Imagine receber em seu smartphone, bem no meio da madrugada, o aviso sobre um terremoto de magnitudes 4,4 e 5,5, só que por engano. Pois foi exatamente isso que aconteceu com parte dos moradores dos estados de São Paulo , Rio de Janeiro e Minas Gerais, por volta das 2h de sexta-feira, 14.
É que o serviço de alerta de terremoto preventivo, utilizado pelo Google, disparou uma notificação sobre o suposto tremor para aparelhos com sistema operacional Android, após um erro de leitura de seu próprio sistema de alerta para abalos sísmicos, causando assim o susto.
E não era pra menos. O aviso comunicava sobre a possibilidade do fenômeno e também informava que o epicentro do abalo foi no mar, a 55 km de Ubatuba (cidade do litoral do estado de SP), o que poderia levantar suspeitas até de uma possível formação de tsunami.
Ainda de acordo com a notificação recebida pelos usuários do Android, os supostos tremores tiveram magnitudes diferentes: em Ubatuba 4,4; na Baixada Santista, 5,5 graus na escala Richter, que vai até 10. Além disso, havia um texto com recomendações de medidas de segurança a serem adotadas de imediato para quem estivesse em casa, orientações gerais sobre fuga e os locais a serem evitados em caso de o evento sísmico ocorrer.
A mensagem em detalhes com orientação de medidas de segurança que usuários de celulares Android receberam por engano (Foto: Reprodução/Android Earthquake Alerts System/faroldabahia)
Órgãos oficiais negam a ocorrência de abalos sísmicos
Para alívio de todos, nenhum tremor de terra foi registrado pelos principais órgãos oficiais do Brasil e do exterior. O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico (ESMC), por exemplo, não registraram quaisquer ocorrências.
Segundo a própria Defesa Civil do estado de São Paulo, não houve sequer emissão de alertas dessa natureza, ratificando assim a falha de detecção do sistema utilizado pelo Google. O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) e o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UNB) também negaram a ocorrência de abalos sísmicos no litoral e na capital paulista.
E no Rio de Janeiro, por meio de uma nota oficial, o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN-RJ) pôs fim a qualquer boato sobre tremores no estado do Rio. E a Defesa Civil afirmou que tampouco emitiu avisos.
Abaixo, a nota da Defesa Civil do Rio de Janeiro negando o abalo sísmico:
“A Defesa Civil Estadual informa que não emitiu nenhum alerta de terremoto para o território fluminense na madrugada desta sexta-feira (14.02). Segundo o Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN-RJ), não há registro de abalo sísmico no Estado do RJ” .
Posicionamento da empresa Google sobre falha
Após a repercussão, o Google desativou o serviço de alertas via celulares Android. Por meio de uma nota oficial, a empresa pediu desculpas pelo equívoco, comunicou que vai investigar o ocorrido e explicou como funciona o sistema de avisos de terremotos. Confira o texto na íntegra:
“O Sistema Android de Alertas de Terremoto é um sistema complementar que usa celulares Android para estimar rapidamente vibrações de terremotos e oferecer alertas para as pessoas. Ele não foi desenhado para substituir nenhum outro sistema de alerta oficial. Em 14 de fevereiro, nosso sistema detectou sinais de celulares em localização próxima ao litoral de São Paulo e disparou um alerta de terremoto aos usuários da região. Nós desativamos prontamente o sistema de alerta no Brasil e estamos investigando o ocorrido. Pedimos desculpas aos nossos usuários pelos inconvenientes e seguimos comprometidos em aprimorar nossas ferramentas” .
Google (Foto: reprodução/Getty Images Embed/NurPhoto)
Entenda como funciona o sistema de alerta de terremotos do Google
De acordo com informações do site Google, a detecção de tremores para o envio de alertas é feita, na maior parte dos casos, utilizando os celulares, que possuem o sistema Android, de seus próprios usuários. Os chamados “Acelerômetros Android”, presentes em smartphones, são tão sensíveis a abalos que são capazes de coletar milhões de pontos de dados exclusivos que sismômetros não fornecem.
Quando o acelerômetro identifica que uma vibração pode ser de um terremoto, o aparelho telefônico envia automaticamente um alerta para o detector Google, incluindo dados de localização. Após a análise desses pontos, a equipe do Google pode desenvolver alertas precoces e enviar mensagens com orientações sobre medidas de segurança.
Esse avanço tecnológico foi resultado de uma união entre o Google e os principais sismólogos. Eles realizaram um sistema capaz de detectar e avisar precocemente baseado em Android. “Essa abordagem usa os mais de 2 bilhões de telefones Android em uso ao redor do mundo como minissismômetros para criar a maior rede de detecção de terremotos do mundo; os telefones detectaram a vibração e a velocidade do tremor de um terremoto e alertaram os usuários do Android nas áreas afetadas”, informa o Google em seu site.
Apesar de ter falhado desta vez, em junho de 2023 foi diferente. Moradores da Baixada Santista e de cidades do Vale da Ribeira, ambos no estado de São Paulo, receberam avisos desse mesmo sistema em uma situação real de tremor de terra. Na época, as pessoas confirmaram os alertas pelo sistema Android.
Foto destaque: Estado de São Paulo (Reprodução/Getty Images Embed/Christopher Pillitz)