Novas imagens de satélite mostram que pelo menos sete aviões de guerra russos foram destruídos após explosões abalarem a Crimeia na última terça-feira (9). Desde a Segunda Guerra Mundial, essa poderia ser a maior perda de aeronaves militares de Moscou em um único dia, apontou a CNN.
Segundo Peter Layton, membro do Griffith Asia Institute e ex-piloto da Força Aérea Australiana, que examinou fotos de satélite da empresa de monitoramento Planet Lab mostrando a Base Aérea de Saki antes e depois das explosões, os aviões de guerra destruídos parecem ser bombardeiros Su-24 e caças multifunção Su-30.
Além disso, mais dois aviões de guerra parecem ter sido danificados, segundo Peter Layton. Na quarta-feira, as forças armadas ucranianas adicionaram nove aeronaves à contagem de equipamentos militares russos que dizem ter sido destruídos desde a invasão russa ao país, em fevereiro.
Imagem de satélite de 10 de agosto, após explosões, mostra os restos carbonizados de pelo menos sete aeronaves russas. (Foto: Reprodução/Planet Lab)
O Ministério da Defesa ucraniano disse que não poderia determinar a causa das explosões na base aérea, que de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, fica 225 km atrás da linha de frente russa.
Já o Ministério da Defesa russo disse que as explosões foram causadas por munição de aviação, mas não disse como ela foi detonada.
Vídeos que circulam nas redes sociais, verificados e geolocalizados pela CNN como sendo da base aérea, mostram fumaça subindo da base antes de ser abalada por três grandes explosões de fogo que causaram nuvens de cogumelos negros no céu. Duas das explosões acontecem quase simultaneamente e uma terceira ocorre logo em seguida.
As imagens de satélite também mostram que as explosões queimaram uma faixa de vegetação ao redor de uma parte da base aérea.
Explosões simultâneas
Segundo Peter Layton, as imagens de satélite apontam para um ataque deliberado, em vez de um acidente, devido à presença de três grandes crateras. O que quer que tenha causado as crateras pode ter causado a explosão de outras munições russas, pontuou Layton.
“Se uma bomba explode, ela pode enviar fragmentos muito quentes e de alta velocidade para qualquer bomba adjacente e detoná-la. Isso é chamado de propagação explosiva”, destacou Layton. “Na imagem da base aérea russa, você pode ver três fontes de explosão. Elas detonaram aeronaves adjacentes que parecem ter bombas nelas. A explosão se propagou.”
As munições russas não são projetadas para evitar tais explosões de reação em cadeia, acrescentou ele.
Layton observou ainda, que o tipo de destruição na base aérea é uma reminiscência do que levou ao naufrágio do cruzador da Marinha russa Moskva no início da guerra na Ucrânia.
“O Moskva também teve uma explosão interna quando as ogivas dos mísseis de cruzeiro antinavio a bordo se autodetonaram”, declarou. “Este foi o enchimento explosivo queimando até a explosão."
“As armas russas são menos seguras do que as armas ocidentais em termos da sensibilidade do enchimento explosivo das ogivas. Isso se deve pelo menos ao fato de a maioria das armas serem antigos estoques ex-soviéticos e tecnologia tão antiga”, afirmou.
As imagens capturadas pelo Planet Labs mostram que outras aeronaves não destruídas, mas possivelmente danificadas, foram afastadas da área onde ocorreram as explosões.
As explosões também causaram danos em uma cidade próxima, onde as janelas de alguns prédios foram estilhaçadas, segundo a agência de notícias estatal russa TASS. Alguns arranha-céus ficaram sem energia elétrica, enquanto lojas e um centro cultural foram danificados, informou a TASS.
Quatro helicópteros e um avião quadrimotor parecem ter deixado a base aérea nas últimas 24 horas, segundo as imagens de satélite tiradas antes e depois do ocorrido.
Disputa de Volodymyr Zelensky e Vladimir Putin pela Crimeia
Desde 2014, a Base Aérea de Saki abriga um regimento de aviação naval russo, parte da Frota do Mar Negro da Rússia, de acordo com o serviço de notícias estatal RIA-Novosti.
A Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, enviou forças militares para o que era até então uma região autônoma do sul da Ucrânia com fortes lealdades russas.
Inúmeros soldados de língua russa utilizando uniformes sem identificação invadiram a península no início de março daquele ano. Duas semanas depois, a Rússia completou a anexação da Crimeia em um referendo considerado ilegítimo tanto pela Ucrânia quanto por grande parte do mundo.
Na última terça-feira (9), o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que a guerra começou com a Crimeia e deve terminar com a libertação dela.
“Esta guerra russa contra a Ucrânia e contra toda a Europa livre começou com a Crimeia e deve terminar com a Crimeia, com a sua libertação”, declarou Zelensky.
O número de aviões destruídos na base provavelmente marca a data como um dos dias mais destrutivos para a aviação militar russa em mais de sete décadas, incluindo a era soviética.
Um exame da CNN dos poucos dados disponíveis sobre perdas de aeronaves militares durante os tempos soviéticos e na Rússia moderna não indica um número tão substancial de um incidente em um único dia.
Segundo comunicado emitido pelo Ministério da Saúde da Crimeia, as explosões mataram pelo menos uma pessoa e outras nove ficaram feridas.
Foto destaque: Fumaça sobe depois que explosões foram ouvidas na direção de uma base aérea militar russa perto de Novofedorivka, na Crimeia, em 9 de agosto de 2022. Reprodução/UOL