O Ministério da Saúde do Japão autorizou o uso de pílulas abortivas até a nona semana de gestação. O aborto é autorizado no país desde 1948, sendo possível até a 22ª semana de gravidez e, até então, somente realizado por meio de procedimento cirúrgico. A decisão foi comunicada ao setor da saúde na última sexta-feira (28).
A opção abortiva já é utilizada em países como a França (desde 1988) e os Estados Unidos (desde 2000). No Japão, o medicamento fornecido será do laboratório britânico Linepharma, seguindo um pedido de autorização protocolado em 2021. O tratamento é composto pela combinação de duas drogas, sendo a última ingerida dois dias após a primeira. Elas atuam sobre o hormônio progesterona, o que interrompe o desenvolvimento da gravidez, e podem provocar sintomas como contrações e sangramento.
Adolescentes Japonesas (Foto: Reprodução/JIJI/AFP)
Decidido a permissão do procedimento via oral, o país agora enfrenta a repercussão de ativistas que reivindicam a acessibilidade do tratamento. Isso porque o tratamento integral não será reembolsado pelo seguro saúde no país. De acordo com informação da NHK, emissora pública do Japão, o custo das pílulas mais a consulta médica ficará em torno de 100.000 ienes (moeda local), equivalente a R$ 3.700.
Além das pílulas abortivas, as campanhas também se organizam em prol de maior acesso às pílulas do dia seguinte — que previnem a gravidez —, pois o consumo só é permitido por meio de autorização médica e também sem direito a reembolso. E a dificuldade financeira não é o único obstáculo para as mulheres japonesas, pois elas também consideram o consentimento do aborto baseado em uma política patriarcal, já que ele precisa da autorização do cônjuge ou companheiro.
Japonesas no Dia Internacional da Mulher (Foto: Reprodução/Blog Sen Enderezo)
O país asiático tem um sólido histórico de manutenção da desigualdade de gênero. Apesar do Japão ser um dos primeiros países a autorizar o aborto, o propósito da iniciativa não foi baseado em preservar a liberdade e a saúde da mulher, mas sim em não permitir o nascimento de "inferiores" dentro da interpretação de eugenia da época — que só se relaciona com quem é do mesmo nível social e cultural.
Foto Destaque: Pílula Abortiva - Foto: Evelyn Rockstein/Reuters