Em depoimento à Polícia Federal (PF), realizado no dia primeiro de março, o militar, Marco Antônio Freire Gomes confirmou a existência de uma minuta de decreto golpista, e que Jair Bolsonaro teria envolvimento direto na idealização do documento.
Reuniões
Segundo o ex-comandante, o mesmo tomou conhecimento do decreto em uma das reuniões convocadas por Bolsonaro, onde se encontravam os representantes das Forças Armadas e o então mandatário. Em uma reunião, realizada no dia sete de dezembro de 2022, após ter sido derrotado nas urnas em 30 de outubro, Bolsonaro teria apresentado a Freire Gomes e os demais comandantes, a ideia de decretar Estado de Defesa, através de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para, segundo ele, “apurar a conformidade legal do processo eleitoral” ocorrido em 2022.
Essa teria sido a primeira reunião com as Forças Armadas da trama golpista de Bolsonaro, já que Freire Gomes informou em seu depoimento que, uma semana depois foi convocada uma segunda reunião, novamente no Palácio da Alvorada. O objetivo era os comandantes tomarem ciência da “evolução” das conversas antidemocráticas. Desta vez, uma nova versão do texto foi apresentada aos comandantes, bem parecida com aquela encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e alvo da Operação “Tempus Veritatis”. Nela foram mantidas as mesmas medidas extremadas da versão anterior e adicionada a criação de uma Comissão de Regularidade Eleitoral, que se encarregaria de averiguar a confiabilidade das urnas eletrônicas e investigaria uma possibilidade de fraude.
Minuta do golpe (Foto: reprodução/Portal R7/Arquivo PF)
Oposição de Gomes e endosso de Garnier
Em suas mais de sete horas de depoimento, Freire Gomes garantiu que tentou alertar o ex-presidente sobre as possíveis consequências legais que enfrentaria caso continuasse com o plano antirrepublicano que apresentara, e que o Exército Brasileiro “não aceitaria qualquer ato de ruptura institucional”. O general ainda afirmou que o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se colocado à disposição do então presidente para ajudar nos próximos passos do plano, algo que já havia sido relatado por Mauro Cid em delações anteriores.
O depoimento de Freire Gomes aproxima bastante os alvos da operação da PF, especialmente Jair Bolsonaro, a arcarem com as devidas consequências penais por atentarem contra o Estado Democrático de direito. O que Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro vem tentando “esfriar”, visto que tem mudado consideravelmente seu discurso nos últimos depoimentos que concedeu.
Foto Destaque: Jair Bolsonaro e Freire Gomes juntos em ato das Forças Armadas (Foto: reprodução/Cristiano Mariz/O Globo)