O Brasil enfrenta uma série de desafios para lidar com os impactos do aquecimento global, que tem provocado fenômenos climáticos extremos, como ondas de calor, secas, alagamentos e ventanias. Segundo especialistas, as cidades brasileiras estão atrasadas na busca pela resiliência climática, que é a capacidade de resistir e se recuperar dessas situações.
Carlos Nobre, pesquisador especialista em climatologia do Instituto de Estudos Avançados da USP, afirma que os eventos que já estão ocorrendo no mundo são consequência de um aumento de 1,2º C a 1,3º C na temperatura média do planeta. Ele alerta que, se as metas do Acordo de Paris forem cumpridas e o aquecimento for limitado a 1,5º C, esses fenômenos serão ainda mais frequentes do que agora.
“Praticamente todas as cidades do Brasil, as grandes cidades, estão muito atrasadas. Nós temos realmente que tornar as populações brasileiras muito mais resilientes a esses extremos que não tem mais volta”, explica Nobre. Ele ainda sugere que é preciso fazer grandes investimentos dos governos em criar condições para as pessoas residirem em áreas sem risco, aumentar a quantidade de árvores para baixar a temperatura e reduzir as inundações, e diminuir as emissões de carbono, com o uso de energia renovável.
O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, explica que os casos de hoje são consequências de ações do passado e que é preciso se preparar para um futuro de mais eventos extremos, mais frequentes e mais impactantes.
“Se a gente zerasse as emissões de gases de efeito estufa, se parasse de acumular, digamos, poluição na atmosfera, ainda demoraria muitos anos até que os efeitos climáticos deixassem de ser sentidos. Então, é muito importante essa preparação para lidar com um futuro que será de mais eventos extremos, mais frequentes esses eventos extremos e cada vez mais impactantes”, explica Tasso.
Cerca de 321 municípios do Brasil participam de uma iniciativa das Nações Unidas que visa tornar as cidades mais resilientes até meados de 2030.
Cidades brasileiras sofrem com mudanças climáticas extrema (Foto: reprodução/Rede Globo/Jornal Nacional)
Em São Paulo, as chuvas dos últimos dias causaram oito mortes, alagamentos, quedas de árvores e falta de luz em mais de 30 mil endereços.
“A gente não está pedindo para eles fazer de graça. A gente paga pelo serviço, existe um contrato. Eu preciso que eles atendam esse contrato que eles fazem com a população”, relata Amélia de Jesus Santos, doméstica afetada pelas chuvas intensas.
Moradores de um bairro da Zona Sul protestaram contra a demora no restabelecimento da energia. Tasso Azevedo afirma que uma cidade resiliente precisa ter um sistema de energia que consiga ser religado rapidamente, o que não aconteceu na capital paulista.
Especialistas climáticos destacam a necessidade de um plano de ação mais ágil e eficaz para lidar com eventos climáticos fortes. Eles enfatizam que a transformação do cenário atual envolve a redução das emissões de carbono, investimentos em energia renovável, aumento do número de árvores para diminuir a temperatura e minimizar inundações, além de realocar pessoas que residem em áreas de risco.
Foto Destaque: Fortes chuvas causam oito mortes em São Paulo. (Reprodução/Rede Globo/Jornal Nacional)