Não é surpresa para ninguém que a China é um dos maiores mercados do mundo. Segundo Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP Inc, o país é “grande demais para ser ignorada na hora de investir”.
Mas diferentemente dos mercados norte-americano e europeu, investir na Asia não é simples, no atual cenário existem poucas opções no Brasil direcionadas para o investidor como pessoa física comum.
Para os especialistas, há uma maneira mais prática de ter acesso a esse mercado, que é através de fundos de investimentos ou ETFs. O XINA11, é um exemplo, é um EFT listado na Bolsa de Valores de São Paulo e acompanha empresas chinesas de médio e grande porte, que são listadas em mercados ao redor do mundo. “É a opção mais acessível que temos para investidores comuns. Aqueles que não têm familiaridade com a Bolsa de Valores também podem comprar cotas em fundos que acompanham indexadores chineses”, indicou Rodrigo.
No Brasil os fundos, só estão disponíveis para as grandes empresas ou companhias voltadas à tecnologia. Mas, no entanto, nenhum dele possuem gestões ativas, apenas acompanham os índices que já existem. Os fundos que tem gestão ativa de profissionais especializados no mercado chines estão disponíveis, no mercado atual, apenas para os investidores qualificados, que são os profissionais do mercado financeiro ou pessoas que possuem pelo menos 1 milhão de reais aplicado.
Mapa da China (Foto: Reprodução/Brasil Escola)
Apesar do tamanho de mercado de capitais e de variedade de opções de investimentos, os analistas divergem sobre se é um bom momento para apostar em empresas da China. Segundo Rodrigo, a XP tem recomendação de comprar ‘neutro’ para o país asiático. Este receito vem se baseando nas interferências estatais do mercado. “Ainda temos muita incerteza com a China. Tecnologia e edtechs, por exemplo, são setores muito impactados pela política e no curto e médio prazo podem trazer ruídos para a carteira”, afirmou Rodrigo Sgavioli.
No mês de setembro o governo chinês limitou para 3 horas por semana, o uso permitido para menos de 18 anos consumirem jogos online, a partir daí todas as crianças de adolescente só poderão utilizar videogame no horário entre 20h e 21h nas sextas-feiras, sábados, domingo e feriados. No mês de julho o país também limitou o lucro das empresas relacionadas à tecnologia da educação e que vinham apresentando bons desempenhos. “Com isso, o governo pode utilizar essas empresas para treinamentos estatais, sem custos competitivos”, explicou Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Mackenzie. Em conjunto dessas limitações, no mês de outubro, o governo dar aulas de reforço e atividades extracurriculares realizadas nos finis de semana.
Vladimir ainda explicas que antes de investir é necessário entender que o mercado chines é diferente dos demais. “Não há liberdade econômica. O preço dos ativos não reflete o real custo de oportunidade das empresas”, disse o professor, que ainda faz um alerta para o investidor “não pode se empolgar, precisa ter clareza dos riscos”.
“Grandes empresas chinesas tendem a crescer até um determinado ponto, que é quando o governo passa a enxergá-las como um risco político. Vale a pena investir desde que não comprometa uma boa parte da carteira”, orientou Vladimir.
Escolher qual setor investir é essencial para aqueles que querem entrar no mercado. A construção civil era promissora, mas após a crise Evergrande neste ano, muitos analistas garantem que deve demorar a se recuperar. Outros setores tradicionais como manufatura, indústria têxtil e de carvão, são desaconselhadas pelo professor. Ele afirma que esses segmentos possuem baixas intensidades tecnológicas e a china vem priorizando a produção de bens com o maior valor agregado.
Outro ponto a se considerar é o objetivo do país, que no momento é se tornar o pioneiro em energia limpa. “A China está investindo com força em eletro mobilidade individual e coletiva, energia solar, e empresas de sustentabilidade”, disse o professor.
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Andrew Reider, CEO da gestora de patrimônios WHG, explicou que abrir uma conta em uma instituição financeira da China não é uma tarefa fácil. “O investidor pessoa física não consegue comprar uma ação diretamente de Hong Kong. O investidor institucional precisa abrir conta em bancos que tenham licenças locais para operar na China e, então, investir através deles”, explicou ele.
Na hora de decidir em qual setor investir, Andrew recomenda aqueles que estão relacionados com energia renovável, carros elétricos, baterias, painéis solares, indústria eólica, semicondutores e inteligência artificial. Mas, no entanto, a principal orientação do especialista é investir no mercado de renda fixa chinês, também através de fundos. “A renda fixa é muito diferente do resto do mundo, porque enquanto todos estão com juros reais negativos, incluindo o Brasil, a China segue com juros real positivo e opera muito bem em momentos de risco”, disse Andrew.
É importante ressaltar que todos os títulos de renda fixa da China são emitidos pelo Estado, o que significa que têm risco soberano. “Este ano foi o teste perfeito. Houve problemas com a Evergrande, ruídos dentro do Partido Comunista Chinês, pandemia e mesmo assim a China deve diminuir os juros enquanto o resto do mundo aumenta”, explicou o CEO da gestora de patrimônios WHG, que ainda afirma, “uma estratégia de proteção de carteira interessante é comprar ações dos Estados Unidos e renda fixa chinesa”.
Já para Rodrigo Sgavioli, head da XP Inc, a China é muita das vezes vista com curiosidade pelo investidor, mas antes de comprar os papeis ou cotas é importante saber sobre o retorno ao longo prazo e respeitar o apetite de risco. “O país tende a se tornar a maior potência do mundo, mas também é muito imprevisível”, disse ele. Além disso, uma alternativa para investir no país e mitigar os riscos é optar por ETFs e fundos que incluam empresas globais. “Assim, há China no portfólio, mas também há Estados Unidos, Europa e mercados mais previsíveis”, concluiu Rodrigo.
Foto Destaque: Investir na China. Reprodução/The Cap