A área itinerante nomeada Cracolândia, no Centro de São Paulo, é um ambiente caótico com centenas de pessoas aglomeradas dia e noite. Pessoas que todos os dias caminham sem direção, atraídas pela mesma coisa: o Crack. Nas últimas décadas, a Cracolândia dominou as páginas de jornais brasileiros e estrangeiros. As histórias são sempre as mesmas: a violência e a falta de políticas públicas para solucionar o problema. A região é considerada como um dos problemas urbanos de saúde, segurança pública e social mais difíceis de solucionar no Brasil.
A presença dos usuários é motivo para a desvalorização imobiliária, insegurança, queda nas vendas do comércio nas redondezas. O bairro Campos Elíseos nasceu como uma região nobre na Cidade de São Paulo. A primeira área planejada para abrigar os Barões de Café, hoje nem possui lembranças dessa época.
Rodoviária da Luz antes de ser ocupada por pessoas em situação de rua (Foto: reprodução/G1)
Como tudo começou
O bairro inaugurou, em 1961, a primeira rodoviária da cidade, a Rodoviária da Luz. O lugar se tornou o principal ponto de chegada à metrópole e o divisor de águas para região construída para a Elite Paulistana. A chegada dos imigrantes atraiu o comércio popular, tornou a região movimentada e poluída devido ao grande fluxo de veículos.
O cenário foi alterado quando Paulo Maluf inaugurou, em 1982, a maior rodoviária da América Latina, a do Tietê. Meses depois, a Luz foi desativada, causando um esvaziamento repentino no bairro, nos hotéis e comércios, explica o pesquisador urbanista Aluízio Marino.
A área, que antes era muito movimentada, foi esvaziada, e rapidamente ocupada por pessoas em situação de rua.
Confronto entre usuários e a polícia são constantes na Cracolândia. (Foto: reprodução/G1)
Relato de moradores
A moradora, que pediu para não ter seu nome verdadeiro revelado em uma reportagem, contou como era a região antes da Cracolândia: "Aqui era considerada uma região nobre. Com estação de trem, comércios nos arredores, uma sala de teatro, o Liceu Sagrado Coração de Jesus. Eu morava na [avenida] Nove de Julho, mas queria comprar um apartamento novo. Era tudo muito lindo, então compramos um aqui perto. Eu achei o bairro interessante porque era perto da rodoviária também. E, na época, não tinha crack".
“As pessoas começaram a dormir na marquise da rodoviária. Mas, no começo, eram poucos e não incomodava. Anos depois, fechavam a rua”.
Glória, nome fictício dado à moradora que vive há mais de três décadas na região, diz ter comprado um apartamento no bairro, motivada pela quantidade de serviços que havia em Campos Elíseos na década de 1980.
Foto Destaque: Cracolândia, o maior ponto de usuários de droga do Brasil. Reprodução/ Revista Oeste.