Depois de terem sido vítimas de fraude bilionária sem precedentes e institucionalizada há anos no próprio Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), agora, os aposentados e pensionistas beneficiários da autarquia ligada ao governo federal estão sofrendo mais um novo golpe.
Só que, desta vez, não mais praticado por membros do alto escalão do órgão federal. Se a primeira fraude consistia em obter dinheiro dos segurados da Previdência Social por meio de descontos de falsos créditos consignados e associações a sindicatos nunca solicitados, o novo golpe pretende fazer dinheiro sob a promessa de ressarcir esses valores roubados pelo esquema do INSS, contanto que seja paga uma tarifa. A notícia do crime foi repercutida em matéria do site “g1.Globo” publicada na última sexta-feira (16).
Entenda o novo golpe
De acordo com o “g1”, a nova modalidade de estelionato contra os beneficiários funciona da seguinte maneira: os criminosos enviam boletos e mensagens para aposentados e pensionistas que foram lesados na grande fraude cometida pelo INSS, recentemente descoberta pela Controladoria Geral da União (CGU).
Por meio dessa comunicação, é feito um pedido para que seja paga uma taxa do boleto para, então, ser liberado um suposto dinheiro como ressarcimento pela fraude da autarquia federal. Como se não bastasse, os bandidos ainda ameaçam bloquear o referido suposto valor de cobertura do prejuízo se o pagamento da taxa não for efetuado imediatamente.
Uma das vítimas do crime, que preferiu não se identificar por razões óbvias, contou ao “g1” que recebeu uma mensagem de voz e um boleto falso. Ela disse que é uma cópia fiel de um documento oficial numa página digital que simula o portal do governo "gov.br"
Segundo o relato da vítima, na mensagem ouve-se a voz de uma mulher que informa que o beneficiário está a um passo de receber a indenização.
Em outra parte da gravação, é feita uma promessa de pagamento de ressarcimento por meio da chave PIX do próprio beneficiário — o que segundo o INSS, esse não é o procedimento padrão.
"É necessário efetuar o pagamento do imposto sobre o valor da sua indenização [...]. Após você finalizar o pagamento sobre essa taxa de imposto, você receberá o valor completo na sua chave PIX no mesmo minuto", diz outro trecho da mensagem do golpe.
Valores e prazo no boleto falso
No conteúdo das mensagens de voz, os estelionatários ressaltam a necessidade de o pagamento ser concluído com rapidez sob pena de o dinheiro do ressarcimento ser bloqueado.
De acordo com as informações do idoso prejudicado pelo INSS, em entrevista ao “g1” ele informou que os bandidos cobram uma taxa de R$ 61,90 no boleto falso e R$ 5.960,50 pelo suposto ressarcimento do dinheiro que o órgão federal deve aos aposentados.
No texto dos documentos falsos enviados há os termos "indenização governamental" e "vazamento de dados pessoais".
Os golpistas também adotaram como estratégia o envio de um link para agilizar a suposta devolução dos valores descontados. O objetivo da farsa é roubar dados pessoais das pessoas.
Alertas do INSS sobre o novo golpe
O órgão tem alertado as vítimas sobre o novo estelionato e sobre as notícias falsas desde que a situação veio à tona. Em entrevista concedida ao site “g1” na última quinta-feira (15), o presidente do INSS, Gilberto Waller, advertiu que o órgão só faz contato com os cidadãos por meio do aplicativo "Meu INSS" — a ser baixado e instalado pelo aparelho celular smartphone na seção “Play Store”, onde o solicitante deverá digitar "Meu INSS" no campo de busca.
Waller relembra que o próprio telefone 135 do Instituto não faz ligações para os clientes, sendo só um canal de chamadas receptivas. O presidente também elencou alguns cuidados a serem adotados pelos aposentados, a fim de que se previnam contra golpes:
• não aceite intermediários para realizar procedimentos;
• não abra links
• não assine quaisquer documentos
• não forneça dados pessoais de documentos
"O INSS não cobra nada de você. Então, fique atento. Se alguém bater na sua porta, oferecendo uma facilidade, é golpe", alertou o presidente.
