Em estado de Emergência em Saúde Pública, a Terra Indíngena Yanomami, que concentra aproximadamente 30,4 mil habitantes em Roraima, encara o aumento desenfreado de casos de desnutrição, sede e doenças, como a malária e a intoxicação por mercúrio, resultados do garimpo ilegal. De acordo com o Ministério da Saúde, são pelo menos 570 crianças mortas pela fome e por causas consideradas “evitáveis”, nos últimos anos.
Apesar do cenário marcado pela desassistência sanitária da população Yanomami, o Portal da Transparência revela: durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foram gastos R$ 5,44 bilhões com o Programa de Proteção e Recuperação da Saúde Indígena. Do orçamento total, que atingia R$ 6,13 bilhões, foram enviados R$ 872 milhões para a ONG Missão Caiuá, entidade evangélica que diz estar “a serviço do índio para a glória de Deus".
Em reportagem do jornal O Globo, o presidente da Urihi Associação Yanomami, Júnior Hekurari Yanomami, afirma que a ONG Caiuá realiza apenas a contratação de funcionários da área de saúde, mas que eles não têm entrado nas terras indígenas nos últimos quatro anos.
“O nosso maior problema é que disponibilizamos esses profissionais para o governo, técnicos de enfermagem, por exemplo, para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e os Distrito Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), que são os órgãos do governo que estão no local, mas o deslocamento do profissional, tirar das cidades e levar até as aldeias onde os indígenas estão, aí é de responsabilidade do governo federal”, expõe Cleverson Daniel Dutra, advogado da ONG Missão Caiuá, em entrevista para O Globo. “Eles que precisam contratar aeronaves ou terceirizar empresas. É responsabilidade deles.”
Para a gestão do presidente Lula, a crise humanitária envolvendo os Yanomami e os outros povos indígenas é resultado de um governo anterior omisso (Foto: Reprodução/Ricardo Stuckert)
Os dados do Portal de Transparência ainda mostram que, de R$ 59 milhões destinados às terras indígenas yanomami, R$ 51 milhões foram executados em 2022. Sobre a aplicação do dinheiro, Júnior Hekurari explica que grande parte do montante foi empregado na contratação de empresas de transporte aéreo, como aviões e helicópteros, que são utilizados apenas durante emergências, enquanto a prioridade deveria ser a compra de medicamentos.
“Os garimpeiros ficam intimidando, ameaçando profissionais para pegar remédios. Por causa desses problemas foram fechadas seis unidades básicas de saúde. Muitos yanomamis ficaram sem atendimento e morreram sozinhos sem nenhuma ajuda”, diz Hekurari.
No Brasil, as terras indígenas vêm sendo palco de confrontos violentos entre os povos tradicionais e os garimpeiros, com o avanço da mineração ilegal. Segundo o levantamento realizado pelo MapBiomas, o território Yanomami já perdeu 1.556 hectares para o garimpo ilegal.
Foto Destaque: Ex-presidente Jair Bolsonaro. Reprodução/Carolina Antunes