A Recuperação Judicial (RJ) simplifica as possibilidades para um só caminho, que é via o processo de RJ, conseguirem readequar o tamanho da empresa para uma realidade mais enxuta de modo a voltar a ser viável economicamente. A histórica que começou com um Fato Relevante divulgado no dia 12/jan/2023, no qual tinha sido descobertas “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões virou agora uma empresa com um passivo de R$ 43 bilhões a serem “trabalhados e readequados” a um possível futuro operacional. ‘Possível futuro’ é a chave do entendimento desse processo.
Em um processo de RJ, todos saem perdendo, mas em teoria, o resultado é melhor do que a falência da empresa. Por todos, eu específico -- acionistas atuais, detentores de dívida e muitos dos funcionários e fornecedorxes. Talvez quem menos se prejudique são os clientes finais, que poderão continuar a serem servidos pela empresa, no cenário de saída da RJ.
Na RJ, se apresenta aos credores um plano de recuperação que visa, em última análise, recriar uma empresa que tenha um balanço minimamente adequado a operação. Nesse processo de aumentar ativos e cortar passivos, tem-se:
(i) Aumento de ativos -- (i) venda de ativos ou pedaços da empresa (ie falou-se muito no Hortifruti Natural da Terra, entre outros); (ii) injeção de dinheiro (novo capital) tanto pelos investidores referencia (trio da 3G Capital) quanto dos demais
acionistas da AMER3;
(ii) Redução de passivos -- na parte das dívidas, uma mistura de propostas que alteram variáveis importantes como: (i) alongamento do vencimento das dívidas; (ii) redução do tamanho (notional) das dívidas (“haircut”) e até (iii) repactuação de
taxas menores (redução das taxas pactuadas originalmente). Redução de passivos também passa por redução de custos operacionais -- ie fechamento de lojas, demissão de funcionários e redução de outros custos -- como fornecedores. Na
parte de fornecedores, naturalmente haverá pressão para que cedam condições melhores a empresa ou deixem de ser fornecedores. Por fim, se ainda for necessário, há também o mecanismo de transformação de parte da dívida em novas ações.
Em se atuando em todas essas frentes, se se chegar a um plano que os envolvidos todos aceitem (normalmente aqui quem lidera as negociações são os credores), então, parte-se para a execução desse plano. Essa execução pode chegar a levar anos para acontecer e quando terminada, a empresa sai, renovada e repaginada, da RJ, “não devendo mais nada para ninguém” (no sentido de que todas suas obrigações estão em dia e não de que não tem obrigações).
Como ninguém gosta de perder nada, a RJ é um processo que a lei protege a empresa por um tempo para que essa negociação forçada aconteça e se chegue a um resultado final menos pior para o conjunto da sociedade.
O investidor tem que saber que o valor das ações AMER3 tenderão a zero e o valor das dívidas (ie debêntures, bonds e outras) cairão (cuja magnitude ainda é bastante incerta). Como o processo é longo, penoso e ainda não se tem muita visibilidade, pode fazer sentido vender esses ativos.
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