid-19 foi responsável por um terço de todas as mortes relacionadas a complicações no parto e no nascimento entre mulheres jovens, o que representa um aumento de 37% nas taxas de mortalidade materna no Brasil, em relação a 2019, quando ela já era alta. A cada mil bebês nascidos vivos, uma mãe morreu no Brasil durante os dois primeiros anos da pandemia”, afirma o pesquisador.
Covid-19 foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no Brasil em 2020 e 2021 (Foto: Reprodução/Agência Brasil)
De acordo com os autores da pesquisa, houve demora na adoção de medidas de saúde pública precisas para o controle da doença no país, o que acabou agravando ainda mais a disseminação do vírus, resultando em perdas de vidas humanas que poderiam e deveriam ter sido evitadas. “Como consequência da gestão inadequada da pandemia, além de criar uma legião de órfãos, o Brasil perdeu cerca de 19 anos de vida produtiva devido à morte de adultos jovens por Covid-19”, argumenta Cristiano.
O artigo é assinado pelos pesquisadores Cristiano Boccolini, Célia Landmann Szwarcwald (Fiocruz), Wanessa da Silva de Almeida (Fiocruz), Adauto Martins Soares Filho (UFMG) e Deborah Carvalho Malta (UFMG), além de financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Bill e Melinda Gates e pela Fiocruz (Ideias Inovadoras).
19% das mortes registradas na pandemia são por Covid-19
O estudo revela que nos anos de 2020 e 2021, a Covid-19 foi responsável por um quinto de todas as mortes registradas no Brasil, que equivale a 19%. A pesquisa calculou as taxas de mortalidade por Covid-19 de acordo com a faixa etária, escolaridade e sexo. “Até os 30 anos de idade, a taxa de mortalidade por Covid-19 é similar entre homens e mulheres, mas começa a se distanciar a partir desta faixa etária. No total, a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens foi 31% mais alta que entre mulheres”, destaca o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.
“A faixa etária de 40 a 59 anos foi a que apresentou a maior proporção de vítimas da Covid-19, em comparação com a mortalidade por outras causas. Neste grupo, um a cada quatro brasileiros que morreram em 2020 e 2021 tiveram o óbito relacionado à Covid-19”, informa Cristiano.
Observa Infância
O Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) é uma iniciativa de divulgação científica que leva conhecimento à sociedade com dados e informações sobre a saúde de crianças de até 5 anos.
Fonte: Agência Fiocruz
Foto Destaque: A cada mil bebês que nasceram nos dois primeiros anos da pandemia, uma mãe morreu no Brasil. Reprodução/Freepik/Jornal da USP