Por meio da assessoria de imprensa do INSS, o órgão orientou os aposentados beneficiários a não aceitarem ajuda de estranhos, tampouco repassarem seus dados pessoais.
Ainda segundo o setor de comunicação da autarquia federal, é necessário ser cético com relação a mensagens e telefonemas, desconfiando das ofertas de vantagens e de promessas de soluções fáceis. A assessoria também orienta que, se o beneficiário tiver dúvidas, deverá buscar informações seguras só por meio dos canais disponíveis do INSS ou pelas páginas oficiais do governo.
Vídeo com orientações sobre como reconhecer descontos irregulares e como proceder (Vídeo: reprodução/Youtube/@radiobandeirantesoficial)
A maior fraude da história do Brasil ensejou a nova fraude
O novo golpe do ressarcimento que está na praça veio na esteira de outro que já vinha sendo praticado, contudo, por servidores do alto escalão do próprio INSS. O crime veio à tona em abril deste ano e continua escandalizando o País a cada nova informação que surge sobre o caso, já que continua sob fase de investigação.
O que se sabe até agora sobre essa fraude que já está sendo considerada como a maior da história do Brasil, devido os valores vultosos e sua complexa trama, é que uma auditoria da Controladoria Geral Da União (CGU) descobriu um esquema fraudulento de cifras bilionárias, no qual descontos indevidos em folha de pagamento dos aposentados e pensionistas do INSS eram realizados já há alguns anos.
Os auditores descobriram que, de forma criminosa, empréstimos consignados e associações a seguros e a sindicatos, nunca antes, contudo, solicitados pelas vítimas, eram atribuídos ao nome de milhares desses beneficiários da Previdência Social. Desta forma, as pessoas sofriam os descontos indevidos automaticamente em folha sem saber o porquê ou sem nem ter conhecimento da existência das deduções.
O aplicativo Meu INSS de uma beneficiária do órgão federal indicando que ela sofreu desconto associativo indevido nos últimos cinco anos (Foto: reprodução/Joedson Alves/Agência Brasil)
A CGU começou desconfiar do golpe ao perceber que houve um significativo aumento de valores cobrados na folha dos aposentados e pensionistas relativos a descontos chamados associativos.
Por meio de pesquisa com os beneficiários, os auditores identificaram que 97% deles nunca tinham feito solicitações de adesão, nem reconheciam as cobranças. A golpe evidenciou que o INSS não verificava as autorizações dos descontos e que há a possibilidade de falsificação de documentos.
Na prática, além de os cidadãos terem sofrido os descontos indevidos na folha, reduzindo assim a renda mensal da aposentadoria ou da pensão, que já costuma ser pouca, nenhum deles recebia em troca os benefícios prometidos pelas entidades às quais foram indevidamente associados, tais como: descontos em academias, em farmácias e drogarias, planejamento funerário, planos de saúde e etc. O INSS suspendeu todos os convênios.
Vídeo de reportagem que orienta o beneficiário do INSS a solicitar o ressarcimento pelas vias legais (Vídeo: reprodução/Youtube/@bandjornalismo)
Fraude com valores vultosos
A quantia exata desviada na fraude e o número de pessoas prejudicadas ainda não foram totalmente calculados para se ter a ideia completa da dimensão do prejuízo. À medida que as investigações avançam e a cada desdobramento do caso surgem mais e novos elementos. Inicialmente, as autoridades federais falavam em valores na casa das centenas de milhares.
Passadas algumas semanas, conforme apuração do “g1” e dados de outros veículos da imprensa nacional, segundo a PF, até o momento, estima-se que a fraude do INSS já tenha movimentado pouco mais de R$ 6 bilhões.
Segundo a matéria do “g1” de sete de maio, após o escândalo, seis servidores públicos da autarquia federal foram afastados, inclusive o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. O presidente Lula exonerou o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
Foto Destaque: fachada do prédio sede da Previdência Social-INSS (Reprodução/X/@revistaoeste